Num pelotão robusto e com um leque de corredores experientes, há também quem se estreie, pela primeira vez, na Volta a Portugal. E se esta competição é o concretizar de um objetivo para qualquer ciclista português, para os estreantes, é bem mais do que isso. O sonho começa aqui.
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Acompanhar as aventuras da Volta a Portugal através da televisão, durante a infância, foi aguçando a vontade e a ambição de Afonso Silva. Os anos de trabalho deram frutos e, este ano, a ação passou do ecrã para a realidade. De telespectador passou a protagonista.
O corredor alentejano da Rádio Popular-Boavista integra, pela primeira vez o pelotão da prova rainha do calendário velocipédico português. Uma emoção difícil de traduzir em palavras. "Já posso ter participado em boas provas, como os campeonatos do Mundo, que são provas importantes, mas a Volta a Portugal é especial. Desde criança que sonhava muito um dia poder estar aqui. É uma emoção muito grande", confessa Afonso Silva ao JN.
Correr lado a lado com os ídolos
Na coesa estrutura axadrezada, os ídolos que costumava acompanhar na televisão, em provas nacionais e estrangeiras, são hoje colegas de equipa pelos quais se promete bater ao longo da competição. "O Tiago Machado é uma grande referência para mim. Ter a oportunidade de estar na equipa dele e do João Benta, que tem estado nos últimos anos na discussão da Volta, é muito bom".
Apesar de estar consciente do desafio que é ajudar a equipa do início ao fim, a ambição que o caracteriza fá-lo querer um pouco mais na sua estreia. Quer destacar-se, seja através de uma fuga ou da luta pela classificação da juventude. "Ambiciono ter um bom momento, o que seria bom para mim e para os patrocinadores. Sendo novo é ainda mais importante".
Afonso não quer criar grande expectativa antes das etapas, mas não esconde a vontade de correr na alta Montanha, sobretudo na Torre e na Senhora da Graça, as etapas de que mais gostava de acompanhar através da televisão.
Açores de regresso 35 anos depois
Conhecida por ser uma incubadora de jovens ciclistas portugueses, a estrutura da LA Alumínios-LA Sport trouxe três estreantes à Volta a Portugal. Um deles com um sotaque que já não era ouvido no pelotão há 35 anos.
João Pedro Medeiros voou rumo ao continente para afirmar o nome de São Miguel, nos Açores, de novo no mapa da Volta a Portugal. "Representar a ilha é bastante especial. Temos muita qualidade nos Açores e é preciso trabalhá-la. Se começar a haver mais apoios e uma força extra por parte da associação, acredito que daqui a alguns anos teremos mais açoreanos na Volta", considera o corredor de 21 anos.
Apesar de a corrida ainda ir no início, a monstruosa logística da competição já admirou o corredor. "Só quando cheguei à apresentação das equipas é que percebi a verdadeira estrutura da Volta. A quantidade de camiões, câmaras de filmar, jornalistas... Fiquei tão surpreendido que até comentei com o meu diretor. É uma prova única e agora já percebo porquê".
João Medeiros nunca correu uma prova tão longa e quer ir com cautela. Ao JN confessa "algum nervosismo", sobretudo por saber que a prova é "muito dura e bastante disputada por parte de todas as equipas". O objetivo é perceber como é que o corpo reage dia após dia e chegar bem ao final.
Discutir a Volta como qualquer outra corrida
Já mais experiente e com uma época muito feliz até ao momento, Iúri Leitão é um nome que já praticamente todos conhecem na modalidade. Apesar de correr pela primeira vez na Volta, o ciclista de Viana do Castelo já foi campeão da Europa de pista em 2020. Mas a Volta a Portugal tem outro significado.
"É o concretizar de um sonho. Todos os ciclistas portugueses têm o sonho de correr a Volta a Portugal. É verdade que a época está a correr muito bem, o que acaba por me tirar um pouco a pressão. Venho tranquilo e relaxado e vou tentar desfrutar ao máximo", declara o corredor da Tavfer-Measindot-Mortágua ao JN.
Surpreendido pela máquina que faz acontecer a "maior festa do ciclismo em Portugal", Iúri lamenta que as restantes provas do calendário não tenham tanto destaque como a Volta. Quer pelas equipas ou pela comunicação social. "A minha equipa encara a Volta da mesma forma do que as outras provas. É dar o nosso máximo e partir sempre para ganhar. É uma pena que isso não aconteça com toda a gente durante o ano".
Ainda assim, o ciclista de 23 anos está "ansioso por viver o espetáculo" que acontece na competição e por "sentir o ambiente do público". De todos os relatos que já ouviu de colegas de equipa e companheiros de estrada, tem a certeza de que é uma corrida "diferente de todas as outras".
Tranquilo e sem pressão, Iúri Leitão está na luta. Com a "ambição de fazer alguma coisa bonita".