O sonho comanda a vida, mas quem comanda o sonho somos nós próprios. Pode parecer cliché e, desprovida de contexto, a frase pode nem fazer sentido. Porém, basta conhecer João Correia, atleta adaptado do Centro de Atletismo de Santo Tirso, para passarmos a compreendê-la na perfeição.
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Foi atropelado com dois anos e desde então é refém de uma cadeira de rodas. Não sabe viver de outra forma, é certo, uma vez que apenas deu os primeiros passos enquanto bebé, mas João tem uma certeza: "Não é uma cadeira de rodas que vai fazer de mim uma pessoa diferente", disse.
Quebrar padrões de preconceito e ultrapassar obstáculos fazem parte dos seus propósitos de vida. Pratica desporto desde que se lembra de ser gente e começou o percurso pelo basquetebol. "Antigamente não havia grande opção, hoje em dia, felizmente, já existem muitos desportos adaptados", contou.
Por volta dos 10 anos, surgiu o interesse pelo atletismo, através de uma meia maratona organizada em Lisboa em que participaram atletas em cadeira de rodas. A partir desse dia foi um ídolo que lhe deu asas para voar.
"Tive contacto com um atleta muito famoso que veio ter comigo e me pediu para me sentar na sua cadeira. Eu estranhei porque as cadeiras são feitas à medida, mas eu encaixei nela na perfeição. Mais tarde, ele enviou-me uma que já não usava e foi assim que me lancei na modalidade", contou João Correia ao JN.
Para João, ser paratleta em Portugal é um verdadeiro desafio, "as cadeiras são muito caras" e a "logística envolvente é complexa", algo que foi intensificado com a pandemia. Existem muitas barreiras diárias, principalmente as arquitetónicas, mas aquelas de que o atleta mais se queixa são as sociais. João Correia foi o primeiro português a ganhar uma medalha internacional para o atletismo em cadeira de rodas e já está qualificado para Tóquio.