Peter Molloy reuniu dezenas de depoimentos de pessoas que viveram atrás da Cortina de Ferro.
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Em 1989, acabou um estilo de vida para milhares de pessoas dos países da Cortina de Ferro. O Muro de Berlim foi derrubado, o comunismo soçobrou na Europa de Leste e a Guerra Fria terminou. Mas como viviam na realidade os europeus de Leste, que de facto se encontravam aprisionados no bloco oriental? Após o fim da Guerra Fria, uns recordaram as suas vidas como "perfeitamente normais", outros manifestaram nostalgia em relação à segurança e à indiscutibilidade da existência sob o regime comunista e um número ainda maior afirmou sentir a falta da camaradagem ou dos privilégios ligados ao poder. Este livro reúne testemunhos pessoais únicos de pessoas que viveram na Alemanha Oriental, na Checoslováquia e na Roménia comunistas. As suas recordações evocam os humores, as preocupações e as experiências de um mundo comunista que se perdeu.
A ideologia oficial do comunismo nesta Europa de Leste estalinizada foi o marxismo-leninismo, mistura de teorias de Marx, Engels, Lenine e do próprio Estaline. Segundo a teoria, quando o povo tinha uma "falsa consciência", situação em não conseguia avaliar o que era melhor para ele, cabia ao partido adoptar um "papel de liderança". Assim, o partido tinha de estar na "vanguarda", agindo em prol dos verdadeiros interesses do povo, mesmo que fosse contrária à vontade do povo, o que implicava que procurasse controlar todos os aspectos da vida dos cidadãos. No entanto, o poder do partido fomentou a paranóia. Como todos os regimes comunistas da Europa de Leste eram impostos a partir do exterior e do interior, sentiram-se sempre inseguros. Nunca contaram com o apoio da maioria dos eleitores, mesmo nos períodos mais auspiciosos. Por isso é que os estados comunistas foram também estados policiais.
A República Democrática Alemã (RDA ou, em alemão, Deutsche Demokratische Republik) foi criada oficialmente em 7 de Outubro de 1949. Praticamente durante toda a sua existência, foi dominada por um único partido, o Partido da Unidade Socialista da Alemanha (SED), talhado segundo o modelo soviético. Tanto o partido como o país tiveram dois líderes: Walter Ulbricht e, a partir de 1971, Erich Honecker. De todas as nações do leste europeu, foi a que mais se definiu pela sua ideologia. Considerava-se socialista, antifascista e moralmente superior ao seu parceiro ocidental. A posição que ocupava como posto avançado ocidental do império soviético, na linha da frente da Guerra Fria, numa Alemanha dividida, também a tornou única entre os estados comunistas da Europa de Leste.