Sucesso no play-off intensificará a luz da serenidade, sustentada nos recentes resultados, e até pode dar "imunidade" eleitoral a Rui Costa. Eventual desaire permite abrir caminho a um clima de pré-campanha.
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O Benfica de Jorge Jesus inicia esta quarta-feira, às 20 horas, na Luz, uma das batalhas mais importantes da história contemporânea do Benfica no jogo com o PSV, que começa a decidir um lugar na fase de grupos da maior prova de clubes do Mundo. O técnico tem em mãos um duelo com repercussões que extravasam amplamente, a todos os níveis, o âmbito do futebol.
O treinador está forçado a redimir-se e a recuperar a moral e estado de graça perdidos após uma época atípica (covid-19 e ausência de adeptos), desastrosa do ponto de vista desportivo e financeiro. Qualquer passo em falso - seria a segunda eliminação seguida da fase de grupos da Champions - pode indiciar o princípio do fim, mesmo que a prazo, do técnico, já no último ano de contrato.
Mais do que a vertente financeira, indispensável e acentuada pelo atual contexto pandémico - cerca de 37 milhões de euros garantidos em caso de avançar -, Jorge Jesus luta por um triunfo que assegura a luz da tranquilidade desportiva e diretiva, tenuemente sustentadas pelo ciclo inicial de quatro vitórias.
O triunfo e a perspetiva de apuramento, que se desejam, só podem ser carimbadas em Eindhoven, dentro de uma semana, e ajudam a manter o atual estado de espírito, além de suster as vozes da contestação à liderança de Rui Costa.
O desaire, tudo indica, voltará a espalhar as sementes da discórdia e a antecipação da pré-campanha eleitoral.
Rui Costa, à semelhança de Jorge Jesus, é, à partida, a figura que mais terá a ganhar ou a perder de acordo com o desfecho da eliminatória. Não entra em campo, nem decide as orientações táticas, mas ampliará, em caso de qualificação, o período de serenidade desejado para se manter na liderança. E recebe uma espécie de imunidade, ou salvo-conduto, para a futura corrida eleitoral, ainda não assumida.
É neste contexto de uma luta pelos milhões da tranquilidade que as águias entram no campo de batalha. Talvez nunca um jogo, ou eliminatória, da equipa principal tenha tido tanta influência no destino do clube, a curto e médio prazos.
Entrevista: Álvaro Magalhães, treinador e antigo jogador
Preferia jogar em 4x4x2
Que memórias guarda da final da Taça dos Campeões de 1988, com o PSV?
Tínhamos um coletivo muito forte e um setor defensivo do melhor que existia no plano internacional. Só sofremos um golo na prova contra o Anderlecht e de bola parada. Houve uma ausência, influente, Diamantino, e jogámos num estádio com mais portugueses. Dia memorável e só foi pena perder nas penalidades.
As equipas eram mais fortes do que as de hoje?
Não devemos comparar. Primeiro até havia mais portugueses que conheciam a mística do clube e o PSV era uma equipa de enorme qualidade. Éramos diferentes, não sei se melhores.
Vê algum favorito no jogo de hoje?
Não. São duas grandes equipas numa eliminatória muito difícil. Creio que existe 50% de possibilidades para cada lado.
Se pudesse decidir, qual seria o sistema preferido (3x4x3 ou 4x4x2) para travar o PSV?
Já no meu tempo, com Mortimore e Eriksson, jogávamos com três defesas, neste caso com um central e dois laterais. Pelas características dos jogadores do Benfica, preferia jogar mais com dois e não três centrais. Tenho mais elementos no meio-campo e no ataque. A equipa pode utilizar vários sistemas, mas eu escolheria o 4x4X2. Mas é o técnico do Benfica que decide.