Desporto é um terreno cada vez mais fértil para as criptomoedas. Adeptos também com vantagens.
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Cristiano Ronaldo deu o mote e Lionel Messi acabou por colocar definitivamente as moedas virtuais no mapa - desportivamente falando - depois de o PSG informar que parte do prémio de assinatura do argentino seria pago com criptomoedas. O ex-jogador do Barcelona recebeu um grande número de "$PSG Fan Token" e, ainda antes de assinar pelos parisienses, a antecipação à volta da chegada de Messi fez disparar o valor da moeda digital do clube e a compra e venda da mesma, com a movimentação de mais de 1,2 mil milhões de dólares nos dias anteriores à oficialização do jogador.
E num mundo cada vez mais virtual, nem as finanças dos clubes europeus escapam a esta nova realidade: os "token" estão a ser cada vai mais falados. Trazem vantagens aos clubes, como a obtenção de liquidez numa altura em que o prejuízo provocado pela pandemia ainda não é calculável, e aos adeptos, que podem até ajudar a tomar algumas decisões nas equipas que apoiam. Sejam eles sócios ou não.
"A vantagem para os clubes fazer a emissão dos "tokens" é que, na prática, não lhes custa nada. É uma maneira de, por um lado, conseguir financiamento, mas também um método de premiar a fidelidade. Uma coisa que não são criptomoedas, mas serve de comparação, são os pontos de fidelidade que temos numa gasolineira. Não lhe custa nada atribuir pontos, é uma questão meramente informática. Depois, podemos usar esses pontos. A diferença é que os "tokens" são transacionáveis, posso comprar e vendê-los", explicou ao JN o economista Filipe Garcia.
Em casos como os da Juventus, PSG ou Manchester City, alguns dos que já estão no mundo das moedas virtuais, os adeptos podem até tomar decisões tão simples como escolher a cor do equipamento ou a música para ouvir no estádio. Mas o projeto ainda é bastante pioneiro e, por isso, existem algumas dúvidas: "Há um conjunto de temas financeiros e jurídicos que ainda estão por explorar, como se se deve pagar impostos ou não. Ainda estamos numa fase muito experimental. O que se sabe é que entidades que transacionem criptoativos mas que não o façam de uma forma profissional, não têm de pagar impostos. Mas é algo que pode mudar a qualquer momento".
Talvez por isso, os clubes portugueses, pelo menos os três grandes, não pretendem, para já, investir neste mundo. O JN sabe que F. C. Porto não pensa aderir por considerar que as ações são ainda pouco transparentes. Questionados pelo JN, Benfica e Sporting não deram uma resposta em tempo útil.
SELEÇÃO
FPF não escapou à febre do "Fan Token"
Em julho, a Federação Portuguesa de Futebol anunciou o lançamento de um "Fan Token" da seleção nacional ($POR Fan Token), pelo preço unitário de 2 euros, ativo digital colecionável e passível de ser comercializado na aplicação "Socios.com". Os adeptos puderam adquirir itens digitais de alguns jogadores da seleção e comercializarem-nos através da rede "blockchain". Esta operação foi em parecia com a "Chiliz", criadora desta moeda digital destinada ao mercado desportivo, que trabalha também com clubes como PSG, Juventus e Barcelona, e que está avaliada em 1,2 mil milhões de euros. Cada "token" da FPF vale hoje pouco mais de 20 cêntimos.
Estamos a definir os pormenores administrativos
Estrela da Amadora é o primeiro clube português a lançar um token
A 31 de julho, o Estrela da Amadora anunciou ter seguido os passos de equipas como Juventus, PSG ou Manchester City e tornou-se o primeiro clube português a lançar um "token". O principal objetivo é, segundo André Geraldes, presidente da SAD, garantir uma maior proximidade com adeptos e sócios, num projeto pensado a médio prazo .
"É uma indústria em crescimento e decidimos associar-nos. Estamos ainda a definir os pormenores administrativos, para não ferir nenhum aspeto do ponto de vista legal. Por ser um processo inovador, estamos a ultimar todo o processo jurídico e administrativo, para que os sócios e adeptos possam perceber o produto o mais rápido possível. Por isso, o nosso objetivo é a médio prazo", disse André Geraldes, acrescentando: "Para o clube, utilizar as criptomoedas pode trazer vantagens como a rentabilidade futura, desde que os parâmetros legais estejam salvaguardados. No que diz respeito aos adeptos e sócios, que são o mais importante, eles podem participar na vida do clube, quer através de descontos para bilhetes ou merchandising, como intervindo ativamente na gestão dos próprios ativos do Estrela e terem alguma mais-valia".
Se os tubarões europeus têm um protocolo com a empresa "Chiliz", os tricolores optaram pela "Betsplayer", principal concorrente e que também já investiu no Brasil, a qual tem entre os fundadores Paulo Lopo, antigo líder da SAD do Leixões. "Os clubes têm falta de liquidez. A banca, quando se fala em clubes, está fechada ao futebol. Os clubes têm de recorrer a fundos de investimento e pagam juros altíssimos. A tokenização consegue permitir aos clubes ter liquidez dos próprios adeptos e fãs e ainda lhes pode dar um retorno de alguma forma. E o pagamento de impostos e juros é muito mais baixo", explicou Paulo Lopo ao JN.
P&R
O que são as criptomoedas?
São consideradas um meio de pagamento digital ou dinheiro eletrónico, baseado em criptografia e tecnologia "blockchain", que pode ser usado sem a participação de intermediários, como bancos, nem supervisão de qualquer tutela governamental ou estatal.
O que é a tecnologia "Blockchain"?
É uma base de dados transparente e descentralizada, onde tudo fica registado e pode ser consultada por todos. O Blockchain enquanto base de dados regista as transacções de tokens. O registo é imutável: uma vez criado, não pode ser apagado ou alterado.
Qual foi a primeira moeda virtual a ser criada?
A história das moedas digitais começou em 1983, com o "ecash", de David Chaum, mas só em 2008 adquiriu dimensão mundial com o surgimento da Bitcoin. Mais tarde surgiram outras, como, por exemplo, a Namecoin", a Peercoin e a Litecoin.
Quem foi o criador da Bitcoin?
Até hoje, não se sabe a verdadeira identidade da pessoa ou das pessoas. A Bitcoin foi mencionada pela primeira vez num "White Paper", um documento dedicado exclusivamente a este tema, publicado por alguém com o pseudónimo de Satoshi Nakamoto.
Como é que funciona uma Bitcoin?
Pode ser usada para pagar mercadorias e serviços em qualquer lugar que a aceite. Em vez de ser monitorizada por um banco central, para certificar a autenticidade, a Bitcoin depende de um sistema descentralizado. Nenhum sistema central controla a moeda.
Há diferença entre criptomoedas e "tokens"?
Há. A principal está na forma como são criados. Enquanto as criptomoedas são independentes e construídas na própria "blockchain", os "tokens" são construídos em "blockchains" já existentes. Em algumas situações, um "token" pode transformar-se numa criptomoeda e, quando isso acontece, o emissor cria uma nova "blockchain". As criptomoedas são essencialmente uma forma de moeda independente e alguns utilizadores usam-nas para compras no mundo real. Já os "tokens" estão geralmente associados a esforços de reunião de fundos. Quem compra e mantém "tokens" fá-lo como forma de investimento numa start-up.