Sete processos resultaram em condenações, quatro estão no Ministério Público e três em instrução. Flagelo volta à ordem do dia, depois da bronca do jogo da Champions.
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A imagem entrou pelos ecrãs das nossas casas e voltou a colocar o racismo na agenda do dia. No jogo da Liga dos Campeões entre PSG e Basaksehir, o quarto árbitro, o romeno Sebastian Coltescu, ter-se-á referido ao camaronês Pierre Achille Webo como "aquele negro" para avisar o árbitro Ovidiu Hategan dos protestos do adjunto da formação turca. A partir daí, instalou-se a confusão e não houve mais jogo. O mesmo foi retomado no dia seguinte, mas com uma nova equipa de arbitragem. Este é o último caso que se junta a uma extensa lista e que envergonha o mundo do desporto.
Portugal não é exceção e todos se lembram perfeitamente do momento triste ocorrido em Guimarães, em fevereiro deste ano, a envolver Marega. O racismo continua a ser uma doença do mundo novo, mas a vigilância tem sido cada vez mais apertada. Desde 2019, Portugal regista 17 casos de racismo, segundo dados oficiais da Autoridade para a Prevenção e Combate à Violência no Desporto (APCVD) a que o JN teve acesso. Dez remontam unicamente ao ano anterior, sendo que cinco resultaram em condenações, dois foram remetidos ao Ministério Público (MP), por concurso com crime, dois encontram-se em fase instrutória e apenas um foi arquivado, por impossibilidade de identificar ou notificar o infrator.
Já neste insólito ano de 2020, onde só houve desporto com público até meio de março, somaram-se sete casos, sendo que dois acabaram em condenação, dois foram remetidos ao MP e três estão em instrução.
Estes dados reportam-se apenas às infrações comunicadas à APCVD, não incluindo os dados relativos a infrações comunicadas diretamente ao MP.
O caso que criou ondas de choque no futebol português já implicou a realização de três jogos à porta fechada e uma multa pesada para o V. Guimarães, mas o mesmo ainda se encontra a correr nos tribunais, estando em fase de recurso. O processo resultou em três arguidos, que, como medida preventiva, estão proibidos de frequentar recintos desportivos.
A investigação alega que os arguidos estavam a entoar cânticos a imitar macacos, o que pode constituir o crime de discriminação, incitamento ao ódio e à violência, punível com pena de prisão.
Episódios que mancham o futebol
Marega abandona relvado em Guimarães
Em fevereiro deste ano, o avançado maliano do F. C. Porto, Moussa Marega, deixou o relvado em Guimarães, depois de ter marcado um golo e ter sido alvo de insultos racistas. O atacante não suportou as provocações das bancadas e saiu do terreno de jogo, apesar dos colegas, adversários e o treinador terem tentado demovê-lo. Três adeptos ficaram impedidos de entrar em estádios e o Vitória foi punido com três jogos à porta fechada.
Dani Alves come banana atirada da bancada
Um dos momentos icónicos na luta contra o racismo foi protagonizado por Dani Alves, na altura ao serviço do Barcelona. Em 2014, frente ao Villarreal, o jogador ia bater um pontapé de canto mas antes comeu uma banana que tinha sido atirada da bancada, como forma de protesto contra o ato racista. "Há que brincar com estes atrasados. O meu pai sempre me disse para comer banana que evita cãibras", comentou o brasileiro, no fim do encontro.
Taison reage a insultos e acaba expulso
Na época passada, num dos principais jogos da liga ucraniana, Dínamo Kiev-Shakhtar Donetsk, o brasileiro Taison não aguentou mais os cânticos racistas e reagiu com um gesto obsceno para a bancada, atirando ainda a bola. O jogador acabou por ser expulso e deixou o relvado lavado em lágrimas. "Jamais me irei calar diante de um ato tão desumano e desprezível. As minhas lágrimas foram de indignação, repúdio e impotência", disse Taison.
Balotelli enfrenta ultras e faz golaço
O excêntrico Mario Balotelli não escapou ao flagelo. Com a camisola do Brescia, em 2019, o avançado fartou-se de ouvir sons de macacos e pontapeou a bola em direção aos "ultras" do Verona. O árbitro ainda lhe deu o amarelo, mas quando percebeu o motivo do ato recuou na decisão. O jogador ameaçou sair do campo, mas os colegas convenceram-no a ficar e Mario fez grande golo perto do fim, ainda que insuficiente para evitar a derrota (2-1).
Bernardo Silva e o "tweet" do conguito
Este é um dos casos mais peculiares dos últimos tempos e envolve Bernardo Silva, internacional português do Manchester City. O jogador foi acusado pela Federação Inglesa de Futebol de conduta imprópria, depois de ter publicado um "tweet" onde comparava o colega de equipa Benjamin Mendy a um "Conguito", mascote de uma marca de chocolates. A brincadeira valeu mesmo a suspensão por um jogo, além de uma multa de 58 mil euros.
Prince Gouano pára e passa mensagem
O central Prince Gouano, que teve passagens por Portugal com as camisolas do Rio Ave e V. Guimarães, quis deixar o campo no Dijon-Amiens, da liga francesa, da época passada, em sinal de protesto com adeptos. "Ouvi barulhos, gritos de macaco, e um homem a apontar para mim. Isto é inadmissível, estamos no século XXI. Há cores diferentes, mas somos todos seres humanos. Parei porque quis passar uma mensagem de amor", disse o defesa.