É a posição mais específica e ingrata do futebol. A única, dentro do relvado, em que um erro tem sempre mais peso do que um sem número de intervenções eficazes.
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Ser guarda-redes não é para todos e o certo é que a grande maioria dos clubes portugueses continua a apostar em estrangeiros para as balizas. A opção, segundo os treinadores Quim e Rui Barbosa, justifica-se com a necessidade do "sucesso imediato", embora não haja motivo de alarme. Qualidade é algo que não falta aos guarda-redes portugueses e a baliza da seleção está garantida por muitos e bons anos.
Das 18 equipas que disputam o campeonato português, apenas seis têm, regularmente, um português a titular entre os postes, numa percentagem (33%) que é a segunda mais baixa entre as seis principais ligas europeias. Apenas a Premier League aposta ainda menos na prata da casa (25%).
Rui Barbosa, que fez parte das equipas técnicas de Nuno Espírito Santo no Wolverhampton e Tottenham, entre outros clubes, explica facilmente a razão. "Os clubes ingleses contratam muitos guarda-redes estrangeiros com 14, 15 e 16 anos para a formação. Isso, depois, tem reflexo no que acontece na Premier League, além, claro, do poderio económico que permite contratar guarda-redes de topo", diz, ao JN.
Em Portugal, o cenário é diferente - no que diz respeito à facilidade em contratar -, mas o resultado é o mesmo. "Trabalha-se cada vez melhor e temos muitos guarda-redes de qualidade", faz questão de referir o antigo internacional Quim, atualmente técnico de guarda-redes do Tirsense, antes de explicar a razão de haver tão poucos portugueses a titular.
"Na dúvida, aposta-se no estrangeiro. É preciso muita coragem para pôr um jovem português na equipa e muitos treinadores preferem defender-se e ficar a salvo de críticas", acrescenta o antigo guardião de Aves, Braga e Benfica, enquanto Rui Barbosa vai mais longe. "Tem a ver com a necessidade imediata do sucesso. Para alguns, é mais seguro ir buscar alguém com alguns anos de experiência, mesmo que seja em campeonatos mais periféricos, do que lançar um jovem e ficar à mercê dos adeptos", diz o técnico.
Mesmo que os números digam o contrário, não há qualquer razão para os jovens portugueses desanimarem. "Compreendo que haja alguma apreensão, agora desânimo não. Até porque, agora, podem ganhar experiência nas equipas B e nos sub-23", lembra Rui Barbosa, enquanto Quim opta por um exemplo bem atual: "Com trabalho tudo se consegue. Basta olhar para o F. C. Porto. Alguém imaginaria que o Diogo seria titular esta época? O Sérgio não teve medo em tirar alguém com a experiência do Marchesín. E, assim, a seleção nacional fica segura". "Por muitos e bons anos", conclui Rui Barbosa.
Os guardiães portugueses na Liga
Diogo Costa, F. C. Porto
Marchesín começou a época mais tarde, lesionou-se e Diogo Costa agarrou a oportunidade com as duas mãos. Foi titular em todos os jogos do campeonato e da Liga dos Campeões, o que já lhe valeu, aos 22 anos, a estreia na seleção nacional.
Bruno Varela, V. Guimarães
A cumprir a segunda época na Cidade Berço, após toda uma carreira ao serviço do Benfica - com empréstimos a Valladolid e Ajax pelo meio -, Bruno Varela foi a escolha de Pepa para a baliza em 15 dos 24 jogos. O checo Trmal e o português Biai são os rivais.
André Ferreira, Paços de Ferreira
Aos 25 anos, o guarda-redes natural de Vila Nova de Gaia foi a escolha em 23 dos 27 jogos disputados pelos castores em 2021/22. No entanto, André Ferreira testou positivo à covid-19 e acabou por falhar o duelo de ontem entre os pacenses e o Boavista.
Marco Pereira, Santa Clara
O clube açoriano é caso único no futebol português. Os três guarda-redes do plantel são todos portugueses, com Marco Pereira a levar vantagem sobre a concorrência. Fez 21 jogos, contra os nove de Ricardo Fernandes. Rodolfo Cardoso ainda não se estreou.
Pedro Trigueira, Tondela
Na Beira Alta, a disputa pela titularidade na baliza da equipa de Pako Ayestarán está a ser dura. Pedro Trigueira leva, para já, vantagem, tendo alinhado em 14 partidas, contra os 11 jogos já disputados pelo senegalês Babacar Niasse.
Pedro Silva, Vizela
É o exemplo perfeito de como a oportunidade pode surgir quando se trabalha para isso. Depois de o brasileiro Charles ter sido a primeira aposta de Álvaro Pacheco, Pedro Silva ganhou a posição e foi titular nos últimos seis jogos da equipa minhota.
Emigrantes
Quinteto brilha na Europa
São cinco os guarda-redes portugueses a brilhar em quatro das cinco principais ligas europeias - a exceção é a Alemanha. Dono e senhor da baliza da seleção nacional, Rui Patrício chegou esta época à Roma e tem a confiança total de José Mourinho, já que foi titular em 30 dos 31 jogos oficiais. Para o lugar de Patrício, o Wolverhampton contratou José Sá ao Olympiacos e Bruno Lage não tem tido razões de queixa do guarda-redes, sempre titular na Premier League.
Em França, Anthony Lopes continua a ser o dono e senhor da baliza do Lyon - o único clube que representou na carreira -, tendo alinhado em 24 dos 26 jogos dos gauleses em 2021/22.
A liga espanhola tem dois "keepers" lusos. Depois de brilhar no Granada, Rui Silva chegou esta época ao Bétis, onde já soma 18 partidas. Tapado por Adán no Sporting, Luís Maximiano ocupou a vaga de Rui Silva no Granada e o impacto foi imediato: o jovem foi titular em 18 dos 21 encontros na La Liga.