Efapel critica ciclismo português e vai dar prioridade ao calendário internacional
A Efapel não se revê no "esgotado" e descredibilizado ciclismo português e, na próxima temporada, irá dará primazia ao calendário internacional, abdicando das provas nacionais, revelou José Azevedo à Lusa.
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"O projeto Efapel foi repensado no futuro e, no próximo ano, nós vamos procurar calendário internacional, vamos tentar competir o máximo possível no calendário internacional, e possivelmente em Portugal não iremos competir", anunciou o diretor desportivo.
Quatro anos depois da sua fundação, José Azevedo e o patrocinador sentiram que era altura de dar um rumo diferente à equipa laranja.
"Não é uma decisão fácil, não é a decisão que nós, possivelmente, mais desejávamos, mas eu acho que, no contexto atual do ciclismo português, uma equipa como a nossa, que se baseia em princípios e comportamentos de ética, de rigor a nível disciplinar, não há vontade de continuar a fazer parte do ciclismo português", reconheceu.
O desencanto de Azevedo é tal que assume ter dificuldade em convencer os jovens da formação a acreditar no ciclismo português quando ele próprio não acredita.
"Então o que é que eu tenho de fazer para fazer algum sentido este investimento? É procurar um calendário internacional, que é o ciclismo em que eu acredito, que é o ciclismo em que eu me revejo, e isso dá aos miúdos o alento de sentirem que nesse ciclismo têm futuro. Infelizmente, em Portugal não há futuro ou o futuro não se vê muito risonho", lamentou.
Sem querer concretizar, o diretor desportivo da Efapel lembrou que "no final do ano, todos os anos, há problemas", numa alusão aos casos de doping que foram conhecidos na temporada passada ou àqueles que se comentam atualmente nos bastidores do pelotão.
"Não se pode permitir que, por exemplo, no ano passado, haja corredores a ganhar provas, quando todos nós sabemos [que vão ser suspensos]. Se calhar não existe motivo para suspender os contratos, mas as equipas podiam deixá-los em casa. Para a verdade desportiva prevalecer, um corredor não deveria estar a competir quando está um processo aberto. E isso compete às equipas e à federação tomar medidas, porque se não vamos descredibilizar o ciclismo", defendeu.
Para Azevedo, "quem comanda o ciclismo em Portugal, quem tem a obrigação de defender os interesses do ciclismo, não está a fazê-lo".
"Há dois anos criou-se esta ferramenta [passaporte biológico] que foi muito importante. E isso aí foi algo de muito positivo. Deveria ser usado como um instrumento de credibilidade. Mas para isso tem de haver rigor. Rigor, 100%. Não pode haver 99%", reforçou.
Desiludido com o que se passa por cá, o quinto classificado do Tour2004 e do Giro2001 garante que não é neste desporto que a Efapel quer estar.
"Não vale a pena. No próximo ano, o nosso caminho é esse. Vamos procurar um ciclismo em que a gente acredite. Se depois este projeto vai durar um ano, dois anos, isso o futuro dirá", pontuou.
Ainda assim, Azevedo diz que a sua equipa estará presente para ajudar o ciclismo português quando este "se pautar por regras claras".
"Temos que mudar a direção, porque este contexto de ciclismo português para nós está esgotado. E um dia que isto mude, possivelmente voltamos a apostar no calendário português. Enquanto se mantiver estes moldes, não vamos estar", reiterou.
Com a aposta a ser competir no estrangeiro em 2026, a Efapel pode mesmo ficar fora da próxima edição da Volta a Portugal. "Poderemos fazer provas em Portugal, não vou dizer que não, mas não é a nossa prioridade", concluiu.