Mais de 30 anos depois, as gentes napolitanas estão prestes a voltar a festejar o "scudetto".
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Demorou quase duas décadas, mas Aurelio De Laurentiis está prestes a cumprir o desígnio estipulado em 2004, quando pegou num Nápoles em frangalhos, em risco de falência e a necessitar de um tratamento de choque para renascer. Na altura, o clube que se fez grande às costas de Diego Maradona havia caído para a terceira divisão por problemas financeiros, mas isso, em vez do inferno, foi o ponto de partida para um ressurgimento que este fim de semana pode conhecer o feito mais significativo e elevar outros ao estatuto de heróis de uma cidade onde o futebol está acima de tudo e que está há mais de 30 anos à espera de outra celebração épica e inesquecível.
Cinco pontos. Duas vitórias ou uma vitória (hoje na receção à Salernitana, de Paulo Sousa) e um empate ou uma derrota da Lazio, amanhã, com o Inter de Milão, é tudo o que falta ao Nápoles para ser campeão italiano pela terceira vez. A festa, na verdade, está a retorcer-se há algum tempo, numa ânsia difícil de reprimir. Praticamente todas as ruas da cidade já estão prontas para esse dia, essa noite, nas imediações do Estádio Diego Armando Maradona já só se vê azul celeste. Bares, restaurantes, varandas, praças, monumentos...... Tudo ainda mais aperaltado do que o costume, numa demonstração de fervor que, diga-se, nem nos tempos mais negros se escondeu. Pelo contrário. Na terceira divisão, não era raro o Nápoles jogar em casa com 50 mil pessoas nas bancadas, levadas também pelo inconformismo e a antipatia sulista em relação ao Norte mais endinheirado e poderoso do país, concretamente contra cidades como Milão e Turim, fazendo do futebol o meio mais à mão para manter vivo esse antagonismo.
Curiosamente, é também graças a um milionário (e essa condição tem custado a Aurelio De Laurentiis muitas desavenças com os napolitanos) que o Nápoles se prepara para interromper o monopólio de Inter, AC Milan e Juventus, as equipas mais vezes campeãs e as únicas que conquistaram o "scudetto" desde 2001. Pelo caminho, contudo, o produtor de cinema, um romano filho de pais napolitanos, que não é conhecido propriamente por ter papas na língua também se virou aos balofos de poder, chegando a acusá-los de comprar títulos, ganhando assim margem de manobra para levar a cabo a revolução. Este será o quinto título que o clube vai ganhar desde 2004, depois de três Taças de Itália e uma Supertaça, e aquele que vai santificar mais uns quantos. Nunca colocarão em causa o santuário maradoniano, mas Luciano Spalletti, Osimhen e Kvaratskhelia também terão direito a sua ermida.