Israel classificou, esta sexta-feira, como uma "decisão vergonhosa" a aprovação na ONU de uma declaração que fortalece a solução de dois Estados para o conflito israelo-palestiniano e alertou que é um incentivo ao grupo islamita Hamas.
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"Israel rejeita categoricamente a decisão da Assembleia-geral da ONU", reagiu o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel, Oren Marmorstein, na rede social X, na qual criticou uma "decisão vergonhosa" que mostra uma organização transformada num"circo político alheio à realidade".
A Assembleia-geral da ONU adotou por larga maioria a "Declaração de Nova Iorque", que visa fortalecer a solução de dois Estados, com Israel e Palestina lado a lado e excluindo o grupo extremista Hamas.
O texto, preparado por França e Arábia Saudita, foi aprovado com 142 votos a favor, incluindo Portugal, e 10 contra, num pequeno grupo de países que integra Israel, Estados Unidos, Argentina e Hungria. Doze outros estados abstiveram-se.
"Nas dezenas de cláusulas da declaração aprovada (...) não há qualquer referência ao simples facto de o Hamas ser o único responsável pela continuação da guerra, através da recusa em devolver os reféns e desarmar-se", comentou o porta-voz da diplomacia israelita.
A declaração aprovada "não promove uma solução de paz", pelo contrário, "encoraja o Hamas a continuar a guerra", acrescentou.
Previamente aprovada em julho durante uma reunião sem a presença de representantes israelitas ou norte-americanos, a declaração defende medidas "tangíveis e irreversíveis" no sentido de uma solução política, com ações concretas o mais breve possível para alcançar um Estado palestiniano "independente, soberano, economicamente viável e democrático".
Israel tem vindo a criticar há quase dois anos a Assembleia-geral e o Conselho de Segurança da ONU, sobre uma alegada falta de condenação firme aos ataques do Hamas que desencadearam a atual guerra na Faixa de Gaza.
"Condenamos os ataques perpetrados a 7 de outubro pelo Hamas contra civis", afirma a declaração, a propósito dos massacres conduzidos pelas milícias palestinianas em 2023 no sul de Israel, onde foram mortas 1200 pessoas e 251 foram feitas reféns.
O texto adverte o grupo islamita que "deve libertar todos os reféns", num total estimado de 48, dos quais 20 ainda estarão vivos, e afasta-o de uma solução para o futuro do enclave.
"No contexto do fim da guerra em Gaza, o Hamas deve cessar o exercício da autoridade sobre a Faixa de Gaza e entregar as armas à Autoridade Palestiniana, com o apoio e a colaboração da comunidade internacional, em conformidade com o objetivo de um Estado da Palestina soberano e independente", declara.
De acordo com uma fonte da presidência francesa citada pela agência de notícias France-Presse (AFP), esta declaração deve ser vista como a base para a reunião que Paris e Riade vão copresidir em 22 de setembro em Nova Iorque, na qual o Presidente francês, Emmanuel Macron, prometeu reconhecer o Estado Palestiniano.
Portugal e outros países, como Canadá e Austrália, também se preparam para reconhecer o Estado Palestiniano no final deste mês, enquanto o Reino Unido indicou que o fará se Israel não tomar medidas que conduzam ao fim do conflito na Faixa de Gaza.
Visando um futuro cessar-fogo, o texto menciona ainda o envio de uma "missão internacional temporária de estabilização" para o território, sob mandato do Conselho de Segurança da ONU, com o objetivo de proteger a população, apoiar a capacitação do Estado palestiniano e proporcionar "garantias de segurança à Palestina e a Israel".
Cerca de três quartos dos 193 Estados-membros da ONU já reconhecem o Estado Palestiniano, proclamado pela liderança no exílio, em 1988.
No entanto, após quase dois anos de guerra na Faixa de Gaza, acompanhada pela expansão dos colonatos judaicos na Cisjordânia e planos sobre anexação dos territórios palestinianos, crescem os receios de que a criação de um estado seja inviável.
Na quinta-feira, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, avisou que "não haverá Estado palestiniano" e que os territórios em discussão pertencem a Israel.
O conflito na Faixa de Gaza já causou mais de 64 mil mortos, na maioria civis, segundo as autoridades locais controladas pelo Hamas, e um desastre humanitário sem precedentes na região.
A ONU declarou a região da Cidade de Gaza como em situação de fome, quando Israel tem em marcha um plano militar para ocupar a capital do território e expulsar centenas de milhares de habitantes, e que prevê o desarmamento do Hamas e a recuperação dos reféns antes de entregar o enclave a uma gestão civil não hostil a Telavive.