O regresso do público aos estádios, tão ansiado após mais de um ano de proibição devido à pandemia de covid-19, está a ter números consideravelmente mais baixos, tendo como ponto comparativo 2019/20, época em que foi possível seguir os jogos até à 24.ª jornada, altura em que a prova foi suspensa.
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Os números não deixam margem para dúvidas: na primeira volta de 2021/22, assistiram aos 153 jogos disputados 775 804 pessoas, menos 951 250 do que na primeira metade da Liga de 2019/20, que teve, então, o total de 1 727 054 espectadores, no mesmo número de encontros.
Seja qual for o ângulo de abordagem, as perdas são generalizadas, com a média de assistência por jogo a baixar de 11 287 para 5070 pessoas, o que resulta numa descida de 55%.
O Benfica, que era e é aquele que tem mais público, sofreu uma redução superior a 50%, enquanto os restantes grandes têm também quedas acentuadas: o F. C. Porto baixou 32,2% e o Sporting 28,2%. Os três clubes, juntos, perderam 43,3% da assistência total, tendo seguido os respetivos jogos em "casa" menos 411 mil pessoas, isto em relação com o que se passava há dois anos.
O Boavista, que no total teve quase menos 80 mil pessoas no Bessa, desceu 76,1% e é o clube que tem a maior quebra percentual, seguido pelo Marítimo (68,1%) e pelo Belenenses SAD (68%). Já o Vitória de Guimarães, que era e é o quarto com as maiores assistências, viu "fugir" quase 78 mil pessoas, recuando 49%, enquanto o Sporting de Braga, quinto do ranking, baixou 33%, à volta de 25 mil pessoas. Em termos de percentagens, dos 15 clubes que se podem comparar, o Paços de Ferreira foi o que desceu menos (15,1%), com redução de 3200 pessoas.
De notar que Estoril, Vizela e Arouca, equipas que subiram nesta época à Liga, não estavam no escalão principal em 2019/20, enquanto Vitória de Setúbal, Rio Ave e Aves, que estavam entre os grandes, entretanto desceram.
Benfica com melhores casas
O dérbi Benfica-Sporting (1-3), na 13.ª jornada, que foi o jogo com maior assistência na primeira volta da Liga 2021/22 (48 790 adeptos na Luz), ocuparia a nona posição do ranking se fosse colocado entre os números de 2019/20. Na altura, a maior casa foi o Benfica-Paços de Ferreira (5-0), com 62 956 pessoas, seguido pelo clássico Benfica-F.C. Porto (0-2), com 62 mil adeptos e do Benfica-Gil Vicente (2-0), que teve 54 706 pessoas.
Na atual temporada, depois do Benfica-Sporting, o jogo com maior afluência foi o F.C. Porto-Benfica (3-1), com 46 250 pessoas, enquanto o Benfica-Braga (6-1), fechou o pódio, com 40 577 adeptos. Boas casas, mas nenhuma com enchente.
Ao contrário do que sucedia há dois anos, nesta época tem havido limitações de vária ordem, desde a exigência de certificação de vacinação à realização de testes. Isto além da implementação do cartão do adepto, medida entretanto retirada e que durante quase toda a primeira volta deixou certos setores das bancadas quase sem público.
O jogo com menos público, na primeira volta da atual Liga foi o Moreirense-Estoril, na 16.ª jornada, que contou com 311 adeptos. A partida foi disputada a 28 de dezembro passado, tendo a equipa minhota ganhado por 1-0.
Cofres vazios ditam acumular de prejuízos
É inevitável! Estádios sem público, durante mais de um ano, causaram grandes danos às sociedades desportivas que, na gestão diária, continuaram a ter quase as mesmas despesas, nomeadamente fiscais e salariais, sem contar com as receitas de bilhética.
Além da não entrada de verbas da venda de bilhetes de jogo, houve perdas de comercialização de lugares anuais, pacotes corporate e merchandising associado.
A própria Liga, em setembro do ano passado, pela voz do presidente Pedro Proença, revelou que os clubes acumularam "mais de 200 milhões de euros negativos", só em 2020/21.
Numa ronda feita pelo JN pelos principais emblemas nacionais, os sinais de perda são constantes. O F. C. Porto, que foi dos clubes que mais contestaram a realização constante de jogos à porta fechada, diz ter perdido 1,4 milhões de euros, com o saldo negativo de 90 mil espectadores, em comparação com a primeira volta de 2019/20. Em 2021, o presidente Pinto da Costa, ao criticar a continuidade das portas fechadas nos estádios, revelou que a SAD perdeu, globalmente, num ano, 27 milhões de euros com a pandemia.
O Sporting prefere não falar em valores, alegando "diversas variáveis" para fazer o cálculo certo. Mas os campeões nacionais acreditam que poderiam estar a ter o melhor ano de sempre de receitas, com assistências recordes em todos os jogos. O clube de Alvalade lembra ainda a fraca adesão ao "cartão do adepto", considerando-o "mais um fator impeditivo".
No Braga, a quebra de receitas de bilheteira, nesta época, ascende a 150 mil euros. Ao montante, os arsenalistas juntam as perdas suportadas em 2020/21, mais as despesas com a realização de inúmeros testes à covid-19, concluindo ter sofrido um prejuízo global de três milhões de euros.
Igualmente contactados pelo JN, Benfica e Vitória de Guimarães não responderam em tempo útil às nossas solicitações. Mas, em termos de bilhética, Domingos Soares Oliveira, administrador executivo da SAD das águias, chegou a admitir que a Luz fechada implicava um prejuízo de um milhão de euros e o ex-presidente Luís Filipe Vieira, em junho de 2020, apontou que o Benfica, até então, tinha perdido 20 a 25 milhões de euros com a pandemia.
No Vitória de Guimarães, em setembro passado, a SAD disse que, em termos de resultados operacionais, teve um prejuízo de sete milhões de euros, relacionado com a pandemia (patrocinadores e bilhética).