José Azevedo denunciou esta segunda-feira um retrocesso no combate ao doping no pelotão nacional, elogiando o caminho de sucesso que estava a ser construído pela anterior direção da Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC), presidida por Delmino Pereira.
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Após revelar que a Efapel vai priorizar o calendário internacional na próxima época, por não se rever no ciclismo nacional, o diretor desportivo da formação laranja insistiu na necessidade de "aplicar os regulamentos" para credibilizar a modalidade.
"E haver consciência e haver ética, e haver fair-play e respeito pelos adversários e por quem investe. E isso foi feito com a direção anterior [da FPC]. E foi um caminho de sucesso que estava a ser construído. Nesse aspeto, eu muitas vezes falei com o anterior presidente, com o Delmino, que conheço há muitos anos, e ele sabe que eu sempre fui um dos grandes defensores da implantação do passaporte biológico e um grande defensor da verdade desportiva", argumentou.
O antigo ciclista recorda que sempre, "às vezes em prejuízo próprio", fez tudo para que esses valores imperassem na Efapel.
"Eu, infelizmente, na minha equipa, tive situações de atletas que não estavam neste projeto, mas que tiveram implicações e tiveram de abandonar o ciclismo. São pessoas por quem eu tenho muita estima, porque enquanto estiveram na Efapel tiveram um comportamento exemplar. E tenho o máximo respeito por eles. O que está para trás, não vou julgar. Mas eu tomei as medidas, porque nesta equipa há regras de que eu não abdico. Mas, se calhar, somos os únicos a trabalhar dessa forma", notou.
Azevedo referia-se a Rafael Silva e João Benta, ex-corredores da formação que foram suspensos devido a anomalias no passaporte biológico.
Para José Azevedo, "tudo ia funcionando" durante a presidência de Delmino Pereira, que foi substituído no cargo por Cândido Barbosa em novembro, depois de ter atingido o limite de mandatos.
"Mas este ano está a haver um retrocesso. A verdade é essa. Não sei o porquê, mas houve um retrocesso. Isso não pode acontecer. Isso volta a ser penalizador. E, claro, faz-nos ponderar tudo isso, se vale a pena investir no ciclismo português", destacou.
O diretor desportivo da Efapel referiu ainda que "a formação está abandonada, os apoios deixaram de existir".
"Ou seja, havia apoios à formação de parte da federação, que foram cortados este ano. Cria dificuldades a todos, porque é lógico que os investimentos na formação são mais reduzidos", denunciou.
Azevedo defende que era muito importante conseguir juntar todos os "atores" da modalidade e falar sobre ciclismo. "Mas só faz sentido fazer isso se as pessoas que forem convidadas tiverem a capacidade de esquecer que estão à frente de uma equipa", acrescentou.
"O ciclismo em Portugal é possivelmente a segunda modalidade mais popular. É um desporto que eu não tenho dúvidas que as empresas o veem como um excelente veículo publicitário das suas marcas. Não há dúvida. [...] Mas precisa de ser repensado. E se tiver que deixar ir mais abaixo e construir de novo e, eu sempre disse isto, não há problema nenhum", sustentou.
Para Azevedo, o ciclismo nacional anda "a puxar a manta, mas deixa sempre algum bocado destapado".
"Andamos quase a enganar-nos uns aos outros. Se tiver de começar de base, que comece. Mas se calhar vamos construir daqui a cinco ou 10 anos um desporto sólido, em que as pessoas acreditam, onde há investimento, onde há salários dignos e onde há capacidade de dar às marcas o retorno a nível da exposição mediática que eles querem. Porque nesta altura a verdade é que não conseguimos fazer isso, porque não conseguimos ter comunicação social", lamentou.