Coroado como o grande vencedor da 29.ª edição do Grande Prémio de Ciclismo Jornal de Notícias/Leilosoc, Ricardo Mestre falou da sensação de se reencontrar com o doce sabor do triunfo, sete anos depois de ter conquistado a última corrida por etapas, partilhando todos os detalhes da estratégia dos dragões.
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Descarregada a adrenalina da vitória, qual é a sensação de voltar a terminar uma prova com a camisola amarela?
É uma sensação de dever cumprido, de ter retribuído aos companheiros de equipa todo o apoio que me deram ao longo da prova. Sabíamos que tínhamos vários atletas que podiam ganhar, mas desta vez tocou-me a mim. Várias vezes a minha missão é ajudar os outros a vencer, mas acreditava que um dia ia surgir esta oportunidade. Tenho de agradecer ao Nuno Ribeiro que acreditou muito em mim.
A etapa em VN Gaia, onde integrou uma fuga que chegou com uma boa vantagem, foi o momento decisivo da corrida?
A partir daí a corrida ainda mexeu muito, e ainda tivemos uma falha, no dia seguinte [na chegada a Valongo], em que deixámos o Joni [Brandão, da EFAPEL] ganhar algum tempo, o que podia ser complicado. Mas, depois, controlámos a prova e creio que a camisola amarela nunca esteve em perigo.
Sentiu que era do Joni Brandão que vinha a maior ameaça à liderança?
Sim, juntamente com o Alejandro Marque [Sporting/Tavira]. Eram os adversários que estavam mais fortes e mais perto na classificação. O Joni demonstrou que era um dos ciclistas mais em forma na corrida, mas consegui estar sempre junto dele, mantendo a distância controlada.
A W52/F. C. Porto esteve sempre na liderança da prova, primeiro com o Rafael Reis, e depois consigo. Foi essa a estratégia delineada desde o início?
Mais ou menos, porque o principal objetivo era não nos desgastarmos antes do contrarrelógio por equipas, pois sabíamos que ia ser um ponto decisivo na corrida. Aí jogamos ao ataque, e tive a felicidade de ir para a frente.
O triunfo neste Grande Prémio JN é um momento que dá especial prestígio ao seu currículo?
É uma corrida muito importante, que está a ganhar progressão no calendário nacional, e que ajuda a trazer mais gente à estrada e a fazer o ciclismo crescer. Fico feliz por a vencer. Mas todas as vitórias são bem-vindas e quantas mais poder adicionar ao meu currículo melhor.
Foi também a quarta vitória consecutiva para a W52/F. C. Porto nesta prova, que se realiza no Norte e em que vocês são especialmente acarinhados...
Sem dúvida, a correr na Região Norte ouvimos com muita frequência as pessoas a gritarem pelo nome do F. C. Porto. É muito motivante para nós que vamos na estrada, em esforço. Ajuda-nos nos momentos mais difíceis.
E com uma presença assídua do presidente Pinto da Costa junto da equipa em várias etapas...
É uma pessoa que nos dá força para vencer, e que ajuda a provar que esta modalidade está bem viva, e que não é menor que outras. Sabemos que não conseguimos chegar a tanta gente com o futebol, mas também sentimos que damos muitas alegrias aos nossos adeptos.
Sentiu que regresso ao ciclismo de clubes como o F. C. Porto ou o Sporting foi importante?
Creio que sim, o ciclismo tem evoluído muito nos últimos anos, e espero que haja mais clubes que possam seguir este passo dado pelo F. C. Porto e se juntem ao pelotão nacional.
Esta vitória no Grande Prémio JN já abre o "apetite" para a prestação na Volta a Portugal?
Já podemos pensar nisso, mas o importante foi ter sensações positivas. Agora é descansar alguns dias, e retomar a preparação da Volta, onde, mesmo sabendo que terei outra missão, vou dar o meu melhor pela equipa.
Quem são as primeiras pessoas em que pensa se lhe pedisse para dedicar esta vitória?
A família, com os meus filhos Lara e Tomás, a minha esposa, que estão sempre comigo. E aos meus companheiros de equipa, que são uma segunda família que ficará para toda a vida.
Com 35 anos, e já com uma Volta a Portugal no currículo, que ambições tem na carreira?
Sinto que ainda tenho muito para dar ao ciclismo, e mesmo que tenha outras missões na equipa, como deve acontecer na Volta a Portugal, vou estar sempre preparado para dar o meu melhor.