Pinto da Costa perde a batalha contra o cancro e morre aos 87 anos, dez meses depois de ter deixado de ser presidente do F. C. Porto.
Corpo do artigo
A notícia mais temida pelos adeptos do F. C. Porto surgiu ao início da noite de ontem. Pinto da Costa morreu aos 87 anos, após passar os últimos três a lutar contra um cancro na próstata, e apenas dez meses depois de ter deixado a presidência dos dragões, que ocupou entre abril de 1982 e abril de 2024. Nesse período, tornou-se o dirigente desportivo mais titulado do Mundo, transformando por completo o F. C. Porto, que passou a ser um clube ganhador, dentro e fora das fronteiras do futebol português. O velório decorre a partir das 18 horas de hoje, na igreja das Antas, e o funeral acontecerá amanhã, às 11 horas, no mesmo local.
Na nota em que deu conta do desaparecimento do ex-presidente, o clube azul e branco fala de um “legado único” e os factos das últimas quatro décadas não deixam qualquer dúvida. Durante 42 anos, Pinto da Costa ganhou 2591 títulos, 68 dos quais com a equipa de futebol, sendo que, antes de assumir a presidência, o F. C. Porto só tinha 16 no chamado desporto-rei.
“O maior clube do Norte tornou-se o melhor clube português e cresceu dos níveis local e regional para as escalas europeia e mundial. Sem nunca esquecer as raízes, o F. C. Porto cresceu com a cidade e a cidade cresceu com o F. C. Porto. O clube tem mais de 131 anos de história, mas há um antes e um depois de Jorge Nuno Pinto da Costa”, pode ler-se no texto publicado pelo site oficial dos dragões.
Seccionista e dirigente de várias modalidades desde o final dos anos 1950 do século passado, Pinto da Costa chegou ao departamento de futebol em 1977 e, cinco anos depois, concorreu às eleições para se tornar o 31.º presidente do F. C. Porto. Nas décadas seguintes, mudou a face do futebol português e a promessa de levar o clube a uma final europeia só demorou dois anos a ser concretizada: em 1984, os dragões estiveram na decisão da Taça das Taças e a derrota com a Juventus seria mesmo a única que sofreram nas finais que viriam a disputar. Em 1987 e 2004, a equipa azul e branca ganhou a Taça/Liga dos Campeões e em 2003 e 2011 conquistaram a Taça UEFA/Liga Europa, juntando-lhes duas Taças Intercontinentais e uma Supertaça Europeia.
Contas feitas, Pinto da Costa conduziu o F. C. Porto à conquista de sete troféus internacionais, mais do dobro dos conquistados pelos outros clubes portugueses (o Benfica tem dois e o Sporting um). A nível interno, o dirigente ganhou 23 campeonatos (o primeiro em 1985 e o último em 2022), 15 Taças de Portugal, 22 Supertaças e uma Taça da Liga, num palmarés que a eternidade tornará inigualável.
Fora do campo, sem nunca fugir a uma boa polémica em defesa do F. C. Porto, tanto a nível desportivo como político, Pinto da Costa também deixa ao clube uma obra grandiosa, da qual o Estádio do Dragão, a que recusou dar o nome, inaugurado a 16 de novembro de 2003, será o maior orgulho. Entre as outras infraestruturas construídas, contam-se o pavilhão Dragão Arena, inaugurado em 2009, e o Museu do clube, aberto em 2013 e considerado um dos mais espetaculares à escala mundial.
No combate até ao fim
Uma análise fria aos derradeiros anos de presidência de Pinto da Costa levará à conclusão de que os resultados da última década não foram iguais aos dos primeiros 30 anos no cargo. O dirigente teve inúmeras oportunidades para sair em glória do F. C. Porto, mas preferiu sempre continuar no combate, a ponto de ter concorrido às eleições de abril passado quando o estado de saúde já o desaconselhava claramente e havia sinais de desgaste entre a própria massa associativa portista, como os resultados da votação viriam a confirmar.
Mesmo com a situação financeira do clube e da SAD cada vez mais periclitante, e com resultados desportivos menos pujantes (no futebol, o F. C. Porto perdeu os dois últimos campeonatos e ganhou apenas três dos últimos dez), Pinto da Costa decidiu ir à luta com André Villas-Boas para, segundo o próprio, realizar o sonho de finalizar o ýderradeiro grande projeto que tinha para o clube, a construção de uma academia. Viria, no entanto, a perder o ato eleitoral de forma clara, com 20% dos votos contra 80% do adversário, saindo do cargo de uma forma que há poucos anos era impensável.
“A partida do presidente dos presidentes deixa o F. C. Porto órfão da sua maior figura, do principal obreiro das grandes vitórias e do responsável máximo pela construção de uma identidade e de um legado inconfundíveis. Jorge Nuno Pinto da Costa viverá eternamente na memória e no coração de todos os portistas”, conclui a nota oficial dos dragões.