Octávio Pudivitr, pugilista do Sporting, sobe este sábado ao palco da atual Meca do Boxe, em Riade, para discutir o cinto da WBA frente a Daniel Lapin. Atleta conta dramática história de vida, não tem patrocinadores lusos e gostaria de ver Ronaldo e JJ nas bancadas. Amorim aceitou combate, mas impede-o de usar as mãos.
Corpo do artigo
É já na tarde deste sábado, em Riade, Arábia Saudita, que o pugilista português Octávio Pudivitr, natural de Moçambique e a residir no Porto, entra na batalha pela conquista de mais um título mundial a juntar aos da UBO e WBU – Organização de Boxe Universal e União Mundial de Boxe. Uma luta inserida no mega evento no atual santuário da modalidade, que terá como prato principal o título de pesos pesados da WBA, entre o inglês Tyson Fury, 35 anos, detentor do título da WBC (Conselho Mundial de Boxe), e o ucraniano Oleksandr Usyk, de 37, campeão da WBA, WBO (Organização Mundial de Boxe) e IBF (Federação Internacional de Boxe), com um prémio entre os 30 a 50 milhões de euros.
Noutro plano monetário, 15 a 40 mil euros, mas não menos relevante na vertente desportiva, Octávio Pudivitr, o pequeno Mike Tyson, devido às semelhanças físicas, mas também pelo estilo de combate do antigo campeão americano, “promete dar tudo e ficar no ringue” para vencer Lapin e colocar “Portugal no mapa do boxe”.
Aos 36 anos, apenas cinco e meio no boxe e dez combates – nove vitórias e uma derrota –, explica o principal motivo da dedicação à modalidade que abraçou com as cores do Sporting.
“A verdadeira razão foi um dos meus filhos, um dos gémeos, que teve um cancro muito grave. Procurei algum escape. Estava sem chão, não consegui lidar com as emoções e fui para o boxe como escape, para ver se conseguia bater em alguma coisa, pois no “Jiu-jitsu” só conseguia apertar. E bati tanto no saco para tirar aquela raiva”, conta Pudivitr, em declarações ao JN.
“Culpo-me, muitas vezes, pois não fui um pai presente, não consegui lidar com a situação. O meu filho só tinha três anos, era muito pequeno. Não conseguia ver a quimioterapia, o choro. Tinha cancro no umbigo. Quando mais fazia quimioterapia, mais fraco ficava. E quando paravam, o tumor crescia e não conseguia urinar. Não consegui estar presente, ver aquele sofrimento de perto. Foi mais forte do que eu. O boxe foi o meu escape e tirou-me de uma depressão profunda”, destaca.
Depois do drama inimaginável do filho, o pugilista teve uma lesão grave – fraturou uma perna – e ainda antes de se “levantar” enfrentou a morte do pai. “Em Portugal, é difícil viver do boxe, não há patrocínios. Tinha decidido que ia parar, pois tenho oito filhos, e a modalidade não era suficiente para os sustentar. O meu pai morreu de covid, há cerca de três anos. E foi quando fui realmente abaixo. Tinha sido muita coisa. Desisti. Estive quatro meses de cama. Veio tudo ao de cima e fui ao charco”, revela.
Uma chamada do agente a prometer um combate dali a três meses abriu-lhe a porta para uma renovação de forças. “Não entendia quando as pessoas falavam que tinham ansiedade e depressão. Mas tens porquê? Tens casa! Carro! Comida! Sol! Há gente em África em pior situação. Mas quando me calhou a mim, vi que todos temos um limite de aguentar. Cheguei ao meu e o boxe salvou-me”, asublinha.
Profundamente religioso, Pudivitr acredita que Deus e os tempos difíceis prepararam-no mentalmente. “Fui forjado pela dor e hoje sou muito melhor pessoa. Estou no maior palco do mundo com apenas dez combates. É o momento mais alto da carreira de qualquer atleta. Riade é a Meca do boxe mundial e com Las Vegas são os polos mais importantes”, refere.
No seu caso, antevê uma luta inteligente que tanto pode dar KO como um triunfo aos pontos após dez assaltos.
Numa cidade com várias estrelas do futebol mundial, Pudivitr, que tem amigos no Al Hilal que vão assistir ao combate, gostava de poder contar com Cristiano Ronaldo e Jorge Jesus na plateia. “Era muito bom tê-los aqui. Nada melhor do que eles para um apoio além fronteiras”, refere.
O pugilista antevê “mais três ou quatro anos na alta competição”, num ambiente difícil e para o qual deixa um alerta: “Em Portugal não se consegue nem apoios, o que se quiser dar, nem patrocínios, mais frequentes, e muito menos investidores. É muito complicado e fizemos omeletes, literalmente, sem ovos para aqui chegar”. Mas tem patrocinadores? “Dois em Espanha“. E em Portugal? “Nenhum”.
À margem da modalidade, Pudivitr admite ser um fanático adepto do leão e fã de Ruben Amorim, que treina boxe, e ao qual deixou o repto para um combate.
“Fiz o desafio para treinar comigo e disse-me muito bem, mas que eu não podia usar as mãos. Fica complicado, mas acho que só com as esquivas não me acerta“, conclui Pudivitr, com um sorriso.