Joaquim Silva conseguiu o maior êxito da carreira na prova do Jornal de Notícias, feito que dedica ao diretor-Desportivo Pedro Silva, falecido recentemente.
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Aos 29 anos, e ao serviço da equipa Tavfer/Measindot/Mortágua, Joaquim Silva voltou a saborear um êxito na carreira, depois de já ter sido considerado um dos mais promissores ciclistas nacionais. O triunfo categórico na histórica 30.ª edição do Grande Prémio JN, onde vestiu camisola amarela na primeira etapa para não mais a tirar, recuperou-lhe a paixão pela modalidade e reavivou-lhe os sonhos de uma carreira pautada por altos e baixos, mas em que a família e o falecido diretor Pedro Silva nunca duvidaram da sua qualidade.
Já assimilou que é o vencedor do 30.º Grande Prémio JN?
Acho que ainda vai demorar dois ou três dias [risos]. Há muitos anos que não vencia uma corrida, e triunfar logo nesta, que é uma das principais do nosso calendário, e de uma forma tão suada desde o primeiro dia, vai ser uma recordação para toda a vida.
Este é o maior êxito da sua carreira como ciclista?
Sinto que sim. Em 2014 fui campeão nacional de sub-23 e fiz oitavo lugar na Volta a França do futuro, o que foram, até aqui, os meus maiores sucessos. Mas vencer este Grande Prémio JN é algo único.
Quando venceu na primeira etapa desta prova já estava a pensar na camisola amarela?
Nessa altura só pensei na vitória da etapa. Mas como me permitiu assumir a liderança, passou a ser um objetivo manter a camisola amarela no dia à dia. Só quando tive o bom resultado na cronoescalada [5.º lugar] e vi que a equipa estava a responder bem, comecei a pensar em algo mais.
Ainda assim, foram sempre etapas muito atacadas pelos seus rivais?
Desde que assumimos a liderança, foi incrível a forma como os adversários nos atacaram. Às vezes tentávamos meter um ritmo mais confortável, mas voltavam logo a endurecer a corrida, com todos os líderes das outras equipas a tentar fazer a diferença.
A confiança que depositou na equipa para o ajudar foi fundamental?
Sem dúvida, e não foi apenas nesta corrida. Em várias competições durante o ano estivemos a disputar lugares no top-10, ou etapas, ou classificações. Neste Grande Prémio JN estivemos perfeitos taticamente e só tenho de ficar orgulhoso e grato pelo que fizeram por mim.
Ganhar numa equipa com menos argumentos do que outras é mais saboroso?
Muito mais saboroso. Já estive em equipas muito boas, que ganhavam muito, e essas vitórias também foram saborosas, mas ganhar numa equipa "menor", em que ninguém nos apontava como favoritos, torna tudo mais especial.
E foi uma vitória com um dedo especial do vosso saudoso diretor desportivo Pedro Silva?
Acredito que sim. Uma semana antes dele falecer, quando já sabíamos que estava muito doente, ele ligou-me, preocupado comigo, e até pareceu que estava tudo normal. Era uma pessoa exemplar, um homem cuja garra e determinação muita gente devia seguir, e que levou esta equipa ao escalão profissional.
Sente que ele foi fundamental na sua carreira?
Era um grande formador de homens e ciclistas. Foi com ele, quando era sub-23, que tive os meus primeiros êxitos. E em 2020, quando me convidou para regressar à equipa, depois de ter passado momentos difíceis, tive de dizer que sim, porque sempre me ajudou e confiou em mim. Era um lutador por natureza e partimos para este Grande Prémio JN com a enorme vontade de lhe dar, pelo menos, uma etapa. Dar-lhe esse êxito, e ainda a camisola amarela, certamente o deixará muito orgulhoso, esteja onde estiver.
Falou de tempos difíceis, o que aconteceu?
Depois dos êxitos que tive em 2014 fiquei com ideia que podia ir para uma equipa estrangeira e disputar grandes competições. Acabei por ir para a W52/F.C. Porto, onde trabalhei muito para os líderes e consegui bons resultados. Em 2019 estive na Caja Rural [de Espanha], mas aí as coisas não me correram nada bem. Descobri que tinha um problema no estômago, devido a uma bactéria, que me causava gastroenterites, cada vez mais frequentes. Com a ajuda médica, consegui identificar o problema e estabilizá-lo. Desde janeiro deste ano que não tenho sintomas e estou a reviver os meus melhores tempos.
E a partir de agora, quais são os seus objetivos?
Esta vitória veio dar-me uma motivação extra. Vamos ver em que equipa estarei no próximo ano e que provas farei. Certo é que me sinto com mais confiança.
Ainda tem o sonho de correr numa equipa estrangeira?
Ainda penso nisso, mas sei que com o passar dos anos se torna cada vez mais difícil. Se estiver numa equipa em Portugal que me abre portas para fazer corridas no estrangeiro, já seria muito motivador. Não gosto de estagnar, nem de fazer sempre as mesmas competições.
E no imediato, o que lhe apetece fazer?
Descansar uns bons dias e tirar uma folga da bicicleta [risos]. Este Grande Prémio JN foi mesmo duro. Ainda vou treinar para o Campeonato Nacional de Rampa, mas depois faço uma descompressão de três semanas, para estar com a família e sair com a minha mulher. Gostamos de conhecer países novos, com mochila às costas. Além disso, sou um pouco viciado nos jogos de computador.