Seleção portuguesa precisou de juntar talentos lusodescendentes para elevar o nível. Competiu com dois milhões de euros, o orçamento mais baixo da Europa, e reclama melhores infra-estruturas.
Corpo do artigo
Num país como Portugal, sem tradição no râguebi, conseguir o apuramento para o Mundial, que se disputa de setembro a outubro do próximo ano em França, é um feito épico, sobretudo quando se tem pouco dinheiro e quase nada daquilo que é necessário para competir de igual para igual com as outras seleções. Enquanto o orçamento da Federação Portuguesa de Râguebi (FPR) não ultrapassa os dois milhões de euros, seleções como Espanha ou Geórgia dispõem de cerca do triplo. Mas depois há o outro nível, a Itália governa-se com cerca de 70 milhões de euros, França com 140 milhões e uma federação como a de Inglaterra conta com cerca de 200 milhões para a temporada. "É como me disse o meu homólogo italiano, já é o equivalente a sermos campeões do Mundo, com um orçamento que nem tem comparação com os outros", sublinhou Carlos Amado da Silva, ao JN, presidente da FPR.
Como era de esperar, a questão financeira teve reflexos na forma como a seleção se preparou. "É uma proeza incrível, porque conseguimos o apuramento sem a preparação que outras seleções costumam ter. São profissionais e conseguem estar um mês antes a trabalhar. A seleção portuguesa juntou-se quando os clubes deixaram. Depois, uma coisa é treinar e descansar como os profissionais, outra coisa é jogar e trabalhar, como acontece com alguns dos nossos jogadores", acrescentou.
Em Portugal existem 63 clubes federados e problemas ao nível das infraestruturas que afetam o trabalho da seleção. "Nós nem queremos tantos milhões, mas um estádio decente, onde fosse possível realizar jogos internacionais, onde o relvado não tivesse buracos de coelho e não caísse água dentro das instalações. É necessário investir no Jamor, por exemplo, para deixarmos de andar com a casa às costas cada vez que temos um jogo internacional. Já não jogamos no Estádio Nacional há dois anos, porque dizem que estragamos a relva. Mas até seria um pequeno investimento, quando comparado com os orçamentos das federações estrangeiras", acrescentou o presidente da FPR.
Em termos técnicos, Patrice Lagisquet, selecionador de Portugal, tirou partido do excelente trabalho que se tem feito em Portugal em termos de formação e de uma geração de jovens atletas de grande talento. Mas isso, por si só, não chegou, era preciso aumentar o nível, de tal forma que se desenvolveu uma trabalho de deteção de profissionais lusodescendentes um pouco por toda a Europa. "Chegamos a ter mais de uma dezena de lusodescendentes nos treinos para percebemos os que nos podiam ajudar a elevar o nível e acabamos por chamar regularmente cerce de uma dúzia, dos 34 que convocamos habitualmente para os jogos internacionais. Mas no fundo, Portugal teve de se debater com todos os constrangimentos decorrentes do amadorismo", explicou o treinador francês, que destacou ainda a ação feita pela estrutura que enquadrou a seleção e que permitiu desenvolver um trabalho muito profissional, contribuindo de forma decisiva para o apuramento.
Carlos Amado da Silva, presidente da Federação Portuguesa de Râguebi: "Neste momento temos 7500 atletas inscritos"
"Neste momento temos cerca de 7500 atletas inscritos na Federação, estamos a apontar aos 10 mil a curto prazo. Mas só com 50 mil teríamos equipas espalhadas pelo país. Agora, a falta de divulgação e de investimento são os grandes problemas do râguebi nacional. Vamos estar num campeonato do Mundo em França e vamos precisar de dinheiro para preparar a equipa. O Estado tem essa obrigação de nos apoiar, como faz com outras modalidades, sobretudo num momento em que estamos no topo".
Patrice Lagisquet, selecionador nacional de Râguebi: "Vamos tentar ser competitvos no Mundial"
"Mesmo sabendo que vamos ter jogos duros pela frente, vamos tentar ser competitivos e rivalizar com os nossos adversários no Mundial. Quando defrontamos a Itália e o Japão estivemos sempre muito bem. O importante é manter esse espírito competitivo, sem complexos ou pecarmos por orgulho. Ainda não nos deparamos com seleções do calibre da Austrália ou do País de Gales, mas temos de ser capazes de rivalizar, mesmo contra seleções com outros meios e muito bem preparadas".