"Dói-me o joelho, o tempo vai mudar". Quem nunca ouviu uma expressão semelhante a esta? E, afinal, tem razão de ser ou não? A fisioterapeuta Marisa Cardoso, das Clínicas Nuno Mendes, tenta trazer alguma luz sobre o assunto.
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Bem, apesar de o tema ainda não ser completamente consensual, a verdade é que alguns estudos já tentaram estabelecer uma relação entre dor e variações climáticas. E a verdade também que há alturas em que correr nos dói muito mais do que noutras.
Segundo a cronobiologia, não será tanto pelos fatores do clima, como a temperatura e a humidade, que o organismo percebe a mudança de estações, mas antes pela quantidade de luz, que varia conforme as estações. Para a cronobiologia a diminuição da quantidade de luz, típica do inverno, é responsável por um aumento de surtos de depressão intimamente relacionado com a sensibilidade dolorosa nos meses frios.
O ciclo dia-noite (claro-escuro) e a herança genética são os principais fatores que ajustam os nossos ritmos, de modo a funcionarem durante 24 horas. As informações sobre os níveis de luz no ambiente, captadas pelo Sistema Nervoso Central, sinalizam o que está a acontecer fora do organismo e estabelecem os parâmetros que determinam as nossas reações internas.
Por outro lado, os agentes atmosféricos que mais parecem influenciar o estado de saúde são a temperatura, a pressão atmosférica, a precipitação e a humidade. Em conjunto ou isoladamente, podem causar patologias físicas e psíquicas, pela dificuldade do organismo em adaptar-se a mudanças drásticas.
Mas por que é que isto acontece?
De facto, tendões, músculos, ossos e tecido cicatricial têm densidades diferentes e o frio e a humidade, principalmente, podem influenciá-los, provocando variações de tensão e comprimento que originam dor e, muitas vezes, pequenos microtraumas.
Os estudos apontam a diminuição da temperatura como responsável por um aumento da viscosidade do líquido sinovial que envolve e nutre a articulação, tornando-a mais vulnerável a mecanismos de stresse por fricção dos tecidos, aumentando a rigidez articular e, consequentemente, potenciando dor.
Outros autores sugerem que, apesar de as pessoas dizerem que o clima húmido e o frio é a causa das suas dores, o que realmente parece ter efeito nesta condição é a pressão atmosférica. O sistema de baixas pressões permite que os tecidos se expandam e exerçam assim maior pressão nas nossas articulações podendo levar a um aumento da rigidez articular e desencadear uma resposta nocicetiva (dor).
A variação da pressão atmosférica parece ainda provocar um desequilíbrio na pressão corporal e aumentar os mecanismos de stresse articular, deixando a articulação vulnerável a lesões e sensibilizando as terminações nervosas. Sendo este um fenómeno que precede a chegada do mau tempo, pode justificar o aparecimento, também precedente, do sintoma que "adivinha" essa mudança.
Efetivamente, a relação entre estas duas variáveis faz correr muita tinta no papel, mas o mais importante a reter das investigações é o fenómeno altamente individualizado, implícito na leitura do sintoma.
Embora grande parte das conclusões refira que, num ambiente constantemente quente e seco, os indivíduos apresentam melhorias nos sinais e sintomas de dor e rigidez articular, nos estudos em que houve uma correlação positiva entre o clima e a dor, estes pareceram seguir um padrão: os indivíduos consideraram associam o outono e o inverno à maior intensidade da dor. Uma crença interessante e que acaba por influenciar (e muito) a própria perceção que a pessoa tem da dor.