Adversário das águias joga na Polónia, preparou a época longe de casa e recolhe fundos para urgências humanitárias. Liga vai arrancar.
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Que uma equipa da Ucrânia esteja a competir nesta altura chegou a parecer improvável, até impossível, não há muito tempo. Hoje, contudo, esse facto é também uma das bandeiras da retaliação do país aos abusos perpetrados pela Rússia desde o final de fevereiro, numa guerra que ainda não tem fim à vista. Cidades foram destruídas, milhares de vidas eliminadas, despedaçadas e mutiladas nas suas ambições. Mas a Ucrânia aguenta-se, muitas vezes heroicamente, com o futebol a emergir como uma das provas dessa resistência e o Dínamo Kiev a estar na linha da frente.
Quando, a 16 de junho, voltou ao trabalho, quase quatro meses depois do final abrupto e brutal de 2021/22, também o Dínamo Kiev não era o mesmo. O futebol já não era a única preocupação - se calhar, nem a mais importante - e a preparação de 2022/23 explica isso mesmo. A equipa comandada por Mircea Lucescu só esteve quatro dias da pré-época em Kiev, dividindo-se depois entre Roménia, Suíça, onde passou a maior parte do tempo, França e Polónia, onde disputa os jogos internacionais por imposição da UEFA. Atrás dela levou a "Global Tour for Peace" e um manifesto de sensibilização contra a guerra: todo o dinheiro arrecadado em receitas de bilheteira dos jogos particulares e donativos apoiou "questões humanitárias", como "alimentação, medicamentos e apoio a refugiados".
Por outro lado, o conflito bélico limitou a construção do plantel do Dínamo. Dos oito jogadores estrangeiros que começaram a época passada, resta um (o polaco Tomasz Kedziora); contratações nem vê-las até agora e as únicas caras novas são jovens da formação. Ainda assim, a equipa continua a contar com as principais figuras, como o central Zarbaniy, o médio Shaparenko e o avançado Tsygankov.
Estádios antibombas
No dia em que o Dínamo Kiev disputar a segunda mão da eliminatória com o Benfica, o futebol ucraniano estará a dar outro importante sinal de vida. Depois de muita indefinição, o início do campeonato está marcado para a próxima terça-feira, apesar dos constrangimentos e debaixo de fortes medidas de segurança. "É um sinal para o Mundo de que a Ucrânia pode e vai ganhar a guerra", salientou Andriy Pavelko, presidente da federação, à BBC. Numa primeira fase, os jogos não terão público e serão disputados em estádios, de Kiev e Lviv, equipados com sirenes que avisam da iminência de ataques aéreos e abrigos em caso de bombardeamentos. Eis como o futebol dá a cara pela resistência ucraniana.