O antigo trinco deixou o futebol há uns anos, mas o futebol não "largou" a família Assunção. Gustavo, o filho mais velho de Paulo, é um dos rostos da equipa sensação da Liga. Ao JN, o ex-jogador também falou de outros temas atuais que se cruzam com a carreira bem-sucedida que alcançou.
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Deixou os relvados em 2013. O que faz agora o Paulo Assunção?
De facto deixei de jogar em 2013, mas durante muitos anos, sobretudo no F. C. Porto e no Atlético Madrid, tinha jogos do campeonato, das taças, da UEFA... Agora, simplesmente dedico o meu tempo à família, que esteve privada da minha companhia durante muitos anos.
E nessa família há três filhos que estão a seguir as pisadas do pai.
É verdade, o Gustavo, o João e o Pedro.
Já lá vamos ao Gustavo. Onde jogam os outros dois?
Também estão no Famalicão. O João nos sub-17 e o Pedro, cujo nome tem uma história curiosa, começou agora a jogar no escalão mais novo.
E que história é essa?
A verdade é que ele se chama Pedro Emanuel, como o defesa que jogou comigo no F. C. Porto e que é meu amigo.
Agora é treinador do Almeria.
Certo. Na altura, no F. C. Porto, o Pedro Emanuel era o meu capitão, um exemplo para todo o grupo. Sempre lhe disse que gostava muito do nome dele e que, um dia, iria colocar o nome dele num filho meu. E assim foi...
E a família continua toda junta?
Sim, estamos todos a viver no Porto. O Gustavo vai e vem para Famalicão todos os dias. Este foi o primeiro país que me acolheu. Vivi ótimos momentos no Nacional e no F. C. Porto e, quando surgiu esta decisão de o Gustavo vir jogar para cá, aproveitei para matar saudades. Ele também tem excelentes memórias do Porto.
Quando o Paulo deixou o Porto foi viver para Madrid para jogar no Atlético, como aconteceu também, recentemente, com Felipe e Herrera. Acha que eles vão singrar lá?
Tenho a certeza que sim. Eles têm um grande treinador [Diego Simeone], um profissional que se foca em todos os jogadores de forma igual nos treinos. Por exemplo, se há dois laterais eles treinam de igual forma para estarem preparados para jogar sempre que surja a oportunidade. Por isso, Felipe e Herrera não terão problemas de adaptação e vão render quando forem chamados à ação.
Quem também deixou Portugal, no caso o Benfica, para jogar no Atlético Madrid foi João Félix. Como analisa estes primeiros tempos do avançado no clube?
O João impressionou todo o Mundo. Apesar da tenra idade, é um belíssimo jogador e demonstra ter muita experiência. Neste momento, ele é o "cara" da equipa e, apesar da responsabilidade que tem, está a conseguir demonstrar o que vale. O Atlético Madrid ganhou muito com o João Félix, tal como a seleção portuguesa.
Ficou impressionado com os 126 milhões de euros que o Atlético Madrid desembolsou para o contratar?
Todos dizem que foi muito dinheiro, mas pelo que ele joga, pelo futebol que tem apresentado, estou certo de que valerá o dobro em breve.
Voltando à carreira de futebolista do Paulo Assunção, qual foi o treinador que mais o marcou?
Tenho muito carinho por todos, mas quem me ajudou mesmo muito foi Fernando Santos, no AEK de Atenas. Eu fui jogar para lá com o Bruno Alves e Fernando Santos era como um pai para mim. Aprendi muito com ele, foi com ele que dei o salto, que projetei o meu futebol.
Agora Fernando Santos é selecionador nacional e, curiosamente, até pode chamar o filho mais velho do Paulo para jogar por Portugal.
Sim, pode. O Gustavo tem dupla nacionalidade. E tem muito carinho por Portugal, como tem pelo Brasil. O Gustavo nasceu no Brasil, mas com 30 dias veio viver para cá e, além disso, tem um avô pela parte da mãe que é de Pombal. Ser chamado à seleção seria uma honra para ele e para mim também.
Quanto à atual edição do campeonato português, ficou surpreendido com esta liderança isolada do Famalicão ao fim das primeiras cinco jornadas?
É uma equipa jovem, mas já dá para perceber que tem um grupo muito forte, é isso que têm vindo a demonstrar. Estar à frente de um campeonato como o português ao fim de cinco jornadas não é nada fácil. Fico feliz pelo clube e pelo Gustavo, claro. É o primeiro ano dele como profissional e tanto ele, como os colegas e o treinador estão a fazer uma ótima campanha.
Dos chamados três grandes, quem é que considera que está melhor colocado na corrida pelo título?
