Embora lamente ausência de consagração na Vuelta, pódio "humilde" encantou Almeida
João Almeida gostava de repetir o "humilde" pódio da Volta a Espanha, lamentando, contudo, que a organização não se tenha preocupado em montar uma cerimónia oficial e que os manifestantes pró-Palestina tenham comprometido a segurança dos ciclistas.
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Após igualar o melhor resultado de um português numa grande Volta, ao ser segundo na Vuelta2025, atrás do dinamarquês Jonas Vingegaard (Visma-Lease a Bike), o ciclista da UAE Emirates viu-se privado da merecida festa de consagração, uma vez que milhares de manifestantes pró-Palestina invadiram o circuito final da 21.ª e última etapa e "travaram" o pelotão a 56 quilómetros da meta, em protesto contra a presença da equipa Israel-Premier Tech.
"É estranho. Faltou espetáculo para os fãs, aquele ambiente de cerimónia também, aquela interação com os fãs. Nem sequer chegámos ao circuito, o pelotão foi abalroado pelo protesto, alguns [ciclistas] caíram. E, depois, tivemos de cancelar um bocadinho mais à frente tudo e regressar nos carros, porque era impossível ir seguro de bicicleta até aos autocarros ou até à meta", descreveu, em entrevista à agência Lusa.
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Com o caos instalado no coração da capital espanhola, as equipas tiveram "de optar por estradas secundárias e ir diretamente ao hotel", no pior desfecho para uma 80.ª edição irremediavelmente influenciada pelas manifestações pró-Palestina, que levaram à anulação de uma outra etapa e ao encurtamento de outras duas.
"Não é algo que faça muito sentido. Obviamente que eu e os outros atletas não concordamos, mas tivemos de nos adaptar à realidade. Houve dias em que não conseguimos terminar a etapa onde era suposto e tivemos de adaptar o nosso plano, mas acho que fizemos o melhor que podíamos", recordou.
Almeida acredita que "alguma coisa podia ter sido feita diferente" por parte da organização, para que os ciclistas pudessem continuar com "normalidade" a corrida, que arrancou em 23 de agosto, em Turim (Itália), e terminou abruptamente no passado domingo, em Madrid.
O melhor voltista nacional da atualidade admite que a redução dos quilómetros de contrarrelógio, devido a motivos de segurança, o prejudicaram, mas concedeu que provavelmente não iria mudar o resultado final. "Mas nunca vamos saber", pontuou.
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O luso de 27 anos confirmou que os manifestantes colocaram pregos na estrada para os ciclistas furarem, mas negou que tenham atirado urina ao pelotão, ao contrário do que outros colegas contaram.
"Chegaram a entrar dentro do pelotão do nada, metiam a nossa segurança em risco. Não acho que seja a forma correta de promover a paz numa parte do mundo destruindo noutra", defendeu.
Os distúrbios em Madrid privaram Almeida de celebrar diante de adeptos e família o seu segundo lugar na Vuelta, na qual igualou o melhor resultado de sempre de um português em grandes Voltas, 51 anos depois de Joaquim Agostinho também ter sido "vice" na prova espanhola.
"Nem sequer houve a preocupação [por parte da organização] de tentar fazer um pódio, quem fez o pódio foram as equipas, que tiveram essa ideia. E acho que foi uma ideia excelente. Pessoalmente, gostei bastante do pódio. Foi um pódio assim mais simples, mais humilde, teve um significado mais "caseiro". Foi engraçado, gostei", disse de sorriso no rosto.
No domingo, membros do "staff" das equipas Visma-Lease a Bike, UAE Emirates, Lidl-Trek e Q36.5 improvisaram, com umas arcas frigoríficas, uns degraus de pódio, colocaram um cartaz da Vuelta como pano de fundo e celebraram as conquistas dos seus corredores no parque de estacionamento de uma unidade hoteleira em Madrid.
"Parecia uma brincadeira, que estávamos ali quase a atuar. Foi super divertido, acho que podíamos repetir", brincou o português.
Almeida revelou que, inicialmente, ele e os companheiros pensavam que "era um pódio mais simples, mas formal".
"O que conta é as nossas memórias, o que sentimos. Depois, o resto é um bocadinho mediático", salientou.