Como Rui Jordão ajudou Portugal a apurar-se para o Euro 1984. Mas não só.
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Jordão, Rui Manuel Trindade Jordão. Por muitas voltas que dêem, é o único a sagrar-se melhor marcador da 1.ª Divisão por Benfica e Sporting. Por muitas voltas que dêem, é o primeiro a marcar dois golos num jogo do Europeu. Por muitas voltas que dêem, é o primeiro a marcar pela seleção no prolongamento. Por muitas voltas que dêem, é o nosso jogador mais felino de sempre. As palavras único, primeiro e sempre invariavelmente se associam à classe distinta de Jordão.
É um fenómeno incomparável, tanto pela superior categoria técnica como pela maneira solitária de estar em campo: um gesto muito comum (e apreciado) é o de rematar à baliza e resignar-se com a falta de pontaria a andar de cabeça baixa como que à procura do brinco do Vítor Baptista. Génio e figura, o Rui. Exímio marcador de penáltis, comete a proeza de só acertar um em quatro ao serviço de Portugal. Qual é o “um”? Aquele à URSS de Lobanovsky, no jogo do tudo ou nada para o Euro-84. O dia sabe-se de cor e salteado, qual tabuada: 13 de Novembro de 1983.
Na Luz, os cartazes de anti-sovietismo primário deambulam nas bancadas ao sabor do vento. Que é forte, aliás. Portugal tem de ganhar, a URSS pode dar-se ao luxo de empatar (em Moscovo, na primeira volta, acaba 5-0 para os “maus”). Perto do intervalo, Chalana sai da esquerda e flecte para o meio antes de iniciar mais uma corrida até à baliza. Antes de entrar na grande área, Borowski trava-o. O árbitro francês Georges Konrath apita penálti. Os soviéticos protestam como nunca, os portugueses afastam-se todos da confusão. Todos? Não, Jordão continua impávido e sereno na marca do penálti, à espera do momento. Na hora da verdade, Jordão parte com calma para a bola e engana Dasaev: bola para um lado, guarda-redes para o outro. Portugal apura-se para o primeiro Europeu da sua história.