Taha Zareei, Agustín Guerra, Juan Renteria e Samuel Agosti são quatro jovens jogadores da Divisão de Elite da A. F. Porto que saíram, respetivamente, do Irão, Argentina, Colômbia e Estados Unidos à procura do sucesso desportivo e é nesta quadra que mais sentem o peso da distância.
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O Natal é uma celebração de união, amor e família. Mas, para quem está longe de casa, com o objetivo de perseguir o sonho de singrar no mundo do futebol, ganha outro significado. Taha Zareei, Agustín Guerra, Juan Renteria e Samuel Agosti são quatro jovens jogadores da Divisão de Elite da A. F. Porto que saíram, respetivamente, do Irão, Argentina, Colômbia e Estados Unidos à procura do sucesso desportivo e é nesta quadra que mais sentem o peso da distância. Embora a tecnologia facilite o contacto com os familiares, os milhares de quilómetros que os separam de casa tornaram o Natal um dia com uma relevância diferente e no qual aliam as tradições culturais do país de origem a novas experiências.
Taha Zareei (Irão), guarda-redes do Sousense
Por vezes é longe de casa que encontramos a felicidade. Taha Zareei mudou-se do Irão para Portugal, com o objetivo de singrar no mundo futebolístico e apaixonou-se pelo país onde ganhou o gosto pela celebração do Natal. O guarda-redes do Sousense só quer voltar às origens quando tiver sucesso na Europa.
"Sendo muçulmano, nunca celebrei o Natal até vir para este país. Mas, como já cá estou há tanto tempo, habituei-me a reunir com os amigos daqui e percebi que é um dia especial onde se come, bebe e se está com a família", conta o jogador internacional pelo Irão, num português muito bom, que aprendeu no dia-a-dia.
Embora não não tenha sido educado a celebrar a quadra natalícia, o guarda-redes gostava de receber "prendas" altruístas. "O que eu mais quero é paz no Irão. Tenho muitas saudades dos meus pais e gostava de poder estar com eles, mas, acima de tudo, que tenham saúde e liberdade", pede.
Taha chegou a Portugal em 2014/15, após ter sido convidado papara treinar em Alcochete por olheiros do Sporting, clube onde esteve à experiência durante seis meses, chegando a treinar com Rui Patrício. Seguiu para o Leixões, onde disputou a Liga 2, além de ter jogado no Campeonato de Portugal, no Marinhense e Fontinhas. Atualmente, joga no Sousense, na Divisão de Elite da A. F. Porto, com uma missão clara em mente. "Já tive propostas para receber muito dinheiro a jogar na principal divisão iraniana, mas não quero regressar enquanto não singrar no futebol europeu. Sou reconhecido lá mas, só volto quando tiver brilhado por aqui", promete.
Agustín Guerra (Argentina), extremo do Oliveira do Douro
Ainda em euforia pela conquista argentina do Campeonato do Mundo, Agustín Guerra, jogador do Oliveira do Douro, vai ter um verdadeiro Natal "à portuguesa" com a família que o acolheu quando chegou a Portugal, com o objetivo de se tornar jogador de futebol profissional. Como desejo natalício, gostava de "terminar a época invicta" na Série 1, da Divisão de Elite, liderada pela equipa gaiense.
"Em 2019, vim para Portugal e ingressei no Mirandês, em Miranda do Douro, e houve uma família que me acolheu e me tratou como um filho. Mantivemos contacto quando saí do clube e este ano vou lá passar o Natal com eles porque são a minha família do coração", revela Agustín.
Na Argentina, a tradição familiar do extremo, de 22 anos, passa por uma celebração simples, que habitualmente tem à mesa carne assada, acompanhada de salada russa. Quando bate a meia-noite, há sempre um brinde a assinalar o dia. Nos quatro anos em que Agustín vive em Portugal, o Natal longe da família passou a ser uma realidade mas, em 2021, teve uma surpresa. "No ano passado os meus pais fizeram-me uma surpresa e apareceram em minha casa sem eu contar. Fiquei tão feliz que me fez o Natal. Se pudesse pedir alguma prenda seria essa", recorda. Embora valorize a época natalícia, não é a principal razão pela qual Agustín gostava de estar na Argentina nesta altura. "Adorava ter festejado com a minha família, na minha cidade, La Plata, a conquista do Mundial", lamenta.
