O presidente do F. C. Porto, Pinto da Costa, fez uma sentida homenagem ao bibota Fernando Gomes, no editorial que assina na edição de dezembro da revista Dragões. "Escrevo para recordar um grande símbolo do F. C. Porto - Fernando Gomes - que partiu e nos deixou a todos mais pobres, cheios de saudade", escreve o líder azul e branco.
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Pinto da Costa recorda todas as conquistas do avançado, falecido no passado dia 22 de novembro, mas lembra o mais importante: "Mas do que sinto mesmo falta é do seu convívio. Foram dezenas de anos a viver e a conviver com uma paixão comum, o F. C. Porto. Recordarei para sempre os seus golos, as suas vitórias e os seus exuberantes festejos", acrescenta o presidente portista, antes de evocar as "centenas de abraços em momentos felizes".
"Mas há três que recordo e nunca esquecerei: o primeiro, quando, em 1982, depois da minha eleição como presidente, me desloquei a Gijón para o fazer regressar ao seu clube de coração. O segundo quando o convidei para fazer parte da minha atual Direção. À sua declaração - ´É um sonho que nunca acreditei ser realizável' - seguiu-se um forte abraço".
"O terceiro e último abraço foi o mais doloroso da minha vida. O Fernando já não recebia visitas [ndr: no hospital], mas insistia com a sua mulher, a sua querida Xana, para que o visitasse. Autorizado pelo seu médico, desloquei-me ao hospital onde se encontrava. Trocámos opiniões sobre a formação do F. C. Porto, de que era responsável, e da vida do clube em geral. Cerca de 20 minutos depois do início da nossa conversa, perfeitamente lúcido, mas muito cansado, quando nos despedíamos, pediu à sua Xana que o ajudasse a levantar. Admirada, ela perguntou-lhe: 'queres ir ao quarto de banho?'. E o Fernando respondeu-lhe: 'Quero dar um abraço ao presidente'. Assim trocámos o nosso último abraço", relata Pinto da Costa.
"Um mês depois deixou-nos. Não foi o último abraço, Fernando! Foi o penúltimo, pois um dia estarei junto de ti, para te abraçar com toda a amizade com que vivemos 46 anos. Até sempre, Fernando!", conclui Pinto da Costa.
"Critico seja quem for"
Ainda na edição de dezembro da revista Dragões, o presidente foi entrevistado a propósito da fotobiografia "Largos Anos têm 14.600 dias", com destaque para a abordagem à forma como reage quando sente que o clube é prejudicado.
"O meu compromisso com o F. C. Porto leva-me - desde que o F. C. Porto esteja a ser prejudicado e tenha razão - enfrentar políticos, não políticos, seja quem for", começa por dizer Pinto da Costa, antes de dar o exemplo da relação que mantém com o primeiro-ministro, António Costa.
"Agora, depois desses confrontos não quer dizer que não possa ter boas relações. Tenho enfrentado o dr. António Costa porque há coisas inacreditáveis que acontecem no desporto, mas com ele pessoalmente tenho boas relações. Até nos rimos muito quando estamos juntos e devo-lhe algumas deferências. Lembro-me de que quando ele era o presidente da Câmara de Lisboa fizemos um jantar de Natal na nossa delegação e ele ia mandar lá um vereador. Quando soube que eu ia estar presente, substituiu o vereador e foi lá ele mesmo pessoalmente. Isto é um gesto de grande respeito pelo F. C. Porto, que nunca esqueci. À parte disso, se entender que o F. C. Porto está a ser prejudicado, dentro dos limites da educação que felizmente tenho, critico seja quem for", garante.
No mesmo artigo, Pinto da Costa reconhece a relação especial que tem com dois antigos jogadores do clube e que se mantêm em funções na estrutura azul e branca. "Sempre gostei de todos os jogadores, mas lembro-me de dois casos com que tinha muito cuidado. Um era o Vítor Baía, porque, pelo feitio dele, quando acabava um jogo vinha-me abraçar e parecia que era o meu preferido. Tinha, como toda a gente, grande admiração por ele, mas não era preferido, era bom. E gosto mais dos que são melhores, como é evidente", explica Pinto da Costa, antes de abordar o atual técnico da equipa principal.
"E depois, curiosamente, foi com o Sérgio Conceição, porque tinha um carinho especial por ele, que conheço desde os 15 anos, quando ele veio para o F. C. Porto sozinho. Além disso era um grande jogador que esteve ligado a grandes momentos. (...) O [José] Mourinho dizia muitas vezes ao Reinaldo [Teles] que o Sérgio era meu afilhado. E eu disse-lhe: 'É afilhado porquê? Não é meu afilhado. Têm de compreender que o conheço desde menino...'. Então eu tinha um certo cuidado, publicamente, de não passar a imagem de que era diferente dos outros, porque não era, só que o Sérgio era muito exuberante também, sentia o F. C. Porto como poucos e dava naturalmente grandes fotos", remata o presidente portista.