Padel continua a ganhar fãs pela vertente social e é já um caso sério no universo desportivo nacional.
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Há uma "febre" que se sente um pouco por todo o país, mas só quando se olha para os números se percebe a verdadeira dimensão. Quando foi criada, em 2012, a Federação Portuguesa de Padel (FPP) geria um universo de 110 atletas e apenas sete clubes filiados, números que cresceram de forma exponencial até aos cerca de nove mil praticantes com licença ativa e os 286 clubes atuais, de acordo com dados oficiais da instituição.
Grande parte desta vertiginosa evolução é justificada pela vincada vertente social associada à prática da modalidade, com muitas pessoas a fazê-lo de forma autodidata e pelo simples prazer que o jogo e o convívio lhes proporciona, o que faz com que o número real de praticantes seja bem superior ao dos inscritos na FPP.
Até por aí, não espanta que continuem a ser criados novos clubes e a serem inaugurados espaços para a prática de padel, com o objetivo de dar resposta à crescente procura por este desporto. A própria federação tem-se esforçado para acompanhar o ritmo frenético de implementação da modalidade no país.
A construção da Cidade do Padel, em Oeiras, será importante para o desenvolvimento do talento nacional. A isso junta-se a criação dos programas "Padel Escolar", em articulação com o Ministério da Educação, e "Team FPP", este último com enfoque no alto rendimento.
Os resultados dessa aposta começam a surgir, com os irmãos Sofia e Pedro Araújo a serem os portugueses mais bem colocados quer no ranking da Federação Internacional do Padel, quer no do World Padel Tour. A nível nacional, Diogo Rocha e Catarina Vilela lideram o circuito FPP. Até ao final do ano, Portugal estará representado nos campeonatos da Europa de sub-18, sub-16 e sub-14, em Valência, bem como nos campeonatos do Mundo absolutos, no Dubai, momentos que dão expressão ao trabalho até aqui desenvolvido.
Factos
9000 atletas
Numa década apenas, o número de atletas com licença ativa na Federação Portuguesa de Padel passou de 110 para cerca de 9 mil, um crescimento impressionante. Esse valor, contudo, não reflete a magnitude do fenómeno em que se tornou o padel, pois crê-se que cerca de 200 mil pessoas pratiquem a modalidade socialmente.
286 clubes
Acompanhando o crescente interesse que o padel gerou na população, a evolução do número de clubes existentes em todo o país é mais um indicador do sucesso da implementação da modalidade em Portugal. Dos ínfimos sete clubes existentes em 2012 passa-se para os 286 registados no início deste mês.
Reportagem
Vício saudável e democrático jogado em ritmo "non-stop"
Em Arada, no concelho de Ovar, às quartas-feiras o padel joga-se em ritmo "non stop". As equipas defrontam-se consecutivamente até se encontrarem os finalistas, que decidem o vencedor. Numa das pausas entre jogos, André Leite conta que deixou para trás o futebol e o futsal assim que descobriu o padel. "Adoro isto. Quantos mais experimentarem, mais vão aderir", acredita, até porque aquele é "um desporto que dá para qualquer pessoa" e com um "cariz social importante".
É também assim que o vê Ana Cruz, que conheceu a modalidade através de um casal amigo, há um ano e meio. "Viciei-me logo", diz, de tal modo que se inscreveu em aulas para elevar o nível competitivo. Se lhe juntarmos os jogos e o investimento em material, Ana confessa que o padel "pesa" no orçamento mensal, mas sente ser "dinheiro bem investido", por estar a aplicá-lo no bem-estar. André Leite faz as contas por alto e aponta a 100 euros mensais destinados à modalidade. "Posso jogar até sete vezes por semana. Como é um desporto de que gosto bastante, acho que é dinheiro bem gasto", atira.
Os jogos realizam-se nas instalações do Padel PT, um clube que, como o próprio acrónimo aponta, pretende ser "Para Todos". O espaço foi criado há três anos, e se o início não foi propriamente fácil, assim que o padel criou raízes na região o crescimento foi notório e acelerado. "É um jogo altamente social, praticamente universal e, por isso, muito democrático também", refere o responsável pelo clube, Patrick Jorge, que aponta a pandemia de covid-19 como um momento importante para a afirmação da modalidade. "Muitos clubes de padel puderam continuar a trabalhar em pleno covid, e isso ajudou. Conheço muitas pessoas que, nessa altura, deixaram o futsal pelo padel", conta.
Mesmo admitindo que "a crise que aí vem pode mexer um bocadinho" com a dinâmica de crescimento, o responsável continua a ver no padel "um desporto em ascensão", de tal modo que, "mais tarde ou mais cedo, todos os clubes vão ter uma secção" da modalidade, acredita.
Entrevista
A FPP nasceu há dez anos. Imaginava o crescimento registado?
Confesso que não. Achávamos que o padel ia ser uma coisa com algum destaque, que podíamos melhorar o nosso nível e divulgar mais a modalidade, mas naquela altura ninguém sabia sequer o que era padel. Hoje, é difícil encontrar alguém que não jogue ou que não conheça alguém que jogue padel.
Como explica a "febre" que se gerou em torno do padel?
O padel é uma modalidade fácil de iniciar. Qualquer pessoa pode pegar numa raquete e logo no primeiro dia diverte-se com os amigos. É um desporto social, que atrai muitas pessoas. Há festa em volta do padel e uma grande interação entre jogadores. Também é jogado por homens e mulheres quase na mesma percentagem, é aberto a todos.
Que projetos estão pensados para manter esta linha evolutiva?
A nossa bandeira para o último mandato é o "Padel Escolar", no qual fizemos um grande investimento. Queremos levar o padel às escolas, fazê-lo integrar o desporto escolar e envolver os professores de educação física na modalidade. Permitimos-lhes frequentar um minicurso de padel e ter acesso ao nível 1 de treinador de borla. Envolvendo-os, conseguimos que eles levem os alunos aos clubes de proximidade, onde podem jogar de borla em horários destinados para isso. Tentamos criar condições para que o padel possa ser experimentado por milhares de crianças todos os anos. Outro projeto é a Cidade do Padel, em Oeiras, que terá 17 campos de padel e uma sede. Esperamos acabá-lo antes do fim deste mandato, em dezembro de 2024.
Há espaço para a modalidade crescer?
Sim. Cerca de 200 mil pessoas jogam padel em Portugal. Se fossem todas filiadas seríamos, talvez, a maior federação do país. O nosso desafio é transformar esses 200 mil praticantes sociais em atletas filiados. Portugal pode chegar aos 300 mil jogadores sociais do padel.