O conflito israelo-palestiniano está a fazer estragos no futebol. Depois do jogador El Ghazi ter sido suspenso do Mainz, e do Bayern Munique ter agendado uma reunião com o lateral Mazraoui, o futebolista Youcef Atal foi afastado do Nice. Em causa estão publicações pró-Palestina com "apologia ao terrorismo".
Corpo do artigo
O conflito entre Israel e a Palestina desenrola-se a milhares de quilómetros da Europa, mas nem por isso deixa de ter impacto no Velho Continente. Esta quarta-feira, mais um jogador foi suspenso devido a publicações em redes sociais, como o Twitter e Instagram, sobre o conflito entre Israel e Palestina. Youcef Atal, internacional argelino, de 27 anos, foi afastado do grupo de trabalho da equipa do Nice, segundo classificado da liga francesa, depois de partilhar um vídeo a incitar à violência, no passado sábado.
No vídeo, prontamente eliminado pelo atleta, um religioso palestino reza a Deus para que este enviasse "um dia negro para os judeus", defendendo que a mão dos habitantes da faixa de Gaza seja bem-sucedida a "atirar pedras contra Israel". Mesmo depois de um pedido de desculpas, as reações de repúdio foram generalizadas e o Ministério Público de Nice anunciou a abertura de uma investigação por "apologia ao terrorismo".
"Apreendidos hoje, ao abrigo do artigo 40.º do Código de Processo Penal, pelo presidente da Câmara dos Alpes Marítimos e pelo presidente da Câmara Municipal de Nice, factos suscetíveis de serem atribuídos ao Sr. Youcef ATAL, jogador profissional da equipa de futebol OGC Nice, no âmbito da divulgação, na semana passada, de mensagens nas redes sociais, a promotoria de Nice vai abrir uma investigação preliminar sobre as acusações de apologia ao terrorismo e incitação pública ao ódio ou à violência com base em uma religião específica", revelou o organismo, em forma de comunicado.
"Gostaria de esclarecer o meu ponto de vista sem qualquer ambiguidade: condeno firmemente todas as formas de violência, em qualquer parte do mundo, e apoio todas as vítimas. Jamais apoiarei uma mensagem de ódio", explicou o jogador em resposta.
Este tipo de suspensão não tem sido caso único. Na Alemanha, na terça-feira, El Ghazi também foi suspenso de todas as atividades do Mainz, clube que milita na principal divisão do país. Na rede social Instagram, o internacional neerlandês com dupla nacionalidade marroquina começou por mostrar o seu apoio à Palestina, ao alterar a sua foto de perfil com a expressão "Estou com a Palestina", mas a polémica acabou por subir de tom.
No mesmo dia, o avançado partilhou uma publicação com a mensagem "Do rio ao mar, a Palestina será livre". Tal frase é conotada, não só com uma ideia pró-Palestina, como à negação ao direito da determinação de Israel, como um Estado, e ao grupo terrorista Hamas.
"O Mainz respeita que existam diferentes perspetivas sobre o complexo conflito do Médio Oriente que se arrasta há décadas. No entanto, o clube distancia-se do conteúdo da publicação porque não anda de mãos dadas com os valores do nosso clube", pode ler-se, em comunicado, nas redes sociais do emblema alemão.
Já Noussair Mazraoui, lateral que trocou o Ajax pelo Bayern Munique, em 2022/23, pode vir a sofrer a mesma penalização dos colegas de profissão supracitados. Ainda ao serviço da seleção de Marrocos, para além de mensagens de apoio com a bandeira da Palestina, o defesa partilhou frases como: "Não pensem que Alá fica indiferente àqueles que cometem injustiças. Apenas os atrasa até ao dia em que os seus olhos se congelem de horror. O meu coração está com todos vós. Continuem fortes e tomem conta de vocês. Vamos ultrapassar isto".
O emblema da Baviera, na sequência destas publicações, que levaram Johannes Steiniger, deputado alemão, a pedir o afastamento e deportação do jogador, fez saber, esta segunda-feira, que agendou uma reunião para quando Mazraoui regressar dos compromissoes internacionais.
"Toda a gente, incluindo funcionários e jogadores, sabem quais são os valores que o Bayern defende. Já os expressámos publicamente e de forma inequívoca numa declaração logo após o ataque terrorista a Israel. Preocupamo-nos com os nossos amigos em Israel e estamos ao seu lado. Ao mesmo tempo, desejamos a coexistência pacífica de todos os povos do Médio Oriente", esclarece o clube.
"Eu serei sempre contra todos os tipos de terrorismo, ódio e violência. E isso é algo que apoiarei sempre. É por isso que não entendo o porquê de as pessoas pensarem o contrário sobre mim e associarem-me a grupos odiosos. Hoje, não se trata do que eu penso ou do que vocês pensam. Pessoas inocentes estão a ser mortas, todos os dias, por esse terrível conflito que saiu do controlo. Todos nós precisamos ser contra e falar contra isso. Isso é simplesmente desumano", afirmou o atleta, que tem sido acusado de ser um "apoiante do terrorismo".
Outras vozes renomadas do mundo do futebol têm demonstrado apoio aos cidadãos palestinianos. Karim Benzema, agora ao serviço do Al Ittihad, na rede social X (antigo Twitter), pediu o cessar destes "bombardeamentos injustos", sendo acusado por Gérald Darmanin, Ministro do Interior de França, de ter ligações com o grupo Irmandade Muçulmana, organização radical islâmica que esteve na génese da ideologia de vários grupos terroristas, como o Hamas. Nabil Fékir, Hakim Zyeck, Abdelhamid Sabiri e Mohamed Elneny, e os antigos atletas Éric Cantona e Mesut Özil, também partilharam publicamente a sua opinião sobre o conflito israelo-palestiniano.