António Salvador, presidente do S. C. Braga, foi entrevistado esta quinta-feira pelo Canal 11, na qual falou sobre Ricardo Horta, a venda de David Carmo ao F. C. Porto e confirmou a contratação de Diego Lainez, tendo ainda abordado os planos do clube para o futebol português.
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"Não sei se vou apertar a mão do Rui Costa pelo Horta. Gostaria de mudar a politica de contratações em Portugal, o Horta seria um jogador que encaixava no perfil. Não sei como podia vender o Horta quando recusei uma proposta de 15 milhões. Renovamos contrato, o jogador valorizou-se e disse ao Rui Costa que não saia por esse valor. Ele disse que não valia a pena falar. Para surpresa minha recebi fax do Benfica com uma proposta de 10 milhões de euros com determinadas condições e nós recusámos", referiu o dirigente máximo arsenalista sobre o interesse das águias no avançado português.
António Salvador anota que os espanhóis do Málaga ainda têm uma percentagem do passe de Horta se este for vendido, "mas quem decide é o Braga". "É uma discussão que não vale a pena a comunicação social falar. O jogador só sai de Braga quando o Braga entender que é o justo valor", frisou, negando ser verdade o interesse F. C. Porto no jogador.
"O Ricardo Horta vale 30 milhões de euros que é a cláusula dele, mas 20 milhões é o preço de saída, ele sabe que é o valor de saída. Há um compromisso com o Ricardo e ele sabe valor mínimo para a venda. Gostaria que ele continuasse, se ele disser que quer ir embora vai a vida dele com pena minha", completou sobre o tema.
Se o negócio Ricardo Horta está em suspenso, já o de David Carmo é uma realidade. "Felizmente, o Braga tem feitos grandes negócios com muitos milhões, porque o jogador tem qualidade. O David Carmo é um jogador da nossa formação, teve a infelicidade de ter estado parado um ano com uma lesão gravíssima. Tivemos abordagens do estrangeiro, não nos valores que gostaríamos. Um dia o presidente do F. C. Porto telefonou-me que gostaria de jantar comigo, fomos, e disse-me que o Sérgio gostaria ter o Carmo. Disse-lhe que seria difícil porque não podia ser vendido por menos de X. Ao fim de 15 dias convidou-me para jantar novamente, sem ninguém saber, e disse-me que quis optar por comprar o Carmo pelo valor todo", esclareceu o presidente do Braga.
Na senda das transferências, avançou ainda que os minhotos asseguraram a cedência do mexicano Diego Lainez, de 22 anos. "Já andávamos a namorar jogador e gostou muito do nosso projeto. Bétis entendeu que devia dar prioridade ao Joaquin e não a Lainez e ele entendeu que devia sair. Hoje [quinta-feira] conseguimos finalizar o empréstimo com opção de compra. A cláusula é de sete milhões de euros. Mas custou ao Bétis 14 milhões há três anos. É um dos maiores talentos do futebol mundial. Espero que não saia ninguém. Se sair, terá de entrar alguém", realçou.
Já sobre Roger, António Salvador disse não ter tido "abordagens em concreto". "Temos o plantel praticamente fechado, não iremos contratar ninguém a menos que saia algum jogador do que temos. O mercado é que vai ditar as saídas ou não. Hoje fechamos um jogador muito importante para a nossa equipa. Dos 27 jogadores que o Braga vai ter no plantel, 11 são da formação, 79% dos jogadores da equipa B e 83% dos sub-23 são da formação. Este é o caminho", salientou.
Sobre o novo treinador da equipa principal, o presidente arsenalista apontou as características que este deve ter: "Tem de saber agregar e ter grande confiança nele próprio, acreditar no trabalho e nas próprias condições que o clube lhe dá. Tenho a felicidade de contratar grandes treinadores que antes de cá chegarem pouco ou nada eram conhecidos. Muitos treinadores de renome gostariam de treinar o Braga e veem no braga um passo importante para desenvolver o seu trabalho. Nós temos condições para formar atletas, mas também formamos atletas e essa e uma visão que nós temos. A escolha do Artur Jorge foi consequência normal de ter trabalho com jogadores jovens que já trabalharam com ele e saída do Carlos Carvalhal".
