Aos 13 anos, a nepalesa Gaurika Singh concretiza o sonho de participar nos Jogos Olímpicos, sendo a mais nova nadadora em prova no Rio de Janeiro.
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A jovem nadará os 100 metros costas, pouco mais de um ano após ter sobrevivido ao terramoto que matou mais de oito mil pessoas no seu país natal.
No domingo, quando se lançar à água, a menina terá 13 anos e 255 dias, protagonizando algo que considera "algo irreal": "Queria ir, mas não estava certa de que seria capaz porque sou muito nova. Quando soube há um mês que iria, foi um choque".
No Rio de Janeiro, Gaurika está na Aldeia Olímpica acompanhada da treinadora. O pai, Paras, está num hotel, e o resto da família e amigos torcem à distância por quem admite estar "um pouco assustada, mas ao mesmo tempo empolgada".
A adolescente vive em Inglaterra desde os dois anos, altura em que o pai, que é médico urologista, decidiu emigrar. Em Londres, começou a dar suas primeiras braçadas e atualmente está entre as 20 melhores da sua idade na Grã-Bretanha. O sonho olímpico começou a amadurecer quando participou no Campeonato Mundial de Kazan, na Rússia, há um ano.
Foi com o tempo 1.07,28 minutos que Gaurika Singh garantiu, já mais recentemente, a tão desejada vaga para os 100 metros costas. Em Portugal, no escalão Juvenis B, ou seja, entre atletas nascidas em 2002, esta época, Rafaela Azevedo do Sport Algés e Dafundo foi a melhor com 1.05,48 minuto, sendo que o recorde nacional (1.04,90) ainda pertence a Joana Silva do Leixões e foi batido em 2011.
No maior evento desportivo do ano e que é uma ambição para a maioria dos atletas, a pequena nadadora faz história, mais uma a somar a outras que já viveu na primeira pessoa e, mesmo sem o guião desejado, tiveram um final feliz. Assim foi em abril do ano passado, quando estava em Katmandu para participar do campeonato nacional nepalês acompanhada da mãe, Garima, e do irmão, Sauren, e a terra começou a tremer.
"Foi assustador. Estávamos no quinto andar de um prédio de forma que não podíamos escapar, então escondemo-nos sob uma mesa no centro da sala durante cerca de 10 minutos. Só quando o tremor passou deixámos o local descendo as escadas", relembra a desportista, acrescentando: "Felizmente estava num prédio novo, que não desabou, como a maioria dos que estavam ao redor".
Gaurika e a família escaparam ao sismo, de 7,8 graus na escala Richter, que matou mais de oito mil pessoas e devastou várias cidades do Nepal, ficando sensível a causas humanitárias, como aquela que um amigo do pai iniciou na Grã-Bretanha para arrecadar dinheiro com o objetivo de reconstruir escolas. Doou 300 libras (cerca de 238 euros) ganhos em provas, tornando-se "embaixadora da causa".
Paras, o pai, não esconde o orgulho que sente por ver a filha levantar-se diariamente às 4 horas para treinar e ser a mais jovem no Rio. "É incrível como lida com toda a pressão", reconhece o médico, consciente de que a filha concreta, por estes dias, muitas solicitações e olhares curiosos.