Scaloni foi campeão do Mundo sem ter experiência prévia como treinador, ao lado dos amigos Aimar, Samuel e Ayala
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Primeiro, foi destratado e desvalorizado; depois, respeitado e aplaudido; por fim, santificado e imortalizado. Tal como o outro Lionel, também este teve que engolir muita coisa, baixar a cabeça a faltas de respeito e de consideração, antes de consumar uma das histórias mais improváveis e mais felizes de que há memória no futebol. Scaloni pegou na albiceleste num dos período mais difíceis da seleção, sem ter qualquer experiência anterior para mostrar que podia ser a pessoa certa para o cargo, e era suposto ser apenas o interino que faria a ponte entre Jorge Sampaoli e o sucessor. Quatro anos depois, é o selecionador mais titulado da Argentina e o único a ganhar tudo o que era possível.
Assim, não foi só por causa de Messi, o outro Lionel, que a Argentina chegou ao Catar como uma das favoritas ao título mundial que acabaria por conquistar. Com Scaloni, os argentinos ainda perderam uma Copa América (2019), mas aí já estava em andamento um movimento que, pelo caminho, ia convencendo tudo e todos. O próprio Messi, magoado, depenado e conformado com tantos anos de desilusões, recuperou o brilho no olhar e começou a acreditar que, afinal, o melhor ainda estava para vir. E estava. Em doses industriais, aliás. Antes de Scaloni, a Argentina era uma máquina de perder (incluindo três finais da Copa América e uma do Mundial, em 2014); depois, passou a ser uma máquina de ganhar.
Mas foi só no ano passado que o treinador de 44 anos - o mais novo a participar no Mundial 2022 - começou a ser consensual. A conquista da Copa América, ainda por cima numa final contra o Brasil e no Maracanã (0-1), exorcizou todos os fantasmas do passado, incluindo aquele que tanto pesava a Messi. Seguiu-se a vitória na finalíssima (3-0 à Itália, campeã da Europa) e nem a derrota chocante na jornada inaugural do Campeonato do Mundo, frente à Arábia Saudita - a única nos últimos... 43 jogos - impediu o que tantos se deitarm a adivinhar.
No Catar, Scaloni emocionou-se a falar dos jogadores e dos pais, chorou compulsivamente depois do penálti decisivo de Montiel. A seguir desabafou: "O sonho tornou-se realidade", escreveu na mesma mensagem em que agradeceu aos adjuntos e amigos Pablo Aimar, Walter Samuel e Roberto Ayala. Todos eles tiveram carreiras melhores e mais exuberantes, mas isso não os impediu de aceitar um papel menos visível na equipa técnica. Estão juntos desde 2018 e assim vão continuar até 2026. Amigos e campeões mundiais.