Pape Souaré sofreu um acidente de automóvel. Depois de 373 dias de recuperação, voltou a marcar presença num jogo de futebol
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A vida de Pape Souaré deu muitas voltas no último ano. Bem mais do que as que ele previa. Um acidente só não o matou por pouco e foi por centímetros que não o atirou para o resto de uma vida resignado a uma cadeira de rodas. Aos 27 anos, ainda ouviu que a carreira teria de ficar esquecida e, no meio de tudo isto, também viu o cancro tirar-lhe o pai. Mas ele resistiu e na passada terça-feira voltou a jogar pela equipa principal do Crystal Palace.
Quando Pape Souaré acordou do desmaio, segundos depois de o Mercedes que conduzia se ter espatifado contra um muro, tinha uma das pernas presa e a cara desfeita. Ao lado, já um homem lhe segurava a mão e o acalmava, impedindo-o de se entregar ao pânico. "Fica comigo", segredou-lhe. E ele ficou.
O teto do carro teve que ser cortado e só depois disso é que um helicóptero transportou Souaré para um hospital de Londres num estado pouco animador. Diagnótisco: fratura do fémur e do maxilar. Nada mau para quem só fintou a morte por milagre e ficou a saber que só não ficou paraplégico porque o impacto foi uns centímetros mais acima da coluna. O cenário, definitivamente, não era famoso, mas havia mais. Em França, para onde Souaré emigrou ainda criança, o pai definhava por causa de um cancro e morreria em dezembro.
Foi debaixo destes escombros que Pape Souaré começou a reerguer-se. As operações a que foi submetido obrigaram-no a uma alimentação contida e controlada, e nas primeiras semanas as muletas foram as duas melhores amigas. A perna afetada no acidente não dava grandes sinais de vida e o primeiro passo da prolongada recuperação foi simplesmente reaprender a andar.
À custa de incontáveis horas de fisioterapia, os músculos foram-se reconstruindo e, para espanto de todos, seis meses depois do acidente era ver o futebolista, nascido no Senegal, a correr, devagarinho, é certo, pelos campos do centro de treinos do Crystal Palace. Outro meio ano foi quanto lhe custou a recuperação plena.
Trezentos e setenta e três dias depois do acidente, Pape Souaré deu sentido a toda esta história de superação. Voltou a pisar o relvado do Selhurst Park e logo com uma vitória. Não o encontrou nas bancadas, mas, esteja onde estiver, o patriarca estará orgulhoso.