Hélder Cristóvão fala em jogadores locais "rápidos, tecnicistas e fantasistas", e que oito estrangeiros por equipa tornam a liga difícil
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A competitividade da liga saudita promete ser mais escrutinada do que nunca, com a chegada de Cristiano Ronaldo ao Al-Nassr. Num campeonato feito com 16 equipas, onde é permitido jogar com um máximo de oito estrangeiros no onze, a qualidade do jogo está garantida, à partida. Mas a expectativa é grande. "É um pouco como em Portugal, onde temos quatro equipas mais fortes a lutar pelo título, como Al-Nassr, Al-Shabab, Al-Ittihad e Al-Hilal, mas é uma liga difícil", explica, ao JN, Hélder Cristóvão, antigo coordenador do Al-Nassr, que treinou recentemente o Al-Hazm. "Mas a contratação de Ronaldo vai elevar a fasquia, porque os outros clubes também vão agora exigir mais do Governo, que suporta o campeonato através da Federação, e abrir portas a mais nomes sonantes do futebol mundial", completa.
Para já, a contratação de CR7 é um caso à parte. "Há uns anos centralizaram os direitos televisivos na Federação, que é quem subsidia os clubes a 90%. As verbas são distribuídas em função do rendimento de cada clube e é com esses orçamentos que gerem a temporada. Mas no caso da contratação de Cristiano Ronaldo, conhecendo o clube e o presidente, houve certamente a intervenção de outras esferas hierárquicas, como a Casa Real, porque este negócio terá a ver com uma visão nacional", explica Jorge Teixeira, empresário com larga experiência do mercado saudita.
A organização dos clubes e as infraestruturas progrediram muito nos últimos anos. "Não tem nada a ver com o que conheci neste mercado há oito anos, os estádios são cada vez melhores e há cada vez mais profisionalismo", garante o agente. "O jogador local tem qualidade, não tem força, mas é rápido, tecnicista e fantasista", descodifica Hélder Cristóvão. "Nos próximos anos, os clubes vão ser obrigados a criar equipas sub-23 para desenvolver a formação, porque os jogadores locais têm muita dificuldade para chegar às equipas principais", acrescenta.
Mas Ronaldo pode esperar por desafios. "O Al-Nassr será, sem dúvida, o mais forte candidato à Champions asiática. A chegada dele vai valorizar ainda mais a liga, que se vai tornar a mais competitiva daquela zona, atrair mais bons jogadores e treinadores e triplicar audiências", acrescenta Jorge Teixeira, baseado no facto de hoje em dia os jogadores serem mais seguidos do que os clubes.
Portugueses na Arábia Saudita
Fábio Martins - Jogador do Al-Khaleej
Pepa - Treinador do Al-Taee
Nuno Espírito Santo - Treinador do Al-Ittihad
Pedro Emanuel - Treinador do Al-Khaleej
Quim Machado - Treinador do Al-Orobah
Filipe Gouveia - Treinador do Al-Hazm
Jorge Mendonça - Treinador do Al-Akhdoud
Liga Saudita - Streaming Árabe custa 16 euros
Nenhum canal europeu e muito menos português transmite os jogos da liga saudita. A única opção que existe, para já, é a Shahid, uma plataforma de streaming árabe que custa 16 euros por mês. Em Portugal não haverá, para já, negociações em curso. "É uma hipótese como outra qualquer, não temos nada previsto, para já. Mas estamos sempre atentos ao mercado", respondeu a Eleven Sports. O JN também questionou a Sport TV, mas não obteve resposta em tempo útil.
CR7 é a "galinha dos ovos de ouro"
Juventus e Manchester United sentiram nos cofres o antese o depois e o Al-Nassr garante que o negócio será bem rentável
O impacto de Cristiano Ronaldo no Al-Nassr ainda está por medir, mas as declarações do presidente do clube, Musalli Al-Muammar, deixam poucas dúvidas em relação aos objetivos dos sauditas com esta contratação. "O acordo não se limita ao futebol, é comercialmente benéfico para nós em termos de rentabilidade", declara Al-Muammar.
No entanto, as recentes mudanças do CR7 do Real Madrid para a Juventus e do emblema italiano para o Manchester United, deixaram bem vincado que existe um antes e um depois da passagem de Cristiano Ronaldo. Quando o internacional português deixou o Real Madrid para ingressar na Juventus, em 2018, o volume de negócios do clube transalpino cresceu 35 milhões de euros nos dois anos seguintes. A "Vecchia Signora" pôde negociar um novo contrato com a Adidas de sete anos, em janeiro de 2019, no valor 357 milhões de euros, duplicando os números do anterior.Em outubro do mesmo ano, a Juventus viu aumentar o valor do patrocínio da Jeep de 17 para 42 milhões de euros e fechou o exercício com um aumento das receitas provenientes da venda de bilhetes de cerca de 70 milhões de euros.
Para se ter uma ideia, a imprensa saudita deu conta que tinham sido pedidos cerca de 150 mil bilhetes para a estreia de Cristiano Ronaldo, quando se sabe que Mrsool Park tem uma capacidade de cerca de 30 mil lugares...
Mas, voltando aos números: no dia em que se confirmou a chegada do CR7 a Old Trafford, as ações do United subiram 8%. A tecnológica DXC não tardou a surgir nas mangas dos equipamentos, permitindo ao clube encaixar mais de 22,5 milhões de euros anuais. As vendas de camisolas e merchandising bateram todos os recordes e o clube pôde tirar partido de um aumento geral da contribuição de todos os sponsors, elevando as receitas gerais para mais de 142,5 milhões de euros, até setembro de 2020. O Al-Nassr tem até 2025 para rentabilizar o negócio.
Estrelas da Liga Saudita
Talisca, Al Nassr, 28 anos, médio ofensivo (brasileiro)
Aboubakar, Al Nassr, 30 anos, avançado (camaronês)
André Carrillo, Al-Hilal, 31 anos, extremo (peruano)
Pity Martínez, Al Nassr, 29 anos, avançado (argentino)
Moussa Marega, Al-Hilal, 31 anos, avançado (maliano)
Ghislain Konan, Al Nassr, 27 anos, defesa esquerdo (costa-marfinense)
Filipe Caicedo, Abha, 34 anos, avançado (equatoriano)
Alfa Semedo, Al-Tai, 25 anos, médio defensivo (guineense)
Aaron Boupendza, Al-Shabab, 26 anos, avançado (gabonês)
David Ospina, Al Nassr, 34 anos, guarda-redes (colombiano)