Sérgio Conceição: "Não fui convocado para os Olímpicos e fiquei dois dias na cama"
Sérgio Conceição foi o primeiro convidado do podcast "Bitaites D'Ouro", do humorista Pedro Neves, tendo, entre vários temas, falado sobre o vício em vencer, algumas histórias com treinadores, a exigência que coloca e do futuro: "Agora, depois de dois meses em casa, já não penso e a minha mulher agradece", atirou.
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Numa entrevista mais íntima, dada a amizade entre as partes, Sérgio Conceição revelou um pouco da forma como lida com as situações, até mesmo como técnico.
"Não é com marés de água doce que se conseguem grandes conquistas, tem de ser na turbulência, naquilo que são essas marés e as vagas de muitos metros para que os marinheiros tenham sucesso. Para que aprendam, no meio dessa dificuldade e dessa exigência diária, a navegar de forma fantástica. Dentro de uma equipa de futebol chega-nos um jogador da América do Sul, que não está habituado a determinada exigência e com um futebol diferente. Não é fácil chegar e ter resultados no imediato. Mas nós temos de os ter, porque as pessoas vivem de resultados", referiu.
Sérgio Conceição explorou um pouco mais a personalidade forte e o espírito competitivo que sempre teve desde muito novo e "grande vontade de vencer na vida".
"Estava no Felgueiras, não fui convocado para os Jogos Olímpicos e fiquei dois dias na cama, não quis ver ninguém, sem comer sem nada. Vivia muito a minha profissão, tinha muita vontade de conquistar e de honrar o sacrifício da minha família para que jogasse", recordou.
O antigo treinador do F. C. Porto, recordou, ainda, o mítico jogo em que marcou um hat-trick contra a Alemanha, no Euro 2000, e do mal estar que teve no início da prova pela falta de participação.
"Quando o Humberto Coelho [selecionador] deu a equipa eu fui para o quarto e estava com outro jogador e juntaram-se quatro ou cinco. O pessoal a pensar que o Sérgio estava feliz. ‘Vai jogar a titular e não vai lixar a cabeça a ninguém’. Eu com uma azia. ‘Este homem quer-nos lixar’. Eu disse: ‘Como e que possível mudar a equipa toda? Jogar com três centrais, nunca jogámos assim, quer dar moral aos titulares'. Fizemos um jogo maravilhoso", afirmou.
Na sequência, lembrou palavras de Fernando Santos e largou uma curiosidade: "Apanhou-me com 33 ou 34 anos e diz que fui o jogador mais ranhoso que treinou [...] Eu como treinador não gostava de ter um jogador Sérgio. Gostava de ter algumas das caraterísticas do jogador Sérgio, mas não aquela azia descomunal, ser insuportável quando perdia. Se ficasse no banco era um problema comigo. Mas não com os colegas ou treinadores, mas comigo", revelou.
A gestão de um plantel e o futuro
Durante a conversa, Sérgio Conceição assumiu ter sido o primeiro treinador a inserir um mental coach no futebol, quando treinava o Braga, e disse que gosta de conhecer os jogadores ao pormenor.
"Quero saber quem foi o primeiro treinador, se os pais estão separados, se gosta de cães ou de gatos. Chega-nos um jogador da América do Sul, que não está habituado a determinada exigência e com um futebol diferente. Não é fácil ter resultados no imediato. Mas, as pessoas vivem de resultados", reconheceu.
Por fim, pronunciou-se sobre como perspetiva o futuro: "Ainda não tracei uma meta, sou assim enquanto treinador e já era assim enquanto jogador. Vivo muito aquilo que é o dia a dia, tudo de uma forma muito intensa. Não penso nisso. Se me perguntasses isso há quatro meses, ali na fase final da minha 7.ª época no FC Porto, dir-te-ia que brevemente. Estava num momento... Agora, depois de dois meses em casa, já não penso e a minha mulher agradece", rematou.