Ao longo dos 42 anos em que liderou os destinos dos dragões, foram muitas as batalhas que Pinto da Costa travou, em defesa do F. C. Porto e do Norte do país.
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Contratações de Futre e Rui Águas
Verão de 1984. A Federação Portuguesa de Futebol tinha aprovado um regulamento que permitia aos jogadores rescindirem com os clubes alegando falta de condições psicológicas e, num ápice, o Sporting recruta Jaime Pacheco e Sousa ao F. C. Porto. Pinto da Costa reúne-se com a restante direção do F. C. Porto para decidir como contra-atacar e a primeira opção é Rui Jordão, mas com Fernando Gomes no plantel portista o presidente decidiu tomar outro rumo. Paulo Futre, um jovem talento que havia visto jogar pelos juniores um ano antes, ruma às Antas e acaba por se tornar numa das grandes figuras na conquista da Taça dos Campeões Europeus de 1987. Dois anos depois, nova guerra com o outro clube da Segunda Circular. O Benfica contrata Ademir, um alvo portista, ao V. Guimarães e o F. C. Porto avança por Rui Águas, que passa duas temporadas nas Antas, onde foi o melhor marcador da equipa, antes de voltar ao Benfica.
Penhora da retrete abre guerra no futebol
No início dos anos 1990 os clubes portugueses acumulavam dívidas ao Fisco e à Segurança Social, com o F. C. Porto a apresentar, no final de 1993, a caderneta predial do Estádio das Antas e de um edifício contíguo - onde se encontrava o balneário dos árbitros e a famosa retrete - como garantia para a dívida de 200 mil contos (um milhão de euros). Em março do ano seguinte, o Ministério das Finanças emite o auto da penhora do estádio, do balneário e respetiva retrete, a nação portista revolta-se e recebe o apoio dos rivais Benfica e Sporting. O ministro das Finanças, Eduardo Catroga, substitui o diretor-geral das contribuições e impostos e escolhe Próspero Luís que, antes de tomar posse, afirma: “o Estado já tem o Estádio Nacional, por que não ter outro no Porto?”. Conclusão, acabou por nem sequer tomar posse. A situação resolveu-se com uma garantia bancária de 400 mil contos apresentada por Valentim Loureiro, então presidente da Liga e amigo pessoal de Pinto da Costa, e, em 1998, o Estado aceita, finalmente, as receitas to Totobola como forma de liquidação das dívidas ao Fisco por parte dos clubes.
A batalha com Rui Rio que travou o Dragão
A construção do Estádio do Dragão não se fez sem uma grande polémica à mistura. Com o Europeu de 2004 à vista, o clube assina um protocolo com a Câmara Municipal de Porto (CMP) para a requalificação da zona das Antas, que incluía o futuro recinto dos azuis e brancos e, também, um centro comercial com 40 mil metros quadrados de área. Depois de a Câmara reabrir a discussão pública do projeto - por não ter respeitado os 60 dias úteis previstos -, a Associação de Comerciantes apresenta uma queixa por não concordar com a existência de um hipermercado, que não estava, sequer, no projeto. Entretanto, Rui Rio assumiu a presidência da CMP e decide reduzir a área do centro comercial para dez mil metros quadrados, algo que o Grupo Amorim, futuro dono do espaço não aceitou. Sem poder cumprir os pagamentos, devido a este problema, Pinto da Costa decide mandar parar as obras do Estádio do Dragão, e a guerra com Rui Rio só terminou depois da intervenção do então Presidente da República, Jorge Sampaio, que fez cumprir o Plano de Pormenor das Antas e o acordo com a CMP. E o Estádio do Dragão tornou-se uma realidade.
Apito Dourado marcou uma era
O caso que abalou o futebol português no início do século atingiu vários clubes e dirigentes, entre os quais o F. C. Porto e Pinto da Costa. As escutas realizadas pelas autoridades motivaram várias acusações de corrupção, tráfico de influências, agressões a dirigentes desportivos e coação sobre equipas de arbitragem, mas a justiça civil acabaria por considerar as escutas ilegais, absolvendo o presidente portista. Em paralelo, correu o Apito Final, instaurado pela Liga Portuguesa de Futebol, que condenaria Pinto da Costa a uma suspensão de dois anos e o F. C. Porto à perda de seis pontos e a uma multa de 150 mil euros por tentativa de suborno. No entanto, tanto o líder como o clube seriam ilibados após apresentarem recurso para o Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol.
Caso dos emails fez manchetes
O antigo diretor de comunicação do F. C. Porto, Francisco J. Marques, revela, em 2017 no Porto Canal, emails do Benfica para expor um alegado esquema de corrupção com árbitros que tinha como objetivo beneficiar as águias. A justiça entra em campo, faz buscas no Estádio da Luz e nas residências de Luís Filipe Vieira, à altura líder dos encarnados, Paulo Gonçalves, assessor jurídico da SAD benfiquista, e várias outras pessoas ligadas ao caso. Um ano depois, o Tribunal da Relação do Porto impede os dragões de continuarem a revelar emails do Benfica e, entretanto, Francisco J. Marques e o F. C. Porto foram condenados, pelo Supremo Tribunal de Justiça, por violação de correspondência agravada a pagar uma indemnização de um milhão de euros ao Benfica. No entanto, o caso dos emails segue em tribunal e o Benfica vai mesmo ser julgado, após ter abdicado da fase de instrução, pelos crimes de corrupção ativa e fraude fiscal.
Eleições de 2024: a última grande batalha
A polémica assembleia-geral de novembro de 2023 dividiu a nação portista e depois de André Villas-Boas anunciar a candidatura à presidência, a 10 de janeiro de 2024, Pinto da Costa faz o mesmo duas semanas depois. Seguiu-se uma longa e polémica campanha eleitoral e, a 27 de abril, nas eleições mais concorridas de sempre da história do clube, Pinto da Costa é derrotado e deixa o F. C. Porto após 42 anos de presidência.