Equipa multidisciplinar, dirigida pelo Ministério Público de Guimarães, pode constituir centenas de arguidos, alguns deles já referenciados.
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Não há memória de um processo com tantos indivíduos a serem investigados pelas autoridades como o que está a ser coordenado pelo Ministério Público (MP) de Guimarães, após os insultos racistas a Moussa Marega, no jogo entre o V. Guimarães e o F. C. Porto.
As autoridades já identificaram mais de 10 adeptos, mas há centenas de outros que estão a ser investigados pois aparecem nas imagens de videovigilância. São quase todos da parte inferior, direita e central, da bancada nascente, fora da zona destinada às claques. Estavam a entoar sons de símios dirigidos ao avançado do F. C. Porto durante os momentos em que o jogador abandonava o campo e nos minutos anteriores.
A PSP não divulga o número exato de adeptos que estão a ser investigados, até porque o trabalho de identificação dos suspeitos continua e é demorado, pois é preciso chegar ao nome e morada de cada um. Ainda assim, fonte oficial da PSP informou o JN que espera ter o trabalho concluído "em breve".
Caso sejam identificados todos os adeptos que entoaram barulhos racistas, este vai ser o processo com o maior número de arguidos, de sempre, em Portugal. Semelhante, só o megaprocesso da rede de corrupção de cartas de condução designado "carta branca", que constituiu 229 arguidos em dois julgamentos, em Bragança.
A equipa que está a analisar as imagens de videovigilância, da transmissão televisiva e vídeos amadores é coordenada pelo MP de Guimarães e é composta por cerca de 10 elementos da PSP, "stewards", dois procuradores da República e elementos do Ponto Nacional de Informações sobre Desporto. Em termos processuais ainda não há arguidos constituídos, mas as notificações aos já identificados podem começar a ser enviadas em poucas semanas.
A investigação aos insultos dirigidos a Marega está a ser coordenada pelo procurador Armando Marinho de Sousa, responsável pela 1.ª Secção do DIAP do Ministério Público de Guimarães, da Comarca de Braga, que trata dos crimes mais violentos no distrito em geral e com enfoque no fenómeno desportivo. Armando Marinho de Sousa, de 60 anos, natural de Celorico de Basto, distrito de Braga, tem-se destacado no trabalho pioneiro da Comarca de Braga em que são monitorizados adeptos mais perigosos, em articulação com outros magistrados, principalmente com um outro procurador do MP, Ricardo Tomás, que levou à interdição de cerca de 60 associados e simpatizantes de clubes de futebol e modalidades de todo o país em menos de meio ano.
Segundo apurou o JN, os magistrados iniciaram, na quarta-feira, diligências no terreno, em articulação com a PSP, para a identificação dos adeptos do Vitória que insultaram Marega. Já estão na posse de registos oficiais e oficiosos e das imagens que permitirão, em princípio, constituir meio de prova para chegar aos autores dos crimes.
Foi esta mesma equipa de magistrados que, em articulação com a Polícia Judiciária, investigou o homicídio de João Paulo Fernandes. O empresário foi raptado em Braga à frente da filha de oito anos e depois estrangulado, tendo sido colocado num boião de ácido sulfúrico, envolvendo entre os principais autores os irmãos Bourbon (os advogados Pedro e Manuel, mais o economista Adolfo), a par de Emanuel Marques Paulino, o "Bruxo da Areosa", todos condenados a 25 anos de prisão.
Há cerca de 30 anos, Armando Marinho de Sousa interessou-se pelo ténis, acabando por passar o gosto a um dos filhos, João Sousa, que, entretanto, se tornou o maior tenista português de todos os tempos. Joaquim Gomes