Os objetivos da equipa estão bem definidos. "É sempre fazer melhor do que fazemos. Nos últimos três anos ganhamos uma Taça da Liga e uma Taça de Portugal e queremos fazer melhor do que no ano passado em que não conquistámos nenhum título. Se não pensasse que Braga podia ser campeão não estava aqui. O meu objetivo e trabalhar de forma sustentável para que um dia se possa ser campeão", realçou.
"Na época com Ruben Amorim senti que podíamos ter ido no ano seguinte lutar pelo título se ele tivesse ficado. O Sporting quis levá-lo, na conversa com Frederico Varandas disse que não havia hipótese. Passados 15 dias voltou à carga e numa conversa disse ao Ruben Amorim o que se passava, ele disse que queria continuar, mas disse que se o Sporting pagasse a cláusula ele queria ir para o Sporting".
No futuro, Salvador gostaria de estar menos dependente das vendas. "Manter os jogadores é o caminho que estamos a discutir, que seja menos dependente da venda de jogadores. Hoje muito dificilmente um clube português volta a uma final de uma Liga dos Campeões ou Liga Europa. O objetivo é que os clubes mantenham mais tempo os melhores jogadores".
Olhando para o passado, o dirigente diz não se arrepender de nada. "Sei que nunca fiz tudo bem feito mas tenho a certeza que quando as tomei foi com a consciência que estava a fazer o melhor. Quando assim é não me posso arrepender de nada".
A nível interno, António Salvador, contou que o clube fez uma reflexão profunda sobre o que se precisava de mudar no futebol português e avançaram com uma missão 2022-25. "Os tempos mudam, há novas gerações, há novos públicos, os custos continuam a aumentar de ano para ano e as receitas mantêm-se. Criar mais condições para os adeptos virem para os estádios e melhores horários é uma das premissas para melhorar o futebol. Depois temos a questão competitividade e os quadros atuais não preenchem a imprevisibilidade. É muito previsível o que acontece no campeonato português. Queremos um campeonato mais competitivo, mais equipas na Europa a pontuar. Há um conjunto de medidas onde todos os agentes do futebol precisam de estar juntos para que isso possa ser uma verdade. Vemos que UEFA mudou o ciclo 24-27, que é uma organização que faz mais receitas com o futebol, percebeu que tem de se criar mais competitividade no futebol. O CEO do Bayern, que ganha quase sempre o campeonato, disse que se deve repensar o campeonato para haver mais imprevisibilidade. O nosso modelo vai premiar a regularidade", avançou.
E prosseguiu: "Não temos de tornar públicas as propostas, já as apresentamos e agora cabe a eles partilhá-las. É uma alteração que tem de ser resolvida esta época para entrar em funcionamento em 2024-25. Não é um modelo que serve o Braga, é um modelo que serve o futebol português. Independentemente de ser o Braga a alertar o que tem de ser alterado, é um modelo para o futebol português. O que apresentámos é competitivo e premeia o mérito de regularidade, de competitividade e não há play-off nem redução de equipas no campeonato. Sabemos que há centralização para ser feita e entendemos com a centralização com um novo ciclo da UEFA, um novo quadro competitivo nas três primeiras ligas deve entrar em 2024-25. Estamos a trabalhar para todos, todos pelo futebol. Por melhores horários dos jogos, que é um problema. O Braga tem preferência para jogar ao domingo ao final da tarde ou sábado à noite e exceção sexta à noite. Não queremos jogar à segunda-feira porque as pessoas não têm condições de vir ao estádio em dia de trabalho".
