Sensibilização para a esclerose múltipla levou Filipe Gaivão a pedalar 2400 quilómetros
Corpo do artigo
Foram 19 dias e 2400 quilómetros por uma causa. O ciclista amador Filipe Gaivão fez-se à estrada entre 10 e 29 de julho para alertar a sociedade para a esclerose múltipla, uma doença que considera silenciosa e sobre a qual há ainda pouca informação. De Bruxelas a Lisboa, o português de 57 anos considera que sai desta experiência mais rico pelas pessoas que encontrou. Cumprida a distância, pensa agora em descansar e abraçar o neto, que nasceu duas semanas antes desta aventura.
"As grandes dificuldades foram a distância e a solidão. São muitas horas em cima de uma bicicleta e sozinho", aponta o ciclista, recordando que pedalava durante sete a oito horas por dia. "Variou muito consoante o tipo de terreno e inclinação. Oito horas por dia em cima da bicicleta é muito difícil", destaca.
Durante 14 dias, essa foi a rotina de Filipe, tendo sido acompanhado, nos últimos cinco dias desta jornada solidária, por amigos que se lhe juntaram de bicicleta. "Há sempre uma conversa, sempre uma graça. Ajuda a fazer o caminho", salienta.
Para combater a solidão, Filipe tentava ocupar a cabeça. "Como já faço isto há seis anos, já encontro algumas técnicas, como conversar com algum ciclista que está a passar ou, então, parar para comprar água e ficar a falar com as pessoas", revela o ciclista ao JN.
Filipe Gaivão escolhe todos os anos uma causa para pedalar. A ideia de pedalar pela esclerose múltipla surgiu há dois anos, quando a mãe de uma doente lhe explicou os problemas que esta atravessava. "É uma doença muito silenciosa e a informação não é muita. É difícil nas empresas facilitar a vida a quem tem esta doença", exclama o veterano ciclista.
200 km por uma foto
A história mais emocionante de Filipe Gaivão nesta jornada aconteceu em Saint-Denis, nos arredores de Paris. Uma paciente luso-francesa, ao saber que havia uma pessoa a pedalar pela esclerose múltipla quis ir conhecê-lo, mas no dia em que este chegou a França a jovem foi internada. "Quando cheguei ao fim dessa etapa, tinha os pais dela à minha espera. Fizeram 200 quilómetros para tirar uma fotografia comigo, por causa da filha", lembra com emoção.
A nível de relações pessoais, Filipe Gaivão aponta para a receção e para as pessoas que conheceu nas três cidades espanholas por onde passou (Burgos, Valladolid e Salamanca). Pessoas que, conta, o fariam voltar a fazer a viagem.
Aventuras que já o levaram até ao Papa Francisco
Foi a partir de 2013 que Filipe Gaivão decidiu dar visibilidade a causas através das duas rodas. A Liga Portuguesa contra o Cancro foi a primeira associação a levar o ciclista a fazer centenas de quilómetros, tendo, a partir daí, escolhido todos os anos um motivo.
Atualmente, conta, já são as causas que lhe batem à porta, em vez de ser ele a procurá-las. "Ao princípio, a minha família não entendia muito bem porque fazia isto. Mas agora percebem a força e o dinamismo destas ações e dão-me todo o apoio para continuar", destaca o ciclista.
O pouco tempo passado com o neto, que nasceu duas semanas antes de começar o percurso de Bruxelas a Lisboa pela esclerose múltipla, foi um dos grandes sacrifícios que teve de fazer. "Agora, só penso em estar com ele", atira.
As causas de Filipe Gaivão levaram-no já a um encontro com o Papa Francisco. Foi em 2017, quando o português decidiu pedalar de Lisboa para o Vaticano para sensibilizar as pessoas para o desperdício alimentar.
"Foi uma honra muito grande ter podido encontrar-me com o Papa Francisco, que ressalvou Portugal como um dos bons exemplos no combate ao desperdício alimentar", recorda Filipe Gaivão.
Pela reflorestação
Em 2018, os incêndios do ano anterior que afetaram Portugal levaram-no a percorrer as áreas mais afetadas, numa sensibilização pela reflorestação do território.
Para o próximo ano, ainda não decidiu o que o vai levar a fazer-se à estrada, mas para 2021 já tem o objetivo definido. "Vou voltar a pedalar pela esclerose múltipla. Desta vez, vou fazer uma volta ibérica, mas ainda não sei em que moldes", revela.