
Momento de apreensão à espera da demorada análise do VAR no Santa Clara-Sporting
Foto: Eduardo Costa/LUSA
Em declarações ao JN, os ex-árbitros Paulo Pereira e José Leirós consideram "inaceitável" a demora de 12 minutos na análise do VAR que resultou no penálti do empate do Sporting, já no prolongamento frente ao Santa Clara, num jogo da Taça de Portugal decidido nos Açores por 2-3. Apesar de o protocolo não definir um limite temporal, ambos defendem que uma revisão tão longa contraria a lógica do VAR, criado para corrigir apenas erros claros e evidentes.
O protocolo do IFAB, entidade que regula as leis do jogo, determina que o VAR deve intervir apenas em lances de golo, penálti, cartão vermelho direto ou erro na identificação do jogador, apesar de não ser definido um limite de tempo para essa análise. No entanto, a diretriz é clara: o tempo deve ser o mínimo possível e as revisões só devem acontecer se houver erro claro e manifesto.
"Não faz qualquer sentido, nem nos piores pesadelos alguém pode imaginar que um lance esteja 12 minutos a ser analisado. O VAR existe para corrigir erros claros e óbvios, isso tem de ser feito de forma rápida", atira Paulo Pereira, em conversa com o JN, que classifica o tempo de revisão como totalmente desajustado. Segundo o antigo árbitro, a jogada completa, que começou num livre lateral e terminou com a queda de Hjulmand na área, deve ser analisada no todo, mas nunca com tamanha demora. "Depois de tanta espera, assinala-se um penálti que não existe. É a cereja no topo do bolo. Isto é para os apanhados da arbitragem", resume.
Leirós é igualmente duro na avaliação. "Não acho razoável, nem a decisão é correta. O VAR deve intervir apenas em lances que sejam claramente errados", afirma, destacando que o tempo das análises na compensação deve "ser reposto por completo, embora o relógio". Para o ex-árbitro, o erro ganha outra dimensão por ter sido cometido por João Pinheiro, árbitro apontado como o melhor português da atualidade e possível representante nacional no Mundial de 2026. "O que me entristece é ver aquele que todos dizem que é o melhor árbitro português a cometer um erro colossal, juntamente com o VAR".
Durante os 12 minutos em que o jogo esteve parado, os jogadores ficaram em suspenso, sem qualquer explicação no relvado. Paulo Pereira sublinha que, nesse período, o árbitro principal não deve pressionar o VAR, mas a situação é um foco de pressão tremendo. "O árbitro está à espera e não deve interferir, mas dentro de campo, com o jogo parado tanto tempo, é uma pressão e um stress inacreditável", admite.
A polémica reacende o debate sobre a qualidade da arbitragem nacional e o uso da tecnologia. "A época já vai a meio e isto está uma brasa. Não é só nos jogos grandes, é nas duas ligas profissionais", alerta José Leirós, que aponta para um problema de responsabilidade. "Recordo que quando os governos têm problemas, quem assume responsabilidades são os ministros e o primeiro-ministro. Acho que me faço entender", comentou.
Questionado sobre soluções, Leirós defende que o problema passa pelas pessoas. "Funciona como as empresas: quando quem está não cumpre objetivos, troca-se até acertar". A decisão final foi de João Pinheiro, após consulta às imagens. Mas os ex-árbitros reiteram que o lance não justificava castigo máximo. "Não foi penálti. E nunca poderia levar 12 minutos a decidir-se isso", conclui Paulo Pereira.
A Taça de Portugal seguiu com o Sporting em frente, mas a arbitragem voltou ao centro das atenções, com críticas do Santa Clara e dos outros clubes da Liga.
