A falta de ar pode não ser só cansaço. E o cansaço pode muito bem esconder uma componente alérgica.
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Certo dia, no âmbito de uma competição olímpica, a avaliação de um atleta de topo que se queixava de extremo cansaço no final dos treinos revelou... uma componente alérgica. E o caso, garantem os especialistas, é mais comum do que se possa julgar. Nessa mesma competição, os médicos perceberam que cerca de 10% dos atletas tinham problemas de alergias que precisavam de tratar.
"Muita gente acha que a falta de ar é só cansaço. Mas, muitas vezes, pode simplesmente não saber que tem uma componente alérgica importante", diz José Ramos, especialista em Medicina Desportiva da Clínica de Gondomar. Ora, esta altura da primavera e de profusão de pólenes no ar poderá ser a melhor para analisar, de facto se há algo por detrás da falta de ar. O médico recomenda, a propósito, a consulta de imunoalergologia dedicada ao atleta no Hospital de S. João.
Correr sofrendo de algum tipo de alergia pode transformar qualquer treino numa passagem pelo inferno e o corredor num pequeno monstro de olhos inchados e nariz congestionado, animado por espirros constantes. Mas não, nada disso significa que se deve evitar o exercício ao ar livre. Pelo contrário, garante José Ramos. Com um bom tratamento, melhora a performance, mas, acima de tudo, trata-se a doença e melhora-se a qualidade de vida.
E o tratamento pode até, em certos casos, passar por uma dessensibilização, com vacinas, por exemplo. As tradicionais bombas, no caso da asma, são outro aliado importante, diz o médico, garantindo que basta aplicar antes do exercício e no final. "Todas as alergias são tratáveis e não devem ser impeditivas de fazer exercício", garante José Ramos, lembrando o caso da atleta olímpica Rosa Mota, asmática e ainda detentora do recorde feminino da maratona em Portugal.
Mas há, obviamente, regras a cumprir. E a primeira delas será diagnosticar a fonte alérgica (pode ser pólen, mas também pode ser mofo...) para evitar percursos onde ela exista em abundância. Depois, na primavera e início de verão, evitar os treinos matinais nos dias de vento, dado que os pólenes atingem o seu nível mais elevado em dias secos e ventosos e entre as cinco e as 10 da manhã. Correr depois de uma chuvada pode reduzir os problemas em caso de alergia a pólenes. No caso do mofo, é o contrário, nunca depois de chover e sempre à noite, depois de o sol ter secado parte da humidade.
Além disso, há que cumprir a regra básica de tapar a boca com um lenço (e hoje há-os tão giros!) e a outra de proteger os olhos com óculos. O banho e a lavagem do equipamento imediatamente após o treino (a roupa suada ainda acumula mais alergéneos) são outras dicas comuns, bem como a consulta do boletim polínico semanal da Rede Portuguesa de Aerobiologia da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica. Se tomar um anti-histamínico, escolha um que não seque as vias.