Nascido num bairro pobre de Buenos Aires e a dividir uma casa mínima com mais sete irmãos, Chirola só quer ser médico e jogar futebol no Boca Juniors. Nunca cumpre esses sonhos e, em alternativa, faz sonhar todos aqueles que o vêem jogar, que o elogiam constantemente pela capacidade de encaixe e extremo fair-play na hora das duras faltas dos adversários, dentadas incluídas. Um, dois, três, quatro, cinco, seis. O Benfica estica-se no número de jogadores argentinos, mas todos juntos não conseguem marcar tantos golos (nem metade) como Chirola. Mas quem é este Chirola?
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Um, dois, três, quatro, cinco, seis, e golo. Hector Yazalde, ou Chirola, só demora seis minutos a encontrar o caminho da baliza para se estrear a marcar pelo Sporting (4-1 ao Boavista em fevereiro de 1971). Em quatro anos de portugalidade, Yazalde pulveriza recordes, alguns inéditos (primeiro sportinguista e também primeiro argentino a ganhar a Bota de Ouro, como melhor marcador da Europa em 1974), outros imbatíveis (46 golos num só campeonato da 1.ª Divisão).
À medida que os dias passam, o argentino ganha o gosto pelo nosso país, pelo futebol português e também pelo bacalhau. No primeiro almoço ao serviço do Sporting, antes de um jogo do campeonato, rejeita o prato e é o treinador Fernando Vaz quem lhe sugere uma omeleta flambée como alternativa. Daí para a frente, Yazalde aceita o bacalhau desde que acompanhado com vinho tinto Porta dos Cavaleiros.
É a receita do sucesso, polvilhada com nota artística na hora do golo, ao ponto de ser titular pela Argentina no Mundial-74. Festeja duas vezes vs. Haiti (outro 4-1) e toma lá mais um recorde: é o primeiro estrangeiro a marcar em Mundiais por uma equipa portuguesa.