"Em Portugal é um campeonato único onde 82% das receitas são sobre transferências de jogadores, não pode haver sustentabilidade no futuro. Nos outros campeonatos as receitas extraordinárias, como as transferências, representam 14%. Portugal esta sempre dependente das vendas. O caminho para o futuro é dar condições para apostar na formação. Noutros campeonatos vemos a entrada de investidores. Aquilo que podemos dizer é que o Braga teve muitos contactos para entrarem com capital e foi sempre rejeitado pelos sócios e pela direção. Agora, os tempos mudam e, em Portugal, tem de ser ver formas de criar outro tipo de receitas, não podemos estar dependentes em 82% de transferências para combater as despesas. No quadro competitivo que apresentámos os jogos que existem entre os quatro primeiros as receitas dobram, ou seja traz mais adeptos ao estádio e mais imprevisibilidade. Mas tem de ser enquadramento estrutural para que tudo possa funcionar", reforçou António Salvador.
O pouco tempo útil de jogo, é segundo o dirigente minhoto, acentuado pela grande clivagem entre os clubes. "Estamos em 31 minutos de tempo útil jogo por causa da desigualdade no campeonato e, em Portugal, as equipas jogam com as armas que têm. Há desigualdade nas receitas, com a centralização dos direitos televisivos tem de haver distribuição muito maior. Não é só dar receitas e distribuir, tem de haver cumprimento de regras nomeadamente condição dos relvados, adeptos aos estádios que possam trazer valor aos parceiros. É um caderno de encargos. Os clubes na Liga Espanhola tem compromisso dos direitos televisivos que se não cumprirem certas premissas são penalizados e é isso que tem de haver em Portugal, não adianta só distribuir e continuar igual", assinalou.
E continuou: "Somos um país em que a carga fiscal sobre salários dos atletas é elevada, só França está à nossa frente. É um tema que não vejo condições no nosso Governo para que possa ser alterado. Agora há outras coisas que não tem a ver com Estado, tem a ver com seguros, não é possível um clube como o Braga pagar 2,2 milhões de euros de seguros por ano. A receita publicitária é quase toda para seguros. Nessa reunião com o secretário de Estado do Desporto era um tema que estavam a trabalhar. Não falei com outros presidentes, foi uma reflexão interna que quisemos primeiro apresentar à Liga e à Federação. Agora cabe reajustarmos o que apresentámos, não é uma coisa fechada, é uma análise que deve ser trabalhada e estudada, mas são pilares básicos para a mudança".
António Salvador recorda que quando assumiu a presidência do clube este estava falido e sem direção. "Quis resolver os problemas financeiros dos trabalhadores, recompor clube nas competições europeias e criar bases para crescer e condições estruturais para a sustentabilidade do clube. Quando pensei em fazer a academia muita gente pensava como o Braga ia fazer um investimento destes. Quando terminar tudo vamos ter 11 campos futebol, o pavilhão, é um investimento de cerca de 40/45 milhões de euros. O Braga tem 43 milhões de euros de capitais próprios positivos. O caminho é criar mais receitas operacionais sem estar tão dependente das transferências. Também há um plano para criar um mini estádio com dois mil e poucos lugares para a equipa B e feminina", realçou.
O regresso ao estádio 1.º de Maio não está a ser equacionado e o presidente justifica: "Na altura fizemos proposta para voltar lá porque este estádio não reúne condições para as famílias virem e apresentámos então uma proposta à câmara, que entendeu que não era por aí, por isso, esse estadio não é assunto para o Braga. Tenho tido reuniões internas e iremos apresentar em breve à câmara uma reestruturação total deste estádio, onde os adeptos possam ter mais conforto e, espero, que dessa vez a câmara autorize".
Continuar o investimento no futebol feminino também é uma das metas. "É importante avançar no futebol feminino, ao fim de seis anos já ganhamos todos os títulos em Portugal e vamos continuar a apostar forte ao longo destes anos, tanto na formação como na equipa principal", assegurou.