As duas medalhas de bronze para Portugal nos Mundiais de ciclismo de pista de Saint-Quentin-en-Yvelines sobem para 55 os pódios internacionais da disciplina desde 2010, e a seleção nacional quer "mais apoio ao alto rendimento".
Corpo do artigo
O selecionador nacional, Gabriel Mendes, tem liderado o projeto do ciclismo de pista a partir do Centro de Alto Rendimento de Anadia, no Velódromo de Sangalhos, desde o seu início.
Mais de meia centena de pódios internacionais, incluindo todas as cinco medalhas em Mundiais de elite, muitas mais em Europeus, além de Taças do Mundo, outras competições e na formação, levam-no a destacar estes "metais" como "de alto rendimento".
"Às vezes costumo brincar e dizer: se pegarmos no conceito de rendimento, [vemos que] as nossas medalhas são de alto rendimento, porque o rácio entre medalha conquistada e investimento feito...", desabafa.
Como "as condições de trabalho e de apoio são importantes", Gabriel Mendes considera que "as pessoas têm de ter noção" de que há "dificuldades".
"Nesta competição, partimos quatro rodas, um guiador. Temos custos de materiais extremamente elevados. (...) O material, e o rendimento do material, tem uma importância grande no rendimento dos atletas", lembra.
Se o Comité Olímpico de Portugal (COP) tem sido "uma grande ajuda neste processo", com "um esforço ao apoiar bastante o ciclismo de pista", que integra o projeto olímpico, a modalidade, ainda assim, "precisa de mais no apoio de alto rendimento que não passa necessariamente pelo COP".
Depois da pioneira Maria Martins, sétima no omnium em Tóquio 2020, a única participação portuguesa nesta disciplina em Jogos Olímpicos, e já detentora de duas medalhas em Mundiais, a última no mesmo concurso em Saint-Quentin-en-Yvelines, Portugal espera levar um grupo com representantes tanto no feminino como no masculino.
Fora desta elite "há trabalho de retaguarda a fazer", diz o selecionador, para poder apoiar o treino, desenvolvimento e competição de mais atletas, mais jovens, que possam robustecer a aposta do país na disciplina, entre outras "necessidades", a palavra mais frisada a par de "trabalho", em vez de encontrar um escudo nas desculpas.
"É preciso dar formação aos atletas mais jovens, precisamos de bicicletas, de material, de outros meios para enfrentar o desafio que é discutir medalhas, o que temos vindo a fazer, mas com outra robustez que ainda não temos", explica Gabriel Mendes.
Numa disciplina cara, em que uma roda pode custar três mil euros, as necessidades vão do material às condições de pessoal, com Portugal a participar, em França, com apenas um mecânico e sem vídeo analista, por exemplo.
"Somos eficientes e procuramos fazer o melhor que podemos com o que temos, e não ficar a queixarmo-nos de que não fazemos melhor porque não temos mais. Sentimos, de facto, dificuldades em dar uma resposta que permita a todos trabalhar com uma outra capacidade", comenta.
O trabalho demonstrado desde a abertura de Sangalhos, uma infraestrutura que a pista portuguesa não tinha, tanto na federação como no seio da seleção em si, faz com que Gabriel Mendes aponte para a possibilidade de um "apoio diferenciado" por parte do Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ), porque "as necessidades são várias, a vários níveis".
No decurso dos Mundiais em Saint-Quentin-en-Yvelines, que terminaram no domingo precisamente no velódromo que vai receber a modalidade em Paris 2024, os cinco ciclistas convocados nunca fugiam muito do tema do apoio e da ambição de chegar aos próximos Jogos.
O sexto lugar de Rui Oliveira e Ivo Oliveira no madison, prova do programa olímpico, prova, para o primeiro, que estão "prontos para Paris 2024", e Rui lembra o "excelente trabalho" do COP, mas pedindo apoio ao IPDJ para uma disciplina que diz amar.
O mais experiente do grupo, João Matias, de 31 anos, destaca que Portugal tem competido, nos últimos anos, "com as melhores seleções do mundo, com muito mais orçamento e que trabalham diariamente a pista", com outras possibilidades.
"O ciclismo de pista está de parabéns por tudo o que temos feito, e espero que não nos cortem as pernas, que nos continuem a apoiar, que haja um orçamento superior, condições de material, porque a vontade está cá. Este grupo de trabalho, e os mais novos... quem trabalha e está próximo [do grupo] sabe desta ambição e do que somos capazes", atira o ciclista.