João Rafael Koehler, adepto do F. C. Porto desde o berço e parceiro da atual Direção, deixa alerta. Deseja mais receitas e acredita na conquista da Liga dos Campeões.
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Marca a agenda, inclusive as férias, em função do calendário do F. C. Porto. Por influência do avô materno e uma família 100% azul e branca, João Rafael Koehler abraçou, desde o primeiro dia, a luta do Dragão e de um centralismo que "continua a existir", diz, em entrevista ao JN. O advogado, de 48 anos, que se tornou num dos maiores empresários da nova geração, com investimentos desde o setor tradicional (indústria) à tecnologia, garante que está sempre disponível para intervir no futuro da nação portista, mas que "nunca faria uma lista contra o presidente Pinto da Costa".
O seu avô dava-lhe uma semanada sempre que o F. C. Porto ganhava ao Benfica?
[Sorriso] Verdade, cresci com isso, com essa ideia de antibenfiquismo. Reconheço que é um bocado irracional, mas estávamos naquela transição em que o F. C. Porto começou, finalmente, a ganhar. Foram os primeiros grandes anos do presidente Pinto da Costa.
O único presidente de que deve ter memórias.
Sim, claro. Há uma geração inteira que só tem Pinto da Costa como referência. O F. C. Porto identifica-se muito com a cidade, aliás tem o mesmo nome, e com o presidente.
O universo portista está preparado para a sucessão de Pinto da Costa?
Creio que não. Racionalmente, o clube existe há mais de 100 anos e teve outros dirigentes, mas vai ser muito duro quando Pinto da Costa decidir sair. Mais do que as pessoas pensam.
Foi candidato a candidato nas últimas eleições e fez algumas críticas. Foi desconfortável?
Foi, até porque sou amigo do presidente, mas considero que nas eleições as pessoas devem dizer tudo o que pensam. Ser portista não é só dizer que está tudo bem. Na altura, fiz algumas observações à gestão financeira e percebi que era evidente, por exemplo, que o F. C. Porto teria de vender o Luis Díaz. Foi um ato de gestão.
Calculo que, como empresário, entenda essa decisão.
Sem dúvida, o Díaz tinha de sair. Agora, como adepto, convivo mal com isso. Aconteceu o mesmo com o Deco, em 2004. A verdade é que um clube tem de ser gerido como uma empresa e, portanto, há que descobrir soluções se as receitas ordinárias não chegam.
Como parceiro da Direção e homem de negócios, consegue projetar a próxima venda?
O F. C. Porto tem ativos valiosos. O guarda-redes [Diogo Costa], Vitinha, Fábio Vieira e o Otávio nem tanto porque já têm uma massa salarial alta. Agora, em relação a esta gestão e venda dos clubes tenho uma visão bem definida.
Abra o livro então.
Isto não é contra ninguém e tenho a noção que estou a falar num momento em que o F. C. Porto está na mó de cima e vai ser campeão. O mais importante será sempre o futebol, porque é o que os sócios mais gostam. Todas as outras modalidades são para manter, mas têm de ser autossustentáveis. E para acompanhar a mudança, o F. C. Porto tem de agarrar o futsal.
E é preciso cortar despesas?
Não concordo com orçamentos mais curtos, estou a falar de plantéis e equipa técnica. Pode ser surpresa, mas não defendo isso. Acho que se pode poupar noutras coisas.
Quais?
Pode-se gerir melhor o Porto Canal, não temos de ter um canal de televisão para fazer críticas ao Governo, poupava-se entre cinco a seis milhões. Não podemos pagar tantos juros a fundos de investimento e bancos, e é preciso ter muito controlo sobre o que se paga a órgãos de gestão. Se não houver resultados desportivos e financeiros, não recebem prémios.
O F. C. Porto pode aumentar receitas?
Claro, o futebol continua a estar muito subavaliado. O F. C. Porto deve estar no top-15 das equipas mundiais. Acho perfeitamente possível que consiga mais 50 milhões de receitas todos os anos. E não tem de encontrar alguém para o naming do estádio, tem é de ser suficientemente atrativo para que alguém queira ter o naming.
A banca digital é um caminho?
Sem dúvida. A comunidade F. C. Porto, sócios, adeptos, redes sociais e claque valem mais que 200 milhões. Isso tem de ser valorizado. Explorar a banca digital é um caminho. O F. C. Porto tem de criar condições para voltar a ser campeão europeu. Tenho a certeza que isso vai voltar a acontecer, pode escrever.
Há necessidade de vender ações da SAD a capital estrangeiro?
Não. Em relação a isso até faço uma crítica, pois o clube não deveria permitir que se alimentasse o tema quando surge algum rumor. O clube não está à venda.
Já transmitiu essa posição ao presidente Pinto da Costa?
Sim, falámos muitas vezes, e o presidente partilha essa ideia.
Porque é que o F. C. Porto não tem o apoio da Banca nacional, mas tem negócios com bancos alemães?
É curioso e pertinente, até porque recentemente o Sporting foi incumpridor num negócio com um banco privado português. É ridículo que a Banca portuguesa não apoie o maior setor onde os portugueses são fortes que é o futebol.
Um dia gostava de liderar o F. C. Porto com esse plano que explicou?
[Pausa]. Todos aqueles que querem muito uma coisa, que se posicionam e organizam para ser presidentes, não o devem ser. É como pertencer ao Governo, tem de ser algo por mérito próprio.