
Diogo Jota ao lado do amigo Rúben Neves
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Roberto Martínez, selecionador português, concedeu uma extensa entrevista ao jornal espanhol "Marca", na qual analisou a conquista da Liga das Nações, o impacto de Cristiano Ronaldo no grupo e a perda de Diogo Jota.
"A Liga das Nações tem vindo a melhorar até chegar a um ponto em que se tornou o torneio de seleções com o maior número de jogos (10). Além disso, é disputada ao longo de 10 meses, o que implica exigência e consistência. Na final four, Portugal venceu a Alemanha, 25 anos depois, e enfrentou a Espanha, a campeã europeia, pela primeira vez numa final. Não há jogos mais difíceis do que estes. Não tem o prestígio de um Europeu nem de um Mundial, mas o grau de dificuldade é muito elevado", referiu o técnico espanhol, explicando como preparou a final.
"A Espanha é uma equipa que exige muito, porque é preciso defendê-la em duas áreas muito diferentes: não se pode deixar que construa o jogo e, além disso, é preciso defender o ataque rápido ao espaço com Lamine e Nico. Tínhamos de estar no nosso melhor. Jogámos de igual para igual e fomos nós próprios. O que provavelmente nos deu a vitória foi que, do início ao fim, crescemos muito e chegámos muito fortes ao prolongamento. A entrada de Diogo Jota, Rafael Leão, Rúben Neves... ajudou-nos muito".
Roberto Martínez disse ainda que "a atitude" de Cristiano Ronaldo é um dos motivos para continuar a ser indiscutível. "Há três pilares que analisamos constantemente: o talento, a experiência e a atitude que ele pode trazer para a Seleção. Essa exigência máxima que ele tem consigo mesmo para estar presente e ajudar é o que permite ao capitão da seleção estar sempre na lista dos convocados. Essa vontade de ser o melhor transmite-se em campo. É contagiante. 25 golos em 30 jogos a jogar como "9" demonstra que o que ele faz em campo gera muito para a seleção", referiu, antes de olhar para o impacto mais recente no quesito dos golos do internacional português, quando comparado com outros selecionadores.
"A percentagem de que fala tem muito a ver com a mudança de posição dele. Estamos a falar de um jogador que começou por ser um extremo muito habilidoso e, agora, é mais um jogador de referência dentro da área. Nós vemos isso: Cristiano condiciona o adversário. Quando ele está em campo, abre-se outro espaço porque há dois jogadores que vão estar atentos à sua marcação", elucidou, abordando ainda a meta dos 1000 golos.
"Ele está num momento muito bom da sua carreira. E conseguiu isso porque vive o dia a dia. Quando fala dos seus objetivos, ele afasta-se muito do longo prazo: chegar aos 1000, jogar um determinado número de jogos... O seu segredo é ser o melhor hoje e aproveitar o dia a dia. Então, o número será uma consequência do dia em que ele decidir parar. Não acho que seja um objetivo", declarou.
A partida de Diogo Jota foi outro tema abordado. "Foi uma tragédia a nível humano, social, que transcende o desporto. É gerida com naturalidade, respeitando que todos temos de passar pelo luto de uma forma diferente. No nosso caso, o balneário lidou com isso com um sentido de responsabilidade. O Diogo era uma fonte de positividade, sempre pronto para lutar. E um virtuoso: trazia intensidade, versatilidade, tinha golo... Era um jogador insubstituível. Ganhámos juntos a Liga das Nações e todos sabíamos que o sonho dele era ganhar o Mundial. Tivemos de aceitar isso. Ele deixou-nos a ideia de que na vida temos de aproveitar ao máximo e viver o presente. Essa mensagem é muito forte e já houve muitos sinais: no primeiro jogo na Arménia, marcámos aos 21 minutos, houve mais um minuto de aplausos aos 21 minutos e a Hungria marcou...".
"Queríamos retirar o seu número, mas Rúben Neves, o seu amigo mais próximo, ficou com ele, a pedido da família e, após 60 internacionalizações, marcou o seu primeiro golo. Levamos o Diogo como mais uma força. É aquela luz que nos faz lembrar que temos que dar tudo e aproveitar, porque há coisas que não podemos controlar. Ele era muito próximo e sempre teve essa preocupação em conectar-se com a comunidade. Tinha a sua escola de futebol na sua cidade natal. Foi um dos grandes embaixadores dos eSports de futebol. Dentro do balneário era muito humano. Tinha contacto com todos. Era adorado. Ele fazia-se querer, mas para ele o futebol era muito simples: era preciso dar tudo e acreditar sempre que era possível alcançar o sonho mais impossível. A sua carreira demonstra isso: o F. C. Porto, ir para o Atlético e não jogar, tornar-se uma lenda do Wolverhampton, ir para o Liverpool e ser, provavelmente, o único jogador que conseguiu abrir espaço entre Salah, Mané e Firmino... Ele tinha essa capacidade de tornar o impossível possível", concluiu.

