Em lágrimas, antiga tenista admite que sofre de depressão e tentou o suicídio
A antiga número quatro mundial fez um forte desabafo nas redes sociais. Numa longa publicação com uma fotografia em que está em lágrimas, Jelena Dokic admitiu que sofre de depressão e tentou o suícidio pela segunda vez.
Corpo do artigo
Foi com um longo desabafo nas redes sociais que Jelena Dokic admitiu estar a atravessar um momento negro. A ex-tenista, que chegou a ser a quarta melhor do mundo, admitiu que, no final do mês de abril, tentou pôr termo à vida por "nada fazer sentido".
"28 de abril de 2022. Quase saltei da varanda do meu 26.º andar para tirar a minha própria vida. Nunca esquecerei esse dia. Tudo desfocado. Tudo escuro. Nada faz sentido, apenas lágrimas, tristeza, depressão, ansiedade e dor. Os últimos seis meses têm sido muito difíceis. Tenho chorado constantemente em todo o lado. Desde esconder-me na casa de banho quando estou a trabalhar para limpar as lágrimas para que ninguém veja até ao choro imparável em casa, dentro das minhas quatro paredes. Tem sido insuportável", começou por escrever na rede social Instagram, garantindo, ainda, que pretende ajudar quem está a passar pelo mesmo.
"Culpo-me, acho que não sou digna de amar e estou com medo. Isto não é fácil de escrever, mas sempre fui aberta, sincera e vulnerável. Acredito muito no poder de partilhar as nossas histórias para ajudar as outras pessoas. Escrevo isto porque sei que não sou a única que está a sofrer. Não tenhas vergonha do que estás a sentir. Não faz mal sentires-te assim e podes voltar a senti-lo. É possível, continua a acreditar. Voltarei mais forte que nunca", concluiu.
Uma vida de maus-tratos do pai e treinador
Jelena Dokic tinha apenas 16 anos quando, em 2000, surpreendeu tudo e todos ao vencer Martina Hingis na primeira ronda de Wimbledon. Foi a primeira e única vez que uma tenista saída do "qualifier" conseguiu ultrapassar a número 1 no torneio e, no ano seguinte, Jelena atingiu o melhor ranking de sempre, fixando-se no quarto lugar. Mas a vida da atleta, que nasceu na antiga Jugoslávia, foi tudo menos fácil, como mais tarde contou na autobiografia.
Nascida em Osijek, Jelena mudou-se com a família para Sombor, na altura da guerra, antes de se mudar definitivamente para a Austrália quando tinha 11 anos. Nessa altura, já jogava ténis mas, ao mesmo tempo, sofria maus-tratos do pai e treinador, Damir. Se na escola a vida de Jelena Dokic não era fácil - como era refugiada e sem grandes recursos financeiros, foi vítima de racismo e bullying - em casa também havia dor. Muita dor.
"O meu pai batia-me e muito. Tudo começou basicamente no meu primeiro dia de ténis e continuou a partir daí, numa espiral que saiu fora do controlo. Batia-me com o cinto de cabedal, repetidamente, por uma má sessão de treino, uma derrota num jogo ou apenas por estar de mau humor. Cuspia-me na cara, puxava-me o cabelo e as orelhas, dava-me pontapés nas canelas que me deixavam marcas. E insultava-me, chamava-me nomes como "vadia" ou "prostituta. Uma vez disse-me que era uma desgraça e uma vergonha, que não podia voltar para casa. Não tinha para onde ir e tive de encontrar um sítio para passar a noite'", escreveu na autobiografia intitulada "Unbreakable".
E em 2000, foi o ano em que a violência teve o episódio mais dramático: "Bateu-me e desmaiei. Levei um golpe na cabeça, caí e enquanto estava no chão foi-me dando pontapés. Num deles, que passou perto da minha orelha, a minha visão desapareceu". Os maus-tratos do progenitor, que chegou a ser suspenso de torneios por mau comportamento, preso e que vincou que a violência com a filha foi "para o bem dela" e para "a ajudar a tornar-se na pessoa certa", duraram até aos 19 anos de Jelena, que foi quando decidiu sair de casa e cortar relações com o pai. Terminada a carreira de atleta, a australiana tornou-se comentadora desportiva.