Foi campeã da 2.ª Divisão e volta ao convívio dos grandes duas épocas depois de ter sido despromovida
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Em São João da Madeira, terra com tradição no hóquei em patins, o Pavilhão dos Desportos, também apelidado de Caldeirão, é um local de culto. Construído na longínqua década de 1960, a sua arquitetura, com as bancadas bem perto do rinque, conjugada com o fervor de adeptos fiéis à causa, fazem de cada jogo uma festa. "Temos a mística deste pavilhão, o mais antigo em atividade em Portugal, e a vantagem de termos público nos jogos", salienta Pedro Ribeiro, que lidera a secção há cinco anos. "Nessa altura, a equipa estava na 1.ª Divisão e tivemos de pegar no clube à pressa, eu e mais duas pessoas. Nunca pensei que durasse tanto tempo", admite. A verdade é que foi ficando, mesmo depois da equipa ter baixado de divisão, há três épocas, e de ter falhado o regresso ao principal escalão na temporada seguinte por apenas um golo, no play-off de promoção perdido para o Oeiras.
A bonança acabaria por chegar este ano, com a conquista da 2.ª Divisão Nacional por uma equipa que tinha sete atletas formados em São João da Madeira. Como prémio, todo o plantel transita para a próxima temporada, à exceção de Tiago Rodrigues, que se mudou para o F. C. Porto. "Temos de ser realistas, o nosso objetivo é a permanência. O primeiro ano vai ser muito complicado, porque a juventude também se paga, mas se o ultrapassarmos provavelmente vamos dar cartas", acredita Pedro Ribeiro, que lidera uma secção com cerca de 160 atletas e 13 equipas em competição.
"A Sanjoanense é um clube formador", berço de vários nomes importantes da modalidade, uma identidade que Pedro Ribeiro se esforça por preservar. Sob a sua égide, o clube criou o escalão de juniores há quatro anos e o sucesso foi quase instantâneo. "No primeiro ano ficámos no sexto lugar a nível nacional, e no seguinte só não fomos campeões porque perdemos em casa com o Benfica. Nesse jogo, conseguimos encher este pavilhão, até os dirigentes do Benfica ficaram impressionados", conta o dirigente, com inegável orgulho.
Uma vida dedicada ao clube do coração
O sossego que toma conta do Pavilhão dos Desportos sempre que uma época chega ao fim contrasta com a desenvoltura de Hernâni Costa, empenhado em manter tudo devidamente organizado. Por ali, há sempre algo para fazer, e poucos conhecerão tão bem aquele espaço quanto ele.
Quando a infraestrutura começou a ser construída, Hernâni era ainda uma criança e passava muito do seu tempo "na brincadeira, a ver as obras", um fascínio que o acompanharia ao longo da vida. Na juventude, chegou a jogar andebol pela Sanjoanense, num tempo em que "o pavilhão enchia fosse a modalidade que fosse". Hernâni Costa, um "são-joanense aguerrido", nunca se negou a dar uma mão ao clube que lhe arrebatou o coração. "Chegámos a passar noites a pintar o piso e a pôr as lâmpadas. Ajudei sempre de forma voluntária", também a colar cartazes pela cidade ou a controlar as entradas no pavilhão. Aos 72 anos, tem a responsabilidade de, "quando a Sanjoanense joga fora, pôr tudo em ordem". "Até hoje, nunca faltou nada", garante.
Padrão de conquistas difícil de ignorar
Há quem acredite que o nosso destino fica traçado assim que nascemos, um fado, palavra tão portuguesa, que nos guia pelo teatro da vida. O de Vítor Pereira tem-se cruzado com a Sanjoanense vezes de mais para se poder ignorar um padrão de conquistas que se vai desenhando desde os tempos de jogador, passados na baliza, com um título da 2.ª Divisão como ponto mais alto.
Dezoito anos depois, agora no papel de treinador, Vítor Pereira voltou a levantar a taça de campeão do segundo escalão, cinco épocas após ter conduzido o clube de volta à 1.ª Divisão. "Talismã? Acho que a Sanjoanense é que o é para mim", diz, sorridente, ele que até começou a última época no Infante de Sagres, de onde saiu em novembro. Há sete anos a colaborar com a seleção inglesa, Vítor Pereira pensou levar esse projeto mais a sério e ainda chegou a fazer as malas para rumar a Inglaterra, mas o clube do coração fê-lo mudar de ideias. Em dezembro, sucedeu a Miguel Resende no banco e conduziu a equipa ao título. Coisas do destino, de facto.
Marco voltou à baliza para ser campeão
Se, no início da última época, alguém dissesse que Marco Lopes iria festejar o título da 2.ª Divisão na baliza da Sanjoanense, provavelmente não seria levado muito a sério. É que, na ressaca na dura derrota no play-off de subida com o Oeiras, em junho de 2018, o guardião decidiu colocar um ponto final na carreira e integrar a equipa técnica.
Foi nesse papel que iniciou a temporada passada, até que Bernardo, um dos guarda-redes, deixou o clube para se dedicar aos estudos. Abria-se a oportunidade para voltar e Marco não a enjeitou. "Queria deixar a Sanjoanense na 1.ª Divisão, mas subir depois de ter feito uma pausa na carreira é algo com o qual nunca tinha sonhado", confessa o "avozinho" do plantel, consequência dos seus 38 anos, disformes numa equipa extremamente jovem. "Confiante e motivado" para o regresso à 1.ª Divisão Nacional, Marco Lopes acredita que o clube "tem condições para fazer uma época tranquila". Marcará ela o adeus definitivo às balizas? "Tudo depende da resposta do meu corpo", garante.