Formado no Estudiantes, começou a aventura em Portugal pelo Campeonato de Portugal e agora sonha vingar no país que o acolheu.
Juan Renteria (Colômbia), extremo do SC Rio Tinto
Na Colômbia, Juan Renteria celebrava o Natal de uma maneira bastante diferente da que faz em Portugal, onde chegou em 2018 para representar o Palmelense, clube de Setúbal. Natural de Bogotá, vivia em Medellín antes de sair para o estrageiro, cidades onde os festejos da quadra natalícia se iniciam a 7 de dezembro, data conhecida como o "Dia das Pequenas Velas".
"Essa tradição consiste em colocar pequenas velas ao longo das ruas para iluminar o caminho de Maria, mãe de Jesus, e abençoar as casas. Lá costumamos fazer quase um mês de celebração", revela o atacante, de 24 anos que joga no Sport Clube Rio Tinto, da Divisão de Elite, da A. F. Porto.
O jantar de Natal colombiano, começa mais tarde e só por volta da meia-noite é que as pessoas se juntam à volta da mesa para saborear os pratos típicos. Tal como em qualquer lar português, os doces ganham preponderância no menu, sendo que os mais famosos são a "natilla" (uma espécie de leite-creme), o "manjar blanco" (uma pasta cremosa parecida com caramelo) e os "buñuelos" (bolas de massa frita, servidas quentes).
Como Juan conta, ao JN, na Colômbia é usual as pessoas encherem as ruas na madrugada do dia 25, na companhia de familiares e amigos. No primeiro ano que percebeu que em Portugal as festividades são, habitualmente, passadas em casa e em família, teve uma desilusão. "Como sempre fiz, fui para a rua ver como era o ambiente, mas quando me apercebi que não havia ninguém foi um choque e foi um dos momentos em que tive mais saudades de casa", confidencia o extremo, que cumpre a primeira época no SC Rio Tinto.
Samuel Agosti (Estados Unidos), médio do Coimbrões
No primeiro ano a viver em Portugal, o norte-americano Samuel Agosti, jogador do Coimbrões, da Divisão de Elite da A. F. Porto, vai estar longe da família no Natal, pela primeira vez, e escolheu Lisboa como destino para passar a quadra. Com apenas 24 anos, o médio já tem um vasto currículo cultural, tendo visitado países como Quénia, Suécia e Tailândia e sonha ser jogador profissional.
"Vai ser estranho. Embora seja independente desde que entrei na faculdade, há sete anos, no Natal consegui sempre estar com a minha família. Este ano não será possível, por isso vou com uns amigos conhecer Lisboa", explica Samuel Agosti. No Natal, a tradição familiar diz que não pode faltar o bife Wellington caseiro (envolto em massa folhada e vai ao forno) e o famoso "eggnog", bebida à base de leite que costuma levar rum, mas não são essas iguarias que vão deixar mais saudades. "Lá em casa fazemos sempre umas olimpíadas, onde cada um escolhe um jogo. No final não há prémio, mas é sempre divertido. Se pudesse pedir alguma prenda era que a minha família se teletransportasse para aqui".
Samuel joga futebol desde pequenino, motivando o gosto do pai pela modalidade, mas foi enquanto atleta da equipa de futebol da faculdade que começou a pensar em seguir carreira no estrangeiro. Em 2021/22, esteve no Nordvärmland, da quarta divisão sueca, e chegou a Portugal através de um agente que lhe prometeu uma oportunidade. "Aceitei o desafio porque sei que este é um país de futebol. Tenho perfeita noção de que tenho de começar de baixo, mas quero chegar o mais longe possível", revela o médio do terceiro classificado da Divisão de Elite.