As 15 transferências mais caras deste início de defeso chegam aos 745 milhões de euros, menos 100 milhões do que em todo o verão passado.
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Faltam mais de dois meses para o final de agosto, que assinalará o fecho do mercado na maior parte dos campeonatos europeus, mas os grandes clubes não estão a deixar para amanhã o que podem fazer hoje. Por outras palavras, estão a fechar transferências de vulto logo nas primeiras semanas do defeso, num processo liderado pelo Real Madrid, que, depois de uma época muito negativa, já gastou mais de 300 milhões de euros em cinco contratações (Eden Hazard, Jovic, Éder Militão, Mendy e Rodrygo).
Contas feitas às 15 transferências mais caras, conclui-se que o total gasto até agora já ascende a 745 milhões, perto dos 845 milhões investidos no top 15 de todo o mercado de verão de 2018. Sem a confirmação oficial do negócio que deverá levar o Atlético de Madrid a pagar 120 milhões de euros ao Benfica pela cláusula de rescisão de João Félix, nem aquele que levará Griezmann do clube "colchonero" para o Barcelona, pelo mesmo valor, o jogador mais caro deste defeso é, para já, o atacante belga Hazard, que se transferiu do Chelsea para o Real Madrid, a troco de 100 milhões.
A seguir vem o defesa francês Lucas Hernández, por quem o Bayern de Munique pagou 80 milhões ao Atlético de Madrid, e o pódio fica fechado com o médio holandês De Jong, contratado pelo Barcelona ao Ajax, por 75 milhões.
Um ano depois de ter protagonizado a venda mais avultada e mediática do defeso de 2018, ao aceitar 117 milhões da Juventus por Cristiano Ronaldo, o Real Madrid está a abrir os cordões à bolsa. Pressionado pelos maus resultados da temporada passada, Florentino Pérez tem passado cheques gordos a grande velocidade e, para além de Hazard, contratou o avançado Jovic ao Eintracht Frankfurt, por 60 milhões, o central Éder Militão ao F. C. Porto, por 50 milhões, o lateral-esquerdo Mendy ao Lyon, por 48 milhões, e o avançado Rodrygo, que até deve começar por jogar na equipa B, ao Santos, por 45 milhões.
O Bayern surge, até agora, no segundo lugar dos mais gastadores, já que, para além dos 80 milhões em Hernández, gastou mais 35 no lateral Pavard, que trocou o Estugarda pelo clube bávaro. O Barça fica-se pelo terceiro lugar (para além dos 75 milhões em De Jong, pagou 12 ao Atlético Mineiro pelo defesa Emerson), mas passará para segundo se for confirmada a chegada de Griezmann ao Camp Nou.
Curiosamente, o campeonato inglês, o mais endinheirado da atualidade, tem estado mais calmo, guardando as habituais transferências milionárias para mais tarde. A exceção foi o Chelsea, que já anunciou a contratação do avançado Pulisic ao Dortmund, por 64 milhões. Aguarda-se a resposta de City, Liverpool, Tottenham e Manchester United.
João Félix vai bater recorde
A transferência de Félix para o Atlético de Madrid, que vai pagar ao Benfica a cláusula de rescisão de 120 milhões de euros, entrará na história como a mais avultada de sempre em Portugal. O avançado deverá ser oficializado no início de julho pelo clube madrileno, que está à espera de encaixar os 120 milhões correspondentes à saída de Griezmann para o Barcelona, também pela cláusula, para fechar a contratação.
Neymar abre caminho ao regresso a Barcelona
Duas épocas depois de se ter tornado o jogador mais caro de sempre, levando o PSG a pagar 222 milhões de euros ao Barcelona para concluir uma contratação galática, Neymar pode estar em vias de fazer o percurso inverso e, pelo caminho, voltar a bater o recorde de transferências.
Numa altura em que passa por momentos complicados a nível pessoal, com um processo na justiça brasileira de alegada violação, o avançado deu esta semana um sinal de estar descontente em França, quando fez saber que tinha o desejo de voltar a casa, leia-se ao clube catalão, depois de o dono do PSG, Nasser Al-Khelaifi, ter mostrado enfado com a atitude da principal estrela do plantel, ao mesmo tempo que garantia a continuidade de Mbappé, outra vedeta muito cobiçada. O ambiente, conforme é fácil de perceber, está longe de ser o ideal para Neymar em Paris, mas o emblema do Parque dos Príncipes também não vai ceder facilmente, tendo já surgido notícias na imprensa francesa, segundo as quais o brasileiro só será transferido se aparecer algum clube disposto a pagar 300 milhões de euros pela contratação.
Para além do Barcelona, o Real Madrid tem sido apontado como outro potencial destino do avançado, que neste momento até está lesionado (sofreu uma rotura de ligamentos num tornozelo há cerca de duas semanas, que o afastou da Copa América).
Em Paris, com outros problemas físicos à mistura, Neymar ganhou dois campeonatos franceses em dois anos, mas ainda não conseguiu ajudar o PSG a passar dos oitavos de final da Liga dos Campeões, que continua a ser o grande sonho do clube. Na época passada, uma lesão afastou-o da eliminatória perdida para o Manchester United.
Fair-play financeiro para cumprir
A regra principal do fair-play financeiro, mecanismo de controlo de contas implantado pelo organismo que tutela o futebol europeu em 2012, é a que obriga os clubes a gastar no máximo mais cinco milhões de euros em contratações em três anos do que o que têm em receitas. O regulamento diz ainda que se um clube tiver um dono, ou for gerido por uma entidade (uma SAD, por exemplo), que tenha condições de assumir a dívida, pode chegar ao fim de um período de avaliação trianual feito pela UEFA com uma dívida máxima de 30 milhões.
É com este cenário que lidam clubes como o PSG ou o Manchester City, que nas últimas épocas gastaram mais do que o permitido. No caso do Real Madrid, mesmo tendo em conta o enorme investimento já feito em contratações neste defeso, é menos provável que possa vir a ficar sob a alçada do fair-play financeiro da UEFA, em função do enorme volume de receitas do clube do Santiago Bernabéu, o mais poderoso a nível mundial nesse capítulo, a par do Manchester United.
Os clubes que se qualificam para as provas da UEFA têm de provar antes de cada época que não têm dívidas em atraso a outros emblemas, fiscais ou à Segurança Social, nem salários atrasados a jogadores. Dependendo do grau de incumprimento dos mecanismos de controlo, as sanções vão de advertências, repreensões e multas até deduções de pontos, retenção de receitas, restrição e proibição de inscrição de jogadores, incluindo um limite sobre o custo total das despesas com salários, ou mesmo desqualificação e exclusão de competições.
Artur Fernandes: "Clubes têm de se mexer depressa para superar a concorrência"
Como explica esta agitação precoce do mercado futebolístico?
Este ano não há Mundial ou Europeu e essas provas atrasam as decisões. Além disso, a procura dos melhores jogadores é cada vez maior, incluindo no mercado português. A oferta não é tão grande e os clubes têm de se mexer depressa para superarem a concorrência.
A entrada em ação do Real Madrid acelerou as transferências?
Tem sido o grande impulsionador. O clube atirou a toalha na época passada há quase três meses e tomou decisões de continuidade ou rutura mais cedo. Deu logo uma indicação em relação aos jogadores mais apetecíveis.
Os números da transferência de João Félix, que está quase fechada, surpreendem-no?
Não me surpreende, em função dos sinais do mercado nos últimos anos. Vai bater o recorde em Portugal, mas não haverá, para já, outra igual, incluindo a de Bruno Fernandes, que deverá ficar por 40 ou 50 milhões.