A frequência com que as jogadoras se lesionam no ligamento cruzado anterior tem sido tema de debate no futebol feminino, principalmente depois da gala de atribuição de prémios anuais da BBC Sports, em que várias atletas estavam lesionadas. Só 6% dos estudos sobre lesões no desporto são feitos exclusivamente sobre mulheres.
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Fogem delas a sete pés mas acabam por ser inevitáveis para quem escolhe o desporto como atividade profissional. As lesões fazem parte da vida dos atletas mas, ao contrário do futebol masculino, no qual não faltam estudos, no feminino as pesquisas são escassas. Já os problemas físicos, têm sido mais constantes.
Olhando para o top-20 da Bola de Ouro feminina deste ano, há sete jogadoras a recuperarem de uma lesão grave no joelho. Alexia Putellas, a última vencedora, está lesionada no ligamento cruzado anterior desde o verão, o que a obrigou a falhar o último Europeu. Beth Mead, segunda classificada, sofreu uma rotura no cruzado anterior em novembro, tal como Alexandra Popp, Ada Hegerberg, Catarina Macario, Vivianne Miedema e Marie-Antoinette Katoto, que ainda recuperam do problema físico e estão afastadas dos relvados. Só Megan Rapinoe, por exemplo, já se lesionou três vezes no ligamento cruzado anterior.
Além da lista, os problemas físicos das jogadoras ganharam outra notoriedade durante a última gala de atribuição de prémios anuais da BBC Sports. Em Salford, Beth Mead, melhor jogadora do Euro 2022, que foi conquistado pela Inglaterra diante da Alemanha, com um recorde de espectadores em Wembley, apareceu acompanhada de Vivianne Miedema, companheira no Arsenal, e ambas estavam de muletas a recuperar de um problema grave no joelho. Por isso, quando subiu ao palco para receber o prémio de melhor do ano, a atacante deixou mesmo um apelo: igualdade.
"Não parece que estão a fazer muito para entender o que se passa quanto às lesões. Se fosse com o Cristiano Ronaldo, o Messi ou o Griezmann, haveria muito mais a ser feito, estariam a fazer muito mais. Infelizmente, isto aconteceu-nos, mas esperemos que possa levar ao início de algo", afirmou a atleta, que espera recuperar a tempo de disputar o Mundial 2023, na Austrália e na Nova Zelândia, em julho.
Por que razão as mulheres têm mais lesões graves? Ninguém sabe ao certo
Segundo o jornal "The Guardian", há dez jogadoras da Premier League que estão afastadas dos relvados devido a lesões no ligamento cruzado anterior. Para Sarina Wiegman, treinadora que orientou a Inglaterra na conquista do último Europeu - e também se sagrou campeã europeia pelos Países Baixos na edição anterior -, a falta de justificações é culpa dos organismos que não acompanharam a rápida evolução do futebol feminino e que, por isso, ainda não se preocuparam e fazer estudos sobre as lesões das atletas. "FIFA, UEFA e Federações nacionais têm de fazer algo. As exigências do jogo nas atletas de topo estão cada vez maiores e há demasiadas lesões. Não tem havido muita pesquisa específica sobre o futebol feminino. As mulheres são diferentes dos homens, as ancas e os joelhos são diferentes. Há muitos estudos sobre o futebol masculino, mas sobre o feminino, não", vincou.
Já Emma Ross, especialista em saúde feminina, explicou, em declarações à "Sky Sports", que as mulheres têm uma probabilidade até seis vezes maior de ter uma lesão no ligamento cruzado anterior sem contacto do que os homens, mas é complicado saber porquê, uma vez que apenas 6% dos estudos sobre lesões no desporto são feitos exclusivamente sobre mulheres. Mas uma das justificações pode ser o ciclo menstrual.
"Quando o estrogénio é elevado, o que sucede na segunda semana do ciclo, a estabilidade das articulações pode ser afetada, tornando-as mais propensas a lesões", sublinhou na gala da BBC Sports. Teoria com a qual Gary Lewin, médico da equipa feminina do Arsenal, concorda. Mas sem deixar de ressalvar: "São precisos mais estudos sobre o desporto feminino. Caso contrário, estamos sempre a tomar decisões para mulheres atletas com base em estudos maioritariamente sobre homens".