O barrilete cósmico de Portugal em 1986 é Futre, Paulo Futre. Eleito o melhor jogador da 1.ª divisão 1985-86, o extremo do F. C. Porto começa o Mundial do México como suplente e só entra vs. Inglaterra aos 73 minutos. A quilómetros e quilómetros de distância, em Moçambique, o treinador benfiquista Toni diz de sua justiça aquando da substituição por Gomes. "Agora é que a música vai começar a tocar". Verdade. Naqueles 17 minutos de bola, o irrequieto Futre sofre um penálti (não assinalado) de Fenwick aos 86" e falha um golo na cara de Shilton aos 87".
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Futre só é titular no terceiro jogo, vs. Marrocos, e nunca mais joga um Mundial. Tudo bem, é campeão europeu pelo F. C. Porto em 1987 e levanta a Taça do Rei pelo Atlético em 1992, aqui como capitão de equipa. Sempre, sempre, sempre a fumar. "Comecei aos 12 anos. Quando era jogador, tinha um calendário. Fumava 12 na terça, dez na quarta, oito na quinta, seis na sexta, quatro no sábado e um no domingo, depois do almoço, antes do jogo. Uma vez, aos 15 anos, o seleccionador nacional José Augusto apanhou-me a fumar e afastou-me do estágio. Aí, o meu irmão, oito anos mais velho que eu, agarrou-me pelo pescoço e levantou-me prá aí um palmo do chão em tom de alerta. Aprendi a lição. E nunca mais me apanharam a fumar".
Na sua gloriosa carreira, cheia de golos-não, jogadas maradonianas em que a bola não entra por mero acaso (só dois exemplos, vs. Bayern em 1987 e vs. Escócia em 1993), Futre convive com quatro presidentes do arco da velha, entre Pinto da Costa, Gil y Gil, Tapie e Berlusconi. De todos, o sentimento bate mais forte pelo espanhol. "Quando estava bem disposto, tratava-me por Paulinho. Quando estava virado do avesso, era "hijo de puta" para aqui e para ali".