Contando apenas as primeiras divisões, há 41 técnicos lusos espalhados por 26 países e em locais improváveis.
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Os últimos meses serviram para o treinador português recuperar o prestígio de outros tempos, globalizando-se se calhar até uma dimensão nunca antes vista. Que isto esteja a acontecer na ressaca de nova conquista europeia de José Mourinho, de mais um brilharete de Abel Ferreira na Taça dos Libertadores ou de um feito inédito de Leonardo Jardim na Liga dos Campeões asiáticos até pode ser uma coincidência, mas, dificilmente, se pode ignorar a possibilidade de causa-efeito. É que, por exemplo e de repente, o Egito voltou a virar-se para os portugueses. Já na Arábia Saudita parece que não querem outra coisa e os Emirados Árabes Unidos para lá vão. Dois dos maiores clubes iranianos também se renderam.
Ao que o JN conseguiu apurar, ao todo são 41 os treinadores portugueses com trabalho em primeiras divisões de todo o Mundo. Estão espalhados por 26 países e representados em quatro continentes (a Oceânia ainda resiste e na Antártida não há futebol porque não há pessoas). O Egito talvez seja o caso mais representativo desta renovação. Não esquecendo que, desde o início do milénio, o país nunca ignorou Portugal como um mercado a explorar, a verdade é que em março não havia nenhum por lá; hoje, são três, depois de Ricardo Soares rumar ao Al Ahly e juntar-se a Jesualdo Ferreira (Zamalek) e Nuno Almeida (Pharco).
Por outro lado, Pedro Caixinha tornou-se no primeiro português a treinar no futebol argentino, enquanto Carlos Carvalhal (Al-Wahda) e Leonardo Jardim (Al-Ahly) recuperaram o português para os bancos no Dubai e em Abu Dhabi. Significativo é o facto de voltar a haver quatro treinadores portugueses em três dos cinco principais campeonatos europeus.
A mão lusitana está espalhada praticamente por todo o Mundo e assim não é de estranhar que se faça sentir até nos sítios mais improváveis e exóticos. Do Bangladesh à Indonésia, das Honduras ao Chipre, do Sudão ao Irão. Na liga iraniana, aliás, dois dos candidatos ao título apostaram em Ricardo Sá Pinto e José Morais; curiosamente, clubes que nunca tiveram alguém de Portugal no banco. Surpreendente é ainda o facto de haver três portugueses na primeira divisão da Lituânia. Também há um na Estónia (Eddie Cardoso), outro na Finlândia (Ricardo Duarte) e havia um na Letónia, mas Fabiano Flora deixou o Spartaks na sexta-feira. Bernardo Tavares e Eduardo Almeida disputam o principal campeonato da Indonésia, enquanto Jorge Paixão prossegue a carreira no Rayon Sports e no futebol ruandês. A pegada é cada vez mais global.
Divisões secundárias começam a ser atrativas
O êxodo é de tal forma significativo que clubes de escalões inferiores começam a virar-se para o mercado português. A Arábia Saudita é o melhor exemplo, já que a época 2022/23 começará com três treinadores lusos no segundo escalão do futebol saudita, já que Carlos Pinto (foto) rumou ao Al-Jabalain, Filipe Gouveia assumiu o comando do Al-Hazm e Jorge Mendonça vai estrear-se como principal ao serviço do Al-Akhdoud. Já Mauro Jerónimo comanda o Bong Pho Hien, da segunda divisão do... Vietname.
Jesus e Abel abrem as portas do Brasileirão
No último par de anos, não há país que mais tenha contribuído para passar a palavra sobre as valias do treinador português. O Brasileirão é a primeira divisão de todo o mundo futebolístico que conta com mais técnicos lusitanos, com Abel Ferreira, Vítor Pereira, Luís Castro e António Oliveira a serem os atuais encarregados de defenderem essa honra. Antes deles, também Jorge Jesus, Jesualdo Ferreira, Ricardo Sá Pinto, Paulo Bento e, mais recentemente, Paulo Sousa, passaram por lá, sendo que é justo dizer que, dificilmente, esta realidade seria possível sem os feitos do primeiro ao serviço do Flamengo.
E se atualmente são quatro os portugueses a quem os presidentes entregam os destinos das respetivas equipas, a verdade é que esse número podia ser maior se outros compatriotas tivessem aceitado alguns convites. João Henriques, Petit, Carlos Carvalhal, André Villas-Boas, Leonardo Jardim ou Paulo Fonseca são alguns desses exemplos. Ao que o JN apurou, outros receberam abordagens de clubes da Serie B brasileira, mas os negócios não se consumaram.
Pedro Emanuel, treinador do Al-Kaleej: "É muito mais atrativo estar na Arábia Saudita do que em Portugal"
O Al Kaleej é o terceiro clube que vai orientar na Arábia Saudita. O que o atrai mais no país e porquê este clube?
Têm capacidade financeira e um campeonato muito competitivo. Nomeadamente nos últimos dois anos, a Arábia Saudita tem cativado muitos bons jogadores e bons treinadores, o que é estimulante. Tivemos outros dois convites, mas escolhemos o Al Kaleej, que acabou de subir e quer estabilizar-se na primeira liga, porque temos a possibilidade de montar uma equipa de raiz e sentimos confiança das pessoas.
No Golfo Pérsico há cada vez mais treinadores portugueses, sendo que o próprio Pedro Emanuel também já esteve nos Emirados Árabes Unidos. Que razões encontra para isso?
Do lado dos clubes, acho que a competência e a facilidade de adaptação do treinador português é essencial para eles nos procurarem. Respeitamos muito a cultura local e temos a capacidade de pôr em prática o nosso conhecimento em pouco tempo. Depois, a capacidade financeira que têm e a capacidade para atrair bons jogadores, é importante para nos convencer.
Desde 2015, só esteve uns meses a trabalhar em Portugal. Voltar será cada vez mais difícil?
Foi uma opção de carreira que tomei. Primeiro, fui para o Chipre para lutar por títulos e depois as coisas foram acontecendo. Estamos sempre abertos, mas entendo que, atualmente, é muito mais atrativo estar na Arábia Saudita do que em Portugal, porque lá há mais argumentos que nos permitem ter uma experiência competitiva melhor. É um país que me respeita e que me dá oportunidades.
Emigrar será cada vez mais o que espera o treinador português?
Não tenho dúvidas. Vamos repetir o caminho da exportação de jogadores. Independentemente de onde seja, o treinador português tem capacidade de adaptação e isso é atrativo.