Isso é difícil de analisar. F. C. Porto, Sporting e Benfica são três grandes clubes e o campeonato ainda está a começar. O Benfica parecia estar melhor, mas depois o F. C. Porto foi ganhar à Luz, como poderá fazer o Sporting também. Por isso é praticamente impossível prever quem será campeão. São três clubes que têm altos e baixos e tudo pode acontecer. Como se costumar dizer, as contas fazem-se no fim.
Falta pouco mais de um mês para o Famalicão ir jogar ao Dragão para o campeonato. Como vai reagir ao ver o filho Gustavo no estádio que foi a casa do Paulo durante três temporadas?
Já falei sobre isso com o Gustavo. Será daqueles jogos em que a minha barriga vai começar a tremer, mas sei que depois vou relaxar. Ver o meu filho jogar ali, no Dragão, será uma grande alegria para mim. Ainda mais se o Pepe, que foi meu colega no F. C. Porto, também jogar. Sabe que o Pepe esteve na festa do sexto aniversário do Gustavo... Portanto, será muito especial até para o Gustavo que, ainda pequeno, entrou comigo no balneário do F. C. Porto.
O Paulo terá também a oportunidade de cumprimentar Pinto da Costa, por quem sempre revelou ter um grande apreço.
O presidente Pinto da Costa é a grande referência do F. C. Porto. Estava sempre presente, dava-nos um grande apoio. Os adeptos do F. C. Porto não imaginam o clube sem ele. Nós nunca mais nos falamos, mas guardo um grande carinho pelo presidente.
O Gustavo gostaria de jogar num dos três grandes de Portugal?
Todos os jogadores têm vontade de jogar num clube como o F. C. Porto, o Benfica ou o Sporting e ele não é diferente. De qualquer forma, ele está num grande clube, o Famalicão tem um grande projeto para o futuro e está a fazer uma excelente campanha.
Ele terá preferência pelo F. C. Porto por o pai ter lá jogado?
Isso eu não sei [risos]. O Gustavo é jogador profissional e não pode fechar portas.
Então reformulo a questão: o Paulo gostaria de ver o filho mais velho jogar no F. C. Porto?
Eu passei momentos muito bons no F. C. Porto, foi lá que aprendi muito daquilo que me permitiu fazer a carreira que fiz. Naturalmente, ficaria muito feliz se o Gustavo jogasse no F. C. Porto, porque é um clube que fez parte da minha vida e do qual continuo a receber muito carinho. Sempre que me cruzo com adeptos na rua, eles dizem-me que eu era um jogador que dava tudo em campo, que dava tudo por aquela camisola e agradecem-me por isso.
O estilo de jogo do Gustavo é parecido com o do Paulo?
Ele sempre jogou no meio-campo na formação do Atlético Madrid, mas às vezes também fazia a lateral. Agora, no Famalicão, está mais vincado como médio defensivo, que era a minha posição. O treinador [João Pedro Sousa] posiciona-o bem e tem-lhe ensinado muita coisa. Graças a Deus, está tudo a correr bem.
O facto de ser filho de um antigo jogador facilita a vida ao Gustavo?
Pelo contrário. Por ser filho de um jogador, nas equipas de formação do Atlético Madrid, ele tinha que dar mais provas do que os outros meninos, porque a cobrança era maior. Os adeptos do clube diziam que ele jogava por causa do pai que tinha e isso feria-o, por vezes até chorava. Foram momentos difíceis, mas a verdade é que tudo o que ele conquistou foi por mérito dele, eu nunca falei com um treinador ou com um dirigente do Atlético Madrid para ele jogar.
Mas, ao contrário do Paulo, que precisou do futebol para conseguir a independência financeira, o Gustavo já nasceu num "berço de ouro". Isso oferece-lhe outra tranquilidade para encarar o futebol?
Não creio que seja por aí. O Gustavo gosta de futebol desde pequeno e faz o trabalho dele para ser feliz. Ele tem o sonho de jogar um Campeonato do Mundo e sabe que tem de trabalhar para isso. Ele sabe como são as coisas, viveu com muitas pessoas com muito dinheiro, mas também viveu com outras que não tinham nada. Aprendeu a lidar com isso. Eu vim de uma família humilde e, quando vamos de férias para o Brasil, estamos com essa gente humilde, esses amigos e família. Andamos de chinelos... O Gustavo quer construir o caminho dele.
Paulo Assunção
Data de nascimento: 39 anos (25/01/1980)
Nacionalidade: Brasileira
Clubes: Palmeiras e São Paulo (Brasil); Nacional e F. C. Porto; AEK (Grécia), Atlético Madrid e Deportivo da Corunha (Espanha)
Títulos: Copa do Brasil, Campeonato português (3), Taça de Portugal (2), Supertaça nacional, Liga Europa (2) e Supertaça Europeia