Número de atletas federados quadriplicou em 25 anos para ser a modalidade de pavilhão com mais praticantes. Amanhã joga-se a final do Mundial
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Os feitos da seleção portuguesa no Campeonato do Mundo, sublinhados com a histórica presença na final de amanhã frente à Argentina, têm empolgado todo o país e servido de mola para a afirmação e implantação que a modalidade tem em Portugal, onde já é o desporto de pavilhão com maior número de praticantes.
Os atletas federados registam um crescimento sem precedentes no desporto nacional, passando de 6 490 na temporada de 1996/97 para uns impressionantes 36 490 em 2019/20, a última época, antes do impacto da pandemia. Para isso, o trabalho de promoção, desenvolvimento e coordenação que a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) tem aplicado na modalidade surge como critério chave na crescente popularidade deste desporto, e com um reflexo claro na evolução dos resultados da seleção portuguesa, que desde 2000, quando conseguiu o inédito terceiro lugar no Mundial da Guatemala, tem inspirado inúmeras gerações de jovens a abraçar a modalidade.
O mais acentuado reflexo disso mesmo aconteceu em 2018, quando após Portugal ter conseguido o histórico título de campeão europeu de futsal - derrotou a Espanha na final do torneio disputado na Eslovénia - o número de novos inscritos na modalidade cresceu 20% na época seguinte, alavancado pelas prestações de ídolos como Ricardinho, Pedro Cary, João Matos ou Bruno Coelho.
Pedro Dias, atual diretor da FPF para o futsal, lembrou ao JN que o caminho de afirmação da modalidade começou a ser trilhado em 1997, quando o organismo assumiu a fusão do futebol de salão, futebol de cinco e do futsal, que até então eram tutelados por instituições diferentes, e organizou tudo sobre a denominação de futsal, ratificada pela UEFA e pela FIFA.
"O número de praticantes foi crescendo e, em 2011, quando já eram 24 mil, Fernando Gomes assumiu a presidência da FPF e logo na tomada de posse afirmou que um dos objetivos do seu mandato era que o futsal devia ser no nosso país a modalidade de pavilhão mais praticada", recordou o dirigente.
O diretor lembrou que esse trabalho de desenvolvimento e formação foi articulado com as associações, clubes, atletas, dirigentes e parceiros da comunicação, num trajeto que atingiu número impressionantes. "Aumentámos as competições em 240%, havendo agora 22 provas nacionais, com seniores e formação, em masculino e feminino. Também o número de seleções cresceu para nove. E foram organizados 130 cursos de treinadores de futsal, para que a intervenção técnica fosse qualificada na formação dos jovens praticantes", notou Pedro Dias.
Apesar de todos estes progressos, que são os alicerces para que o atual sucesso da seleção sénior tenha continuidade, Pedro Dias não hesita em afirmar que "ainda há margem para crescer", nomeadamente na vertente feminina. "Temos 36 mil praticantes federados, mas há registos que apontam para 86 mil pessoas a praticar futsal em Portugal. No segmento feminino a percentagem é baixa, está longe daquilo que é a média das federações de desporto coletivos, e estamos empenhados em fazer crescer", partilhou o diretor da modalidade da FPF, reconhecendo que a prestação de excelência da seleção portuguesa, que persegue amanhã, às 18 horas, o título mundial, na histórica final frente à Argentina, pode dar um impulso a essa ambição a breve prazo.
Bruno Coelho: "Será o jogo das nossas vidas e não podemos deixar nada por fazer"
Aos 34 anos, Bruno Coelho apontou um dos mais importantes golos da sua carreira, quando no prolongamento da meia-final frente ao Cazaquistão teve um remate que resgatou a igualdade para seleção das quinas, precipitando as decisões para as grandes penalidades. Em entrevista ao JN, o ala fala da persistência e da resiliência como os grandes trunfos do grupo e acredita que, seguindo esses princípios, o sonho da conquista do título mundial poderá acontecer já amanhã no duelo final frente à Argentina.
Fez alguma promessa para a final ou para ser campeão do Mundo?
Não fiz promessas para a final. Acredito muito que que quem tiver de resolver o jogo vai fazê-lo. Se formos competentes, e fizermos o nosso trabalho, sinto que a estrela da sorte vai estar do nosso lado. Mas temos de estar muito focados para vencer a Argentina, que pelo segundo Mundial consecutivo está na final. É uma equipa que fez um campeonato excelente e tem muitos pontos fortes.
A fase do mata-mata tem sido muito emocionante, com jogos de incerteza até ao fim. Neste jogo com Argentina há favoritos?
Acho que será uma final de 50/50. É um jogo de 40 minutos que pode ter prolongamento e penáltis, e onde tudo pode acontecer. É verdade que esta fase do mata-mata tem sido emocionante, mas também muito duro. Só com superação e sacrifício temos passado a esta fase. Esta final será o jogo das nossas vidas e não podemos deixar nada por fazer.
Onde é que a equipa foi buscar força anímica para a recuperação que fez no jogo com o Cazaquistão?
Somos uma equipa feita de resiliência a persistência. Não é qualquer contrariedade que nos deita a baixo. Acreditamos até ao fim, fomos buscar forças onde já não havia. Tivemos jogadores no banco, durante todo o prolongamento a dizer que ia dar para nós. E no fim foi mesmo assim. Estamos muito contentes por ter passado à final. Fizemos história e queremos continuar a fazer.
No jogo com a Espanha, dos quartos de final, ficou célebre a frase do selecionador Jorge Braz "há 20 anos que ando a dizer que somos melhores que eles". Que importância teve esse momento?
Acho que é mais pela forma como trabalharmos que ele disse isso e nos diz várias vezes. O futsal português tem muita qualidade e isso tem sido comprovado pelas prestações da seleção, dos clubes nas competições europeias e pelos nossos jogadores que jogam em diferentes ligas na Europa. Ele [Jorge Braz] sabe o grupo de atletas e de homens que tem e que nada é por acaso. Temos demonstrado nos últimos anos que o trabalho feito dá frutos. Este Mundial prova que ele não está errado e que acreditamos muito nas nossas capacidades.