Falido e ofendido, histórico clube do "calcio" foi enterrado com urna e tudo, em funeral organizado pelos próprios adeptos.
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Humilhado, ofendido, falido e desalojado. Ao Modena F. C., histórico emblema do futebol italiano, só lhe faltava que fossem os próprios adeptos a encomendar-lhe a alma. Anunciaram-lhe a morte, deram-lhe a extrema-unção e organizaram-lhe o funeral, num cortejo pelas ruas da cidade da Emília-Romanha. Com caixão e tudo, coberto com a bandeira do clube e carregado aos ombros pelos "tiffosi", o que ainda deu mais simbolismo às exéquias do clube que também foi de Luciano Pavarotti (ver caixa) e que, agora, vítima de má gestão e de tantos desatinos administrativos, vegeta no último lugar da Série C, o terceiro escalão do futebol italiano, sem qualquer ponto, só com derrotas e ainda mais vergonhas.
A maior desonra, insuportável para os adeptos do emblema nascido em 1912, ocorreu no último fim de semana: na sexta jornada, o clube foi declarado derrotado pela Federação Italiana de Futebol (0-3, com o Mestre), por não ter estádio para jogar. Ter até tinha, mas como foi despejado do estádio Alberto Braglia, recinto municipal, por dívidas que a Comuna avalia em 625 mil euros, teve de encontrar novo palco a toda a pressa.
O vizinho F. C. Forli, do campeonato regional, ofereceu o estádio Tullo Morgani, mas este recinto não estava vistoriado nem licenciado. E como a Federação não foi a tempo de verificar e avaliar as condições para se jogar no terceiro escalão das ligas profissionais do "calcio", foi declarada a derrota do Modena.
Se não foi uma declaração de óbito, para os adeptos foi um punhal mortífero. "Após 105 anos de uma longa e bela história, anunciamos a morte do nosso querido clube", leu--se numa das muitas mensagens de pesar escritas no caixão do Modena F. C.. O clube está confessado. Só os credores, incluindo os futebolistas com salários a haver, não lhe concedem absolvição.
"O sole mio": Pavarotti chora o clube da terra
Em Modena, o próximo 12 é especial, ainda que o conterrâneo Luciano Pavarotti, partido em 2007, já não esteja cá para o 82.º aniversário. E o que diria o tenor de "O sole mio" se visse ao que chegou o clube da terra, de que foi... guarda-redes? Nascido em 1935, na Itália de Mussolini e, como todos os italianos, louco pelo "pallone", Luciano foi adepto do clube da terra, então um dos melhores, terceiro da Série A em 1947, quinto em 1948. Admirava, sobretudo, o guarda-redes Corghi e decidiu seguir-lhe as pisadas. Dito e feito. Foi "portiere" dos juniores do Modena. Mas dele não reza a crónica, muito menos como vencedor. Luciano estava prometido a outros palcos...