Gilberto Coimbra, presidente do Tondela, luta pela permanência na Liga e admite abrir portas a um investidor, mas nunca a qualquer preço.
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Na época passada, o Tondela sofreu para garantir a permanência e nesta temporada ainda continua a lutar. O seu coração aguenta tanto sofrimento?
[risos] Que remédio. Não sou só eu a sofrer, é a Direção, a equipa técnica e os jogadores. Se o nosso sofrimento terminar com a permanência, vai valer a pena, ainda que custe muito.
Porque é tão difícil solidificar um lugar na Liga?
Temos de ter consciência de onde estamos geograficamente e de onde viemos, porque quando eu assumi a presidência o Tondela estava nos Distritais. Se quisermos ser grandes rapidamente, o tombo é enorme. Quem sobe rapidamente e abusa, arrisca-se a uma travessia no deserto e nós queremos consolidar este projeto aos poucos. Se descermos de divisão, vamos tentar a subida no imediato e até estaremos mais preparados.
Mas se o Tondela permanecer na Liga admite investir mais?
Sem dúvida. Mas, para já, estamos apenas focados nesta época, na permanência e em levar a equipa de juniores à 1.ª Divisão Nacional. Quanto mais tempo o Tondela demorar a garantir a permanência menos tempo tem para programar a época seguinte. Quando um clube atinge a permanência a meio de uma época tem mais tempo para pensar no futuro e nós não temos tido essa possibilidade. Este clube é autossustentável, podemos investir mais, mas nunca irei hipotecá-lo a ninguém.
Nunca pensou em transformá-lo numa SAD?
Isso é sempre possível se for um bom negócio. Mas quem decide são os sócios. O Tondela não está com as calças na mão nem em saldo. Não será por meia dúzia de cêntimos que entra aqui um investidor. Se alguém aparecer terá de apresentar um projeto credível e com vontade de fazer do Tondela um clube grande.
Já recebeu abordagens?
Algumas. Mas coisas esquisitas são recusadas no imediato. Só quero coisas transparentes. Não quero trazer nenhum artista nem um inventor que possa colocar o clube em risco.
Pepa vai continuar no Tondela na próxima época independentemente do que possa acontecer no final desta temporada?
Primeiro, vamos garantir a permanência. Mas o Pepa vai continuar até ao final desta época, isso que fique bem claro, e é um bom treinador. Não vai haver mais chicotadas, aconteça o que acontecer. Depois, o futuro a Deus pertence.
Gosta de dar estabilidade aos treinadores?
Gostava de dar mais. Estou aqui há 13 anos e gostava que o treinador tivesse mais vitórias. Gostava de ter comigo um Ferguson, era sinal de estabilidade e de vitórias.
O guarda-redes Cláudio Ramos tem estado em destaque. Tem recebido propostas?
O Cláudio é um filho da terra e tenho a noção que está focado na permanência. Nunca me preocupei com as notícias. Ele sabe com quem pode contar e é nosso jogador, independentemente do contrato terminar no final da época. Não lhe posso fazer propostas malucas, mas ele pode contar comigo e com o Tondela. Há interesse e é bom que haja interesse por outros jogadores, é sinal que contratámos bem.
Sente que este clube paga a fatura da interioridade?
Estamos distantes. Em Lisboa e no Porto, há muitos hipermercados, há concentração e poder de compra. Aqui, não há nada disso. Estamos num concelho com 28 mil habitantes e quando jogámos em Aveiro, na época passada, num estádio com capacidade para 30 mil espectadores, Tondela ficaria às moscas se todo o concelho fosse em peso para o estádio. Há pouca juventude e é difícil contratar. É preciso importar e assim torna-se mais difícil.
É difícil convencer um jogador a ir para um clube de um pequeno concelho?
Claro que sim. Tondela oferece tranquilidade e hospitalidade, mas não oferece o que uma grande cidade tem. Quem quer ter uma vida tranquila, é feliz aqui, mas quem pretende jogar futebol não sei se terá aqui essa felicidade. Ao longo desta caminhada, lembrei-me de alguns jogadores, mas cheguei à conclusão que muitos provavelmente não queriam viver aqui.
Se pudesse voltar atrás, o que teria feito de diferente no planeamento desta época?
O problema não é esse. Não temos tido sorte e basta lembrar-me dos resultados. Na Madeira, com o Nacional, estivemos a vencer por 2-0 ao intervalo e perdemos por 3-2. Depois deixámo-nos empatar no final do jogo com o Boavista e falhámos um penálti com o Marítimo, no último minuto. Com mais sete pontos estaria mais descansado. Tem-nos faltado sorte e experiência de mais anos na Liga. Na dúvida beneficia-se os grandes. Antes do jogo com o Marítimo, o Tondela não tinha nenhum penálti a favor.
A arbitragem precisa de ser reformulada?
Precisa de ser mais profissional. Errar é humano e os árbitros vão errar sempre. Mas devia haver mais entendimento no setor para se errar menos.
Chegou à presidência quando o Tondela estava nos Distritais. Sente-se o pai deste clube?
De maneira nenhuma. Sinto-me um homem satisfeito, mas não me sinto realizado. Só me sentiria realizado se estivéssemos lá em cima. Mas não estou sozinho, tenho uma Direção que morre quando eu morrer.
Tem jogadores emprestados pelo F. C. Porto e pelo Benfica e não tem ninguém cedido pelo Sporting. Tem melhores relações com o F. C. Porto e com o Benfica?
Temos boas relações com todos os clubes. Tivemos interesse em dois atletas do Sporting, só que não foi possível contratá-los. Um deles até já estava feito, mas o futebol tem aquelas coisas que eu não aprecio e houve um volte-face. O Sporting foi buscar vários jogadores emprestados, tirou uns e meteu outros, e um dos jogadores que nos estava prometido foi para outro clube.
Isso beliscou a relação do Tondela com o Sporting?
Não. O Sporting faz o que entende com os seus atletas.
Admite não ter mais emprestados?
Tomara que isso venha a acontecer.
Está satisfeito com o trabalho do presidente da Liga, mesmo que a promessa dos direitos televisivos tenha ficado na gaveta?
Está a fazer um trabalho meritório, como já tinha feito o Luís Duque, que herdou uma Liga falida. A Liga foi revitalizada com a ajuda de todos os clubes e com alguma união dos grandes. Mais cedo ou mais tarde, vai haver uma descentralização dos direitos televisivos.
Passe Curto
Nome: Gilberto Coimbra
Naturalidade: Botulho (Tondela)
Idade: 55 anos
Profissão: empresário do ramo alimentar e presidente do Tondela
Passe Longo
Aos 18 anos, Gilberto Coimbra deixou os estudos para ajudar a crescer o negócio dos avós e hoje é um dos maiores empresários do concelho de Tondela, no distrito de Viseu. Dono de uma empresa ligada à indústria alimentar, é um dos principais polos empregadores da região e um apaixonado pelo futebol, ou não tivesse sido jogador até aos juniores do Molelos, um pequeno clube daquela zona. Há 13 anos, assumiu a presidência do CD Tondela, quando o emblema estava nos Distritais e levou-o à Liga, onde agora está a lutar pela permanência, no penúltimo lugar. Tem dois filhos, gosta de comer bacalhau e faz caminhadas diárias para cuidar do físico e da mente: "É um alívio e algo que aconselho a toda